Hoje é um dia dedicado ao trabalhador. Releio trechos da célebre Encíclica Laborem Exercens, do Papa João Paulo II (1981), sobre o trabalho humano. O trecho inicial da encíclica para a sua reflexão neste 1º de maio:

“Veneráveis irmãos e dilectos filhos e filhas:
Saúde e bênção Apostólica!

É MEDIANTE O TRABALHO que o homem deve procurar-se o pão quotidiano e contribuir para o progresso contínuo das ciências e da técnica, e sobretudo para a incessante elevação cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade com os próprios irmãos. E com a palavra trabalho é indicada toda a actividade realizada pelo mesmo homem, tanto manual como intelectual, independentemente das suas características e das circunstâncias, quer dizer toda a actividade humana que se pode e deve reconhecer como trabalho, no meio de toda aquela riqueza de actividades para as quais o homem tem capacidade e está predisposto pela própria natureza, em virtude da sua humanidade. Feito à imagem e semelhança do mesmo Deus no universo visível e nele estabelecido para que dominasse a terra, o homem, por isso mesmo, desde o princípio é chamado ao trabalho. O trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas, cuja actividade, relacionada com a manutenção da própria vida, não se pode chamar trabalho; somente o homem tem capacidade para o trabalho e somente o homem o realiza preenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existência sobre a terra. Assim, o trabalho comporta em si uma marca particular do homem e da humanidade, a marca de uma pessoa que opera numa comunidade de pessoas; e uma tal marca determina a qualificação interior do mesmo trabalho e, em certo sentido, constitui a sua própria natureza.”

Gente… aí vai um trecho do livro novo que estou escrevendo e devo lançar em agosto ou setembro:

O livro A Arte da Guerra foi escrito há mais de 2.500 anos pelo general chinês Sun Tzu. Este clássico, utilizado até hoje pelos exércitos em todo o mundo, está longe de ser apenas um manual que ensina táticas de guerrilha. Seus saberes mostram como administrar a “nossa guerra de todos os dias”. De alguma maneira somos soldados no campo de batalha. Precisamos entender “a arte da guerra”. Somente assim será possível evitar os conflitos antes mesmo que eles surjam. Neste sentido não seria nada absurdo mudar o título deste livro para A arte da paz.

Sabemos que uma das sete virtudes do líder amoroso é a paciência, que poderia ser definida como ciência da paz. Deste modo, todo líder paciente é, na verdade, um grande guerreiro. O inverso também é verdade. Todo grande lutador é uma pessoa extremamente paciente. Isso aparece bem em algumas artes marciais, em que para vencer é necessário observar à exaustão os movimentos do adversário e desarmá-lo antes mesmo que ataque. Pode parecer contraditório, mas estas são lutas de paz. A violência é reduzida ao mínimo exigido pela legítima defesa. É disto que trata a arte da guerra: legítima defesa.

O primeiro grande segredo é observar os movimentos do adversário. Não foi assim que o pequeno Davi venceu o gigante Golias? Não devemos economizar tempo nesta tarefa. Faça todos os cálculos necessários. Pessoas são um poço de complexidade. Nem sempre aquilo que aparece na primeira impressão é a realidade mais profunda. Líderes amorosos são comunicativos, o que significa que são hábeis em formular perguntas, mais do que em arriscar precipitadamente uma resposta. Uma pergunta sempre é um caminho de paz. Se você observar bem os movimentos do seu adversário, poderá “vencer sem mesmo ter que lutar”. Esta é a vitória dos grandes líderes.

Um segundo exercício é o desapego emocional diante da realidade observada. Os afetos costumam nos deixar cegos como quem olha para o sol. Isso não significa ser frio ou fugir dos relacionamentos. A luz solar é essencial, porém, expor-se demais pode levar a perigosas queimaduras. Quando falamos em desapego emocional estamos falando de ponderação. Por razões afetivas podemos cair em debates inúteis ou em conflitos desnecessários. A imparcialidade é fundamental para que a nossa reação seja eficaz diante do perigo. Lembre-se que seu objetivo não é destruir o adversário, mas apenas vencer a batalha. Vencer sem destruir é possível apenas para os líderes de verdade. Os vingativos não entendem esta lógica. Acabam entrando no círculo vicioso da violência. É ruim para todos! Os amorosos entendem a lógica do perdão. Promovem o círculo virtuoso da paz. É bom para todos!

A terceira dica é a flexibilidade. Pessoas rígidas não são bons guerreiros. A agilidade é fundamental para que o soldado possa permanecer vivo até o final da batalha. Isto é muito semelhante à virtude da resiliência, que descrevemos como uma das habilidades do líder amoroso. Ele é flexível como uma ponte. Por isso, suporta pesos maiores sem quebrar. Por falta de flexibilidade o Titanic afundou ao chocar-se com um iceberg. Podemos ser grandes, mas isso não impedirá nossa derrota se formos rígidos demais em nossas idéias, emoções, visão e paradigmas. Ser flexível é, por exemplo, elogiar alguém que acabou de ser seu crítico. Não seria este o conselho de Jesus ao dizer: “amai os vossos inimigos; rezai pelos que vos perseguem” (Lc 6,27)?

Outra dica é exercitar a síntese entre ternura e vigor. Podemos ver isso estampado com genialidade na figura do Apóstolo Pedro, na pintura de Leonardo da Vinci. Fala com ternura aos ouvidos de João e na outra mão segura uma faca, pronto para o ataque. Esta síntese somente é possível para as pessoas benevolentes, capazes de viver a virtude da compaixão. Os malvados acabam sendo vítimas de sua própria raiva e cobiça. O perdão é a virtude dos fortes. Significa a capacidade de não permitir que o mal do outro habite em você. Outra síntese muito próxima desta é entre humildade e coragem. Os covardes e orgulhosos são vítimas de sua presunção. O apóstolo Paulo exprimiu esta síntese quando disse “quando sou fraco, então é que sou forte”. Unir força e fraqueza é fundamental para chegar às grades conquistas. Sua maior força pode estar justamente naquilo que você julga ser a sua principal fraqueza.

A arte da guerra ensina ainda a esmerar-se em um aguçado senso de previsão. Após observar, somos capazes de prever qual será o próximo movimento do inimigo. Somente assim poderemos surpreendê-lo, imobilizá-lo e vencer com facilidade. A batalha é vencida mais pela razão do que pela força.

Uma das principais lições da arte da guerra é que devemos observar as pessoas em seu ambiente. Mudamos com a mudança de contexto. Uma coisa é combater no terreno do inimigo. Outra coisa é atraí-lo para o seu terreno.

A arte da guerra fala também do valor dos espiões para conhecer melhor o adversário. Esta tática pode não parecer muito leal. Porém, nem sempre somos capazes sozinhos de conhecer as pessoas difíceis com quem convivemos. Sempre é bom perguntar como outros estão vendo as atitudes deste ou daquele. Pode ser que nossa visão seja tragicamente distorcida.

Finalmente o general Sun Tzu ensina que para exercitar a arte da guerra é preciso ponderação. Aristóteles chamou isso de equilíbrio e Santo Tomás incluiu esta atitude na virtude cardeal da temperança. A raiz é a mesma. Exageros levam ao fracasso. Não será com longos e intermináveis discursos ou com potentes canhões que você vencerá os conflitos. A paz é alcançada por ponderados diálogos diplomáticos. Como disse o saudoso poeta do protesto, Geraldo Vandré: é preciso “acreditar nas flores, vencendo os canhões”.

Aliás, isto me lembra o clássico “Tistu, o menino do dedo verde”. Lembra? Ele tinha um dom fantástico. Onde seu dedo tocava, nasciam flores. Acha bom? O menino era traumatizado por causa disso. Até o dia em que no meio de uma batalha, percebeu que tocando nos canhões saíam flores ao invés de bombas. A partir deste fato a cidade que fabricava canhões passa a cultivar flores e muda até de nome: Miraflores. A história dá pano pra manga, mas no final descobrem: “Tistu era um anjo”.