Porta-voz vaticano faz um balanço da viagem a Portugal

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 18 de maio de 2010 (ZENIT.org). – Com sua viagem a Portugal, Bento XVI ensinou a Igreja a avaliar as dificuldades à luz da mensagem de Maria em Fátima, disse o porta-voz vaticano.

Ao fazer um balanço da recente visita apostólica a Portugal, realizada entre os dias 11 e 14 de maio, o Pe. Federico Lombardi SJ, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, explicou como interpretar as palavras do Papa sobre a profecia de Fátima – que, segundo ele, ainda não foi concluída.

A intenção do Papa foi dizer que “não devemos esperar nada novo de Fátima e do que foi dito pelos pastorinhos, pelas visões e pelas profecias, no que se refere ao anúncio de eventos concretos nos próximos anos ou nos próximos séculos. Isto não está em questão”, sublinhou o Pe. Lombardi aos microfones da Rádio Vaticano.

“A profecia de Fátima, na perspectiva do Papa, que deve também ser a nossa perspectiva” – continuou -, significa ter aprendido a ler nos acontecimentos da nossa história o caminho da Igreja, com suas dificuldades e suas esperanças na fé de que tudo está sob o olhar de Deus, que acompanha a Igreja e a humanidade em seu caminho, age com sua graça naqueles que se dirigem a Ele, e nos convida a assumirmos um compromisso com esta história, começando pela nossa conversão, para agir segundo os critérios do Evangelho.”

“A profecia, entendida como leitura da realidade e história humanas, característica de Fátima, ensinou-nos a olhar não apenas nossa vida pessoal, mas também a vida da Igreja e de toda a humanidade sob a luz de Deus e de seu amor, com o compromisso de nos convertermos, tornando-nos testemunhas cada vez mais fiéis do amor de Deus no mundo em que vivemos e na história.”

“Esta é uma mensagem profética que continua sendo muito atual, e assim será no futuro”, opina o porta-voz vaticano.

A pior perseguição advém do pecado

Uma das frases do Papa que marcou esta viagem foi sua declaração, dirigida aos jornalistas durante o voo com destino a Lisboa, quando assegurou que a maior perseguição que afeta a Igreja não provém de inimigos externos, mas do pecado do interior da Igreja.

“Permitiu compreender que os sofrimentos, as dificuldades que a Igreja encontra, incluindo aqueles referentes à situação vivida nos últimos meses ou anos (…) em decorrência dos pecados cometidos por seus membros – os abusos sexuais – são algo que a Igreja carrega dentro de si: carrega consigo, portanto, também a realidade do pecado. E por esta razão, a mensagem de Fátima é sumamente atual e importante, pois nos fala de conversão, nos fala de penitência.”

“Assim, no contexto de uma leitura ampla do significado dos acontecimentos de Fátima, do ponto de vista espiritual, não devemos apenas pensar nas perseguições que partem de fora, que certamente têm tido um grande papel nos sofrimentos e nas dificuldades que assolam a Igreja (…). O Papa observou que os sofrimentos e as dificuldades da Igreja provêm também do nosso interior, isto é, do fato de sermos também pecadores, motivo pelo qual a mensagem de conversão e penitência se reveste de especial importância.”

Para o Pe. Lombardi, o balanço desta 15ª viagem apostólica internacional – a primeira a Portugal – “é superior às expectativas”.

“Podemos dizer que foi uma viajem maravilhosa. A acolhida foi enorme, calorosa, superou as expectativas dos organizadores. O Papa ficou muito impactado, muito feliz e se sentiu extremamente apoiado”, concluiu.

GOA, segunda-feira, 17 de maio de 2010 (ZENIT.org). – Um sacerdote morreu na praia de Galgibaga, Índia, tentando salvar três jovens do afogamento, na semana passada.

O Pe. Thomas Remedios Fernandes, de 37 anos, vigário da paróquia de Jesus, Maria e José, estava com um grupo da paróquia que comemorava um dia de convivência na praia, segundo informou a agênciaCathnewsindia. Não hesitou em lançar-se ao mar revolto para socorrer três jovens que gritavam por socorro.

O presbítero conseguiu salvar os três – uma jovem e dois rapazes de idades entre 17 e 19 anos -, mas enquanto salvava o terceiro, sofreu um ataque cardíaco e não resistiu.

O ato comoveu as mais de 60 pessoas que testemunhavam o resgate.

O sacerdote recebeu assistência no local e foi levado ao hospital, onde os médicos constataram sua morte. Os três jovens resgatados receberam os primeiros-socorros e passam bem.

Na comunidade católica de Goa vive-se a perda do sacerdote com dor, mas também com admiração e esperança.

“Foi um pastor que deu a vida por suas ovelhas – comenta-se. Neste Ano Sacerdotal, é um exemplo e testemunho para todos os sacerdotes.”

PERGUNTA: SERÁ QUE A IMPRENSA INTERNACIONAL VAI REPERCUTIR?

Entrevista

Dr. Pe. João Carlos Almeida

Padre Joãozinho, scj

Mestre em Teologia Sistemática pela FAJE – BH, doutor em Teologia pela Faculdade Assunção-SP, doutor em Educação pelas USP, e doutor em Espiritualidade pela Gregoriana (Roma). Professor de Pneumatologia na Faculdade Dehoniana, em Taubaté, SP, aonde exerce o cargo de Diretor Geral.

Por que o nome Renovação?

A Renovação Carismática Católica, como é conhecida no Brasil, pretende um retorno às fontes da fé cristã, conforme sugeriu o Concílio Vaticano II. Uma das características do cristianismo dos primórdios era uma intensa vida carismática. A presença e ação do Espírito Santo era vivida como estatuto fundamental da identidade cristã. O evento de Pentecostes foi configurativo para Igreja da era apostólica. Mesmo após três anos de catequese com Jesus e apesar de terem vivido a experiência da ressurreição, ainda lhes faltava um impulso interior que os levasse enfrentar todos os desafios, inclusive o do martírio. Esta experiência pentecostal é vivida de modo “renovado” na RCC. Esta é sua identidade principal: ser memória de pentecostes para a Igreja e para o mundo.

Podemos dizer que o movimento representa para os seguidores, um novo pentecostes?

Exatamente. Este foi um dos pedidos do Papa João XXIII ao anunciar a abertura do Concílio. Aliás, ele pediu que a Igreja vivesse um novo pentecostes e que fosse uma “Igreja dos pobres”. Poderíamos interpretar que as duas profecias do papa da bondade se realizaram. O novo pentecostes acontece intensamente nos nossos dias e é cuidadosamente cultivado na RCC. A Igreja dos pobres recebeu seu selo latino-americano a partir da Conferência de Medellín e, principalmente, de Puebla, em que ficou clássica a “opção preferencial pelos pobres”. As Comunidades Eclesiais de Base se tornaram um emblema desta cultura da solidariedade para com os pobres. A Teologia da Libertação procurou reler os velhos conteúdos da fé, a partir desta solidariedade com os excluídos. Temos aqui duas correntes carismáticas que formam as feições da Igreja no Brasil nestes últimos quarenta anos: a RCC e as CEBs. Ambas foram cuidadosamente reafirmadas na sua identidade na recente Conferência de Aparecida.

No decorrer da história o sr observa desvios de alguns setores da proposta original da RCC?

Assim como algumas imprecisões da Teologia da Libertação foram indicadas pela Santa Sé, na década de 1980 (e teólogos como Gustavo Gutiérrez tiveram a sabedoria de tornar seu discurso mais preciso), a RCC também tem seus limites. A CNBB procurou indicar alguns deles em um documento normativo de 1994. Os bispos, através do seu Conselho Permanente, reconhecem a identidade e eclesialidade da RCC. Reconhecem ainda os valores para a vida da Igreja como um todo. Reconhecem ainda a liberdade associativa garantida pelo Direito Canônico. Porém, pedem à RCC que também reconheça os valores dos outros grupos eclesiais. Se toda a Igreja aderisse ao estilo da RCC, certamente haveria um empobrecimento. A RCC é um modo de ser Igreja. Não posso concordar com o que já ouvi um pregador carismático dizer: que a RCC deverá se tornar o novo modo de a Igreja ser. Isto é presunção e não respeita a pluralidade típica do Corpo Místico de Cristo. Outro limite é a falta de mais teólogos na RCC. Talvez isso ajudasse a corrigir alguns desvios que acontecem em alguns lugares, como uma excessiva valorização do demônio ou a perda do foco central da fé colocando no centro carismas extraordinários ou “modas” passageiras, como é o caso do “Repouso no Espírito”. Em alguns lugares observa-se também a carência de formação litúrgica. Sobre a crítica que a RCC recebe com freqüência, de que não tem obras sociais, pessoalmente fiz uma pesquisa nacional e fiquei muito admirado com a quantidade de obras de promoção humana sob responsabilidade dos carismáticos. Hoje percebo um crescente envolvimento social dos grupos de oração e da RCC Nacional. O “Ministério de Promoção Humana” atua especificamente neste sentido.

O que se pode entender por ação do Espírito Santo na ótica da Renovação?

A RCC vive a experiência da presença e ação do Espírito na Igreja e em cada cristão. Esta presença não é teórica. Ela habilita por meio dos dons para anunciar a Palavra com poder. O anúncio do kerigma é uma das grandes linhas de ação da RCC. Os carismas dados pelo Espírito são como que ferramentas que tornam possível esta obra para além da pura eloqüência. O Espírito garante uma nova “unção”. Isto se verifica também na oração pessoal e comunitária. Por isso, lá onde a RCC preserva cuidadosamente sua identidade, crescem e se consolidam os Grupos de Oração.

Existe quem afirma que a RCC acaba exercendo uma espécie de monopólio do Espírito Santo. O que o sr. pensa a respeito??

Isto não é possível. O próprio Jesus afirma que o Espírito sopra onde quer (cf. Jo 3,8). Mas uma coisa é certa. Este mesmo Espírito distribui uma diversidade de dons na Igreja. Cada congregação religiosa, por exemplo, tem seu carisma próprio. Nem por isso os jesuítas detém o monopólio da obediência ao Santo Padre, nem os dehonianos são proprietários do Sagrado Coração de Jesus. As congregações, os movimentos e aí incluo a RCC, são memória de um aspecto particular. A Renovação nos lembra diariamente que somos uma Igreja que nasceu do fogo de pentecostes.

A dinâmica da RCC gira em torno dos dons carismáticos citados por São Paulo. Que finalidade tem esses dons?

Os carismas são dados pára a edificação da comunidade. A maioria deles são ordinários e geram a força necessário para que se exerçam os ministérios. Mas não podemos negar que existem alguns carismas também particulares, ou extraordinários. Não são vividos por todo batizado nem são essenciais à salvação. É essencial ter fé, esperança e caridade, que são virtudes teologais. Não é essencial orar ou profetizar em línguas ou praticar a “palavra de ciência” ou mesmo o dom do conselho. O dom de cura existe e é fartamente atestado por testemunhos, mas não é essencial à salvação. Sempre me pergunto se aqueles nove leprosos do evangelho que não voltaram para agradecer foram para o céu.

Mas, atualmente, eles estariam sendo usados como fim ou como meios?

São ferramentas. São garfo e faca. É possível que alguém os utilize como emblema, ou mesmo como finalidade. É absurdo, pois não se comem os garfos. Outra coisa é dizer que a prática dos carismas, ordinários e extraordinários, caracterizam a RCC. Isto é normal. Precisamos respeitar a identidade. Não se pode obrigado toda uma comunidade a rezar em línguas na missa das 9h. Também não se pode colocar regras ou limites para o Espírito. O grande teólogo Yves Congar chegou a falar de um “setor livre”; um espaço eclesial onde o Espírito age independente das decisões da Igreja. Ele não pede ao bispo para suscitar uma nova congregação. Depois a Igreja vai discernir, mas a ação do Espírito é “absolutamente” livre.

Qual tem sido a principal contribuição das comunidades de vida, entre elas, a Canção Nova, que é a maior delas?

As Novas Comunidades são um ramo particular dentro da ampla espiritualidade carismática. Bebem desta fonte, vivem esta dinâmica pentecostal, porém cada uma delas tem seu carisma próprio e suas estruturas. Além da Canção Nova gostaria de citar a Comunidade Shalom, de Fortaleza, que possuem toda uma caminhada de reconhecimento pontifício. Não existe um lugar totalmente apropriado para esta novidade que reúne em seu seio dos três estados de vida. Tudo isso é muito recente. Um dos nossos professores, Pe. Wagner Ferreira da Silva, formador geral da Canção Nova, recentemente defendeu seu doutorado em Roma sobre este tema. Como podemos observar o assunto é complexo e representa uma novidade do Espírito para a Igreja dos nossos dias. Estas comunidades têm ajudado muitos a reatarem seu elo de comunhão com a Igreja. Já não são católicos de qualquer jeito. São católicos praticantes. Há também uma grande contribuição no que se refere aos Meios de Comunicação Social. A Canção Nova é um exemplo vivo disso. Recentemente estive em Portugal e fiquei impressionado com o modo como as pessoas acompanham a Canção Nova por rádio, TV e Internet.

Como sr. analisa a amplitude que a RCC alcançou na Igreja do Brasil?

Diria que a “cultura pentecostal” estava na “Terra de Santa Cruz” como brasa sob as cinzas. A pentecostalidade é uma marca característica do catolicismo popular. Como exemplo, basta citar a Festa do Divino. Quem é este “Divino”? É o Espírito Santo. Quando todos imaginavam que o Catolicismo Popular estava morto ele ressurgiu das cinzas soba diversas formas pentecostais… e não somente católicas. Mas não vamos canonizar apressadamente a cultura pentecostal popular. Há muita superstição e sincretismo. É preciso evangelizar esta cultura popular.

É colocada a existência de um antagonismo entre RCC e Teologia da Libertação. Porque isso ocorre, se ambos cultivam a oração e o trabalho social?

Existe uma diferença entre as duas formas de ser Igreja. Não diria antagonismo. Algumas linhas jornalísticas que primam pela exagerada simplificação costumam insistir neste binômio RCC x TdL. Acho simples demais. Não dá conta da realidade, que é mais complexa.

Como o sr. avalia a resistência e até a oposição de alguns setores da Igreja à RCC?

É saudável para a RCC. Vejo que onde ela recebe críticas, cresce mais consistente. Onde a RCC se torna a referência principal para a Igreja local, alguns problemas logo começam a aparecer. Mas não há dúvida que é doloroso ouvir críticas injustas, infundadas e que são pronunciadas em tom de sarcasmo. Isto não é cristão.

O Papa João Paulo II incentivou movimentos da Igreja como a RCC. Com o fim do pontificado dele como sr. vê a postura de Bento XVI em relação à Renovação?

Tive a oportunidade de participar da recente visita de Bento XVI a Portugal. No dia 13 de maio ele falou brevemente aos bispos daquele país. Um breve trecho de sua fala pode nos dar a idéia clara de como o atual papa se colocar diante do papel dos movimentos na Igreja. Permito-me citar literalmente, pois estas palavras respondem com muita precisão a pergunta feita: “ Confesso-vos a agradável surpresa que tive ao contactar com os movimentos e novas comunidades eclesiais. Observando-os, tive a alegria e a graça de ver como, num momento de fadiga da Igreja, num momento em que se falava de ‘inverno da Igreja’, o Espírito Santo criava uma nova primavera, fazendo despertar nos jovens e adultos a alegria de serem cristãos, de viverem na Igreja que é o Corpo vivo de Cristo. Graças aos carismas, a radicalidade do Evangelho, o conteúdo objetivo da fé, o fluxo vivo da sua tradição comunicam-se persuasivamente e são acolhidos como experiência pessoal, como adesão da liberdade ao evento presente de Cristo. Condição necessária, naturalmente, é que estas novas realidades queiram viver na Igreja comum, embora com espaços de algum modo reservados para a sua vida, de maneira que esta se torne depois fecunda para todos os outros. Os portadores de um carisma particular devem sentir-se fundamentalmente responsáveis pela comunhão, pela fé comum da Igreja e devem submeter-se à guia dos Pastores. São estes que devem garantir a eclesialidade dos movimentos. Os Pastores não são apenas pessoas que ocupam um cargo, mas eles próprios são carismáticos, são responsáveis pela abertura da Igreja à ação do Espírito Santo. Nós, Bispos, no sacramento, somos ungidos pelo Espírito Santo e, por conseguinte, o sacramento garante-nos também a abertura aos seus dons. Assim, por um lado, devemos sentir a responsabilidade de aceitar estes impulsos que são dons para a Igreja e lhe dão nova vitalidade, mas, por outro, devemos também ajudar os movimentos a encontrarem a estrada justa, com correções feitas com compreensão – aquela compreensão espiritual e humana que sabe unir guia, gratidão e uma certa abertura e disponibilidade para aceitar aprender.”

Em geral as conferências do Santo Padre nestes dias de visita a portugal duraram não mais do que 13 minutos. Uma das mais densas e marcantes foi, com certeza, a alocução aos bispos de Portugal na tarde do dia 13 de maio. Tive a oportunidade de ouvir tudo ao vivo pela rádio. Ele falava em tom coloquial, apesar de que cada palavra tinha um peso. Ele sabia que estava no coração de sua missão de confirmar os bispos na fé e no pastoreio. A certa altura Bento XVI fez referência a uma frase sem autor, como que algo que se ouve com frequencia por aí:

_ “Poderia alguém dizer: «É certo que a Igreja tem necessidade de grandes correntes, movimentos e testemunhos de santidade…, mas não os há»!”

Os dois parágrafos que se seguiram a esta frase são um testamento sintético de Bento XVI a respeito dos Movimentos Eclesiais. Quem participa, por exemplo, da RCC terá aqui um referencial para refletir sobre sua identidade e eclesialidade.

A palavras do Papa:

“A propósito, confesso-vos a agradável surpresa que tive ao contactar com os movimentos e novas comunidades eclesiais. Observando-os, tive a alegria e a graça de ver como, num momento de fadiga da Igreja, num momento em que se falava de «inverno da Igreja», o Espírito Santo criava uma nova primavera, fazendo despertar nos jovens e adultos a alegria de serem cristãos, de viverem na Igreja que é o Corpo vivo de Cristo. Graças aos carismas, a radicalidade do Evangelho, o conteúdo objectivo da fé, o fluxo vivo da sua tradição comunicam-se persuasivamente e são acolhidos como experiência pessoal, como adesão da liberdade ao evento presente de Cristo.

Condição necessária, naturalmente, é que estas novas realidades queiram viver na Igreja comum, embora com espaços de algum modo reservados para a sua vida, de maneira que esta se torne depois fecunda para todos os outros. Os portadores de um carisma particular devem sentir-se fundamentalmente responsáveis pela comunhão, pela fé comum da Igreja e devem submeter-se à guia dos Pastores. São estes que devem garantir a eclesialidade dos movimentos. Os Pastores não são apenas pessoas que ocupam um cargo, mas eles próprios são carismáticos, são responsáveis pela abertura da Igreja à acção do Espírito Santo. Nós, Bispos, no sacramento, somos ungidos pelo Espírito Santo e, por conseguinte, o sacramento garante-nos também a abertura aos seus dons. Assim, por um lado, devemos sentir a responsabilidade de aceitar estes impulsos que são dons para a Igreja e lhe dão nova vitalidade, mas, por outro, devemos também ajudar os movimentos a encontrarem a estrada justa, com correcções feitas com compreensão – aquela compreensão espiritual e humana que sabe unir guia, gratidão e uma certa abertura e disponibilidade para aceitar aprender. Iniciai ou confirmai nisto mesmo os presbíteros.”

Fiz questão de ressaltar a frase “graças aos carismas”, que do meu ponto de vista é o eixo do texto. O papa afirma que o Espírito Santo continua a suscitar na Igreja uma multiplicidade de carismas que tornam possível aquecer este inverno. É claro que isto não é exclusividade da RCC. Bento XVI faz questão de lembrar que os próprios bispos são carismáticos. Infelizmente temos a capacidade de sufocar este fogo em nossa vida. Portanto é preciso ouvir novamente o sempre atual conselho de Paulo a  Timóteo: “reinflama o carisma de Deus que está em ti” (2Tm 1,6).

Foram dias vividos intensamente e sem acesso a Internet. Já relatei a chegada a portugal no dia 12 e presença em Fátima, junto com o Papa Bento XVI. O dia 13 de maio foi intensamente vivido na Cova da Iria. No próprio dia 13 rumei com Pe. José António, meu cordial anfitrião, para o norte de Portugal, diocese de Braga. No dia 14 o Papa celebrou no porto. Não participei desta celebração. Pe. José António me ofereceu uma peregrinação a Santiago de Compostela, que não fica distante de Braga. Foram momentos inesquecíveis. Ainda vou postar fotos e um vídeo muito interessante de um turíbulo gigante que eles utilizam no final da missa. Está aberto o ano santo compostelano. No mesmo dia fomos para a cidade de Guimarães, aonde aconteceria nos dois dias seguintes a Assembleia Diocesana do Renovamento Carismático Católico, como dizem por aqui. Cerca de 400 pessoas passaram por lá nestes dois dias. O tema era: Vós sou um sacerdócio régio, uma nação santa. A visita do papa deu relevância e conteúdo especial para este encontro. Agora já estou no aeroporto do Porto esperando meu voo para Lisboa e de lá para o Brasil… com saudade, muita saudade (do Brasil e também de Portugal).

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA O 44º DIA MUNDIAL
DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

«O sacerdote e a pastoral no mundo digital:
os novos media ao serviço da Palavra»

[Domingo,16 de Maio de 2010]

 

 

Queridos irmãos e irmãs!

O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais «O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra» insere-se perfeitamente no trajecto do Ano Sacerdotal e traz à ribalta a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, que oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os meios modernos de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contacto com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.

A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade e beleza da missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo que afirma o apóstolo Paulo: «Na verdade, a Escritura diz: “Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”. […] Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se não forem enviados?» (Rm 10,11.13-15).

Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. De facto, pondo à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: «Ai de mim se não anunciar o Evangelho!» (1 Cor 9,16). Por conseguinte, com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz. A este respeito, o sacerdote acaba por encontrar-se como que no limiar de uma «história nova», porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da Palavra.

Contudo, a divulgação dos «multimédia» e o diversificado «espectro de funções» da própria comunicação podem comportar o risco de uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e de considerar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas «vozes» que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese.

Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios – adquirido já no período de formação – com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da «rede».

Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e actual. De facto, a pastoral no mundo digital há-de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que «Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros» [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: «L’Osservatore Romano» (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].

Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e actual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem opera, como consagrado, nos media é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era «digital», os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam o ciberespaço e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: «Eu estou à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo» (Ap 3, 20).

Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma «diaconia da cultura» no actual «continente digital». Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização. Efectivamente, uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contacto com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço – como o «pátio dos gentios» do Templo de Jerusalém – também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?

O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade para os crentes. De facto nenhum caminho pode, nem deve, ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem. Por conseguinte e antes de mais nada, os novos media oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.

A vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa Nova na «ágora» moderna criada pelos meios actuais de comunicação.

Com estes votos, invoco sobre vós a protecção da Mãe de Deus e do Santo Cura d’Ars e, com afecto, concedo a cada um a Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Janeiro – Festa de São Francisco de Sales – de 2010.

 

BENEDICTUS PP. XVI

 

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