São Paulo, 08 de junho de 2010.

Queridos Confrades

e demais membros da Família Dehoniana,

a Paz do Coração de Jesus!

Motivados pela Festa do Coração de Jesus

Uma vez mais somos agraciados pela solenidade do Coração de Jesus, como “tempo favorável e dia da salvação” (2Cor 6,2) que, em 2010, coincide com o encerramento do Ano Sacerdotal. A concomitância de nossa festa congregacional maior com o desfecho do Ano Sacerdotal, faz-me optar pelo texto de 1Pd 5,1-4, no intuito de nos iluminar e entusiasmar em nossa vida de consagração, comunhão e missão.

Um texto inspirador

Eis o texto: 5,1 Faço uma admoestação aos presbíteros (aos dehonianos, todos) que estão entre vocês, eu que sou presbítero como eles, testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que vai ser revelada: 5,2 cuidem do rebanho de Deus que lhes foi confiado, não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por causa de lucro sujo, mas com generosidade; 5,3 não como donos daqueles que lhes foram confiados, mas como modelos para o rebanho. 5,4 Desse modo, quando aparecer o supremo Pastor, vocês receberão a coroa da glória que não murcha”

Uma proposta de reflexão

Nosso texto compõe-se de quatro versículos e pode ser apreciado como um quadro moldurado: o v. 1o (o humano escritor) e o v. 4o (o Supremo Pastor) formam a moldura; o 2o e 3o versículos (com as recomendações do Autor) fazem o quadro propriamente dito.

3,1. Apreciemos a moldura do nosso quadro… Quem é o presbítero autor que se coloca nas vestes de Pedro (v. 1)? Não o sabemos! Mas sabemos que nos é permitido colocar Padre Dehon no lugar dele, pois é nosso Fundador, presbítero pela idade e pela qualidade, que nos exorta carismática e congregacionalmente, enquanto membros do Instituto por ele fundado ou porque de alguma forma vinculados ao seu carisma. Perguntamos: de que forma, além de Pedro, Padre Dehon foi testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que há de ser revelada? Como é que nós (no que somos, onde estamos e no que fazemos), somos testemunhas dos sofrimentos e da glória de Cristo?…

Quem é o Supremo Pastor? Agora, sim, sabemo-lo perfeitamente: é Jesus Cristo que privilegiada e preferencialmente contemplamos no mistério de seu Coração (cf. Cst. 21). Eis porque sua solenidade é nossa festa principal. Jesus, o Bom Pastor, aqui apresentado como ρχιποίμενος (archipóimenos), isto é, Supremo e Excelente Pastor, Pastor princípio e critério, fundamento, referência, é que nos dará a coroa perene da glória. Ele, o melhor Pastor na história é, agora, o eterno Senhor da glória. É dele a obra que fazemos. Ao concluir sua missão o Senhor nos entregou seu Espírito (cf. Jo 19,30). No Espírito fez nossa a missão que o Pai lhe confiara (cf. Jo 20,21-22).

3.2. Vamos ao quadro, formado pelas recomendações do Autor (vv. 2 e 3). Aqui são feitas três contraposições. Pela análise literária podemos deduzir que a introdução e a conclusão da primeira contraposição valem, também, para as outras duas. 5,2 Cuidem do rebanho de Deus que lhes foi confiado, não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por causa de lucro sujo, mas com generosidade; 5,3 não como donos daqueles que lhes foram confiados, mas como modelos para o rebanho. Dessa forma, as três contraposições ficam assim:

– Cuidem do rebanho de Deus que lhes foi confiado,

não por imposição, mas de livre e espontânea vontade,

como Deus o quer.

Isso parece ligado à descoberta da vontade de Deus, que nós buscamos mediante a obediência.

– Cuidem do rebanho de Deus que lhes foi confiado,

não por causa do lucro sujo, mas com generosidade,

como Deus o quer.

Eis-nos confrontados com a gratuidade, característica da pobreza evangélica.

– Cuidem do rebanho de Deus que lhes foi confiado,

não como donos daqueles que lhes foram confiados, mas como modelos para o

rebanho

como Deus o quer.

Aqui se evidencia a oblação que vivenciamos na castidade pelo Reino.

Na introdução a cada contraposição está a convicção de que o rebanho é de Deus e nos confiado. Já na conclusão a recomendação é de que tudo o que fazemos se paute pelo querer de Deus, magnificamente testemunhado por Jesus. Um belo quadro, portanto, que nos é proposto à contemplação na solenidade do Sagrado Coração de Jesus.

Conclusão

Vivemos dias densos e intensos de futebol. Há quem invista alto para um título que passa, conseguir lucro que perece e dar alegria transitória ao povo. A nós é-nos dado empenhar a vida por uma causa que não passa, obter bênção perene e beneficiar definitivamente o povo de Deus. Padre Dehon disse ter-nos deixado o maior tesouro: Coração de Jesus. Entende ele que os Sacerdotes do Coração de Jesus, para corresponder-lhe, “têm um coração para amar, um corpo para sofrer, uma vontade para sacrificar” (Diretório Espiritual, Cap. V, §3.3). Hoje, talvez, fosse melhor expressá-lo assim: um coração para amar, um corpo para cuidar, uma vontade para cultivar. Desejo a todos uma linda e frutuosa festa. Fiquem acolhidos no aconchego do Coração de Jesus e protegidos pela Mãe Santíssima!

Pe. Mariano Weizenmann,scj.

Superior Provincial da BC

Acontece esta semana no Rio de Janeiro o 15º ENCONTRO DE MARKETING CATÓLICO. É uma iniciativa apoiada pela Igreja e que tem como grande idealizador o meu amigo Kater. Estarei presente neste encontro falando sobre Música e Liturgia no dia 10 de junho, véspera da festa do Sagrado Coração de Jesus.

SEXTA PROMESSA:

“Os pecadores acharão, em meu coração, a fonte e o oceano infinito de misericórdia.”

Se você observar bem, cada uma das promessas do Coração de Jesus tem uma palavra-chave: graça, paz, consolo, refúgio, bênção… Nesta sexta promessa palavra é “misericórdia”! O Sagrado Coração de Jesus é uma fonte e um oceano de misericórdia. O que poderia significar isso? Vamos parar durante cinco minutos e beber desta fonte, mergulhar neste mar, receber a ternura deste Deus que é “rico em misericórdia” (Efésios 2,4). Vou lhe fazer um desafio: vamos mergulhar mesmo. Vamos ler o que está por detrás das palavras. Vamos remexer as dobras do manto da Sagrada Escritura para conhecer o significado escondido. Exige um certo esforço. Mas garanto que vale a pena.

O que seria então esta “riqueza de Deus” que a Bíblia chama de misericórdia? Esta palavra vem de outras duas palavras latinas: miser, que significa miséria; e cor (cordis), que significa coração. Neste caso misericórdia poderia ser a “compaixão suscitada pela miséria alheia” (Dicionário Aurélio). Mas poderia ser também um “coração de pobre”, conforme diz Jesus no seu sermão da montanha: “Felizes os pobres de coração: deles é o Reino dos céus” (Mt 5,3). E o discurso continua até dizer em alta voz: “Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). Parece até uma contradição: a riqueza de Deus é ter um coração pobre.

Se lembrarmos outras orientações do Mestre veremos que existe uma lição que precisa ficar gravada em cada um de nós e que às vezes passa despercebido. Jesus, quando envia seus apóstolos em missão diz para não levar muitas coisas. Só o essencial. Sabe por que? Malas pesadas tornam mais difícil o caminhar. O missionário precisa ser pobre, leve, livre, para poder caminhar melhor. Por outro lado o Senhor nos consola dizendo que os cansados sob o peso de seu fardo encontrarão repouso em seu coração manso e humilde, porque “seu fardo é leve” (Mt 12,30). O Coração de Jesus é um lugar onde existe espaço para todos nós, ovelhas perdidas, que precisamos do seu colo seguro. Sua riqueza é Ter este coração grande, acolhedor, leve, pobre.

Tudo isso encontramos na palavra latina “misericórdia”. Acontece que a Bíblia não foi escrita em latim. Ao que tudo indica, Jesus nunca falou este idioma. Misericórdia é uma tradução do hebraico, língua em que foi escrita a maior parte do Antigo Testamento. O Novo Testamento, por sua vez foi escrito em grego, mas traduziu de modo inspirado os termos que estavam lá no velho testamento. Mas que palavras eram estas? Prepare-se para um mergulho mais profundo. Se estiver com sono é melhor parar a leitura por aqui e continuar amanhã. Quem tiver coragem me acompanhe.

Existem muitos termos em hebraico que procuram traduzir o significado da misericórdia. Vamos tomar apenas os dois mais importantes. O primeiro é hesed, que significa uma atitude de bondade e benevolência, misturada com uma fidelidade muito profunda a um compromisso, uma aliança. A hesed de Deus é mais forte que a infidelidade de seu povo, porque Deus permanece fiel a si próprio. O Pai do filho pródigo não renunciou à sua paternidade porque o filho pecou. Lembra? “Trata-me com um de teus empregados”. Nada disso. Deus é Pai. Por isso é misericordioso. O segundo vocábulo é rahamin, que significa entranhas, útero, amor de mãe. O rico-pobre coração de Deus é um útero onde somos sempre de novo gerados para a vida. Deus é mãe. Terminou o espaço do artigo. A misericórdia é muito mais do que consegui escrever. Quer uma sugestão? Aninhe-se no colo de Deus, tome sua Bíblia e leia Isaías 49,15. Ou então procure o documento “A Misericórdia Divina”, do Papa João Paulo II. Você ficará “apaixonado” pela misericórdia do Coração de Jesus.