Semana passada postei minha impressão sobre o Programa do Partido Verde.

http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/2010/08/12/o-programa-do-partido-verde/#comments

Sabemos que vários católicos estão neste partido e inclusive sairão como candidatos este  ano. Pedi uma reação ao meu post. Um deles, o jovem Pedro Fiorelli, candidato a Deputado Estadual por São Paulo me mandou a seguinte resposta:

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Caríssimo Pe. Joãozinho, lendo seu texto no blog é claro que me senti impelido a respondê-lo e em meio a correria da agenda de um candidato jovem e pouco conhecido, faço isto com alegria. Perdoe-me se utilizo destre espaço de comentários para redigir um texto relativamente longo.

Concentrando-me em suas questões ao final do post: os representantes verdadeiramente cristãos quando eleitos devem sim agir de acordo com a Doutrina Social da Igreja e se a ela não equivale algum ponto do Programa de Governo de seu partido, o político deve se perguntar se está militando em posição favorável para a construção do Reino e cumprindo com seu papel de discípulo-missionário. Em muitos partidos, como é o caso do PV, um candidato quando eleito poderá ter a liberdade de ser contrário a determinados pontos do Programa, assumindo o ônus de usa postura.

Acrescento: o político e a liderança de qualquer partido sabem bem que um Programa de Governo não contempla por completo a plural realidade das demandas sociais. Novos questionamentos sociais obrigam o partido a reavaliar suas estratégias de governo ainda que buscando conforma-las as linhas gerais da atuação política prescrita em suas bases. Do contrário teriamos partidos sem uma identidade clara. É justamente aqui que encontrei uma brecha que me permitiu serenamente escolher o PV como partido. Afinal, ao longo dos anos o PV tem buscado consolidar sua identidade pois não assumiu uma identidade “made in ” seguindo apenas e a risca um modelo e uma ideologia “exportada” para nossa realidade. Ele (ainda)não está engessado em velhos paradigmas ou mesmo em propostas estrangeiras. O PV, partido novo, tem buscado o novo, inclusive discutido internamente sobre sua identidade ainda que já se possa entender que o “verde” que ele busca representar, acena para a defesa dos valores da vida. O PV não é mais e apenas o “Partido do Gabeira”, é também o partido de cristãos e cristãs como Marina Silva e outros tantos (e aqui me incluo). Creio que estas pessoas uma vez eleitas ou mesmo permanecendo como filiados ao partido, poderão contribuir sim para que exista no Brasil um Partido da Vida a partir de uma reflexão séria, fundamentada e globalizante.

Há ainda um ponto importante para tranquiliza-lo. Decisões sobre questões polêmicas nunca são tomadas exclusivamente pelos líderes da bancada e não há um constrangimento partidário sobre os seus interno obrigando-os a fechar com esta ou aquela opinião. Em casos como estes, qualquer atitude de “pressão interna” ou jogo de interesses entre governo e oposição teria tamanha repercursão para a imagem do partido e do governo, que seria considerada um “suicídio” politico. Projetos de lei envolvendo tais questões (como o aborto, drogadição e a pena de morte) enquadram-se na “descricionaridade” de cada representante eleito (em outras palavras cada parlamentar utiliza-se de sua liberdade de escolha para votar).

Em breve publicarei no Blog um texto que resume meu discernimento para a escolha do PV.

Conto com suas orações para prosseguir nesta missão no meio político.

Pedro Fiorelli

Artigo do bispo auxiliar do Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO, domingo, 15 de agosto de 2010 (ZENIT.org) – Apresentamos artigo do bispo auxiliar do Rio de Janeiro Dom Antonio Augusto Dias Duarte, sobre o tema das Eleições 2010 no Brasil, texto enviado a ZENIT nesta sexta-feira.

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Eleições 2010 – Visão Limpa

O voto consciente e político dos cidadãos numa eleição considerada importante para o destino de um país tão continental como é o Brasil exige uma mudança substancial na forma ampla de visualizar cada candidato aos poderes executivos e legislativos.

A experiência nacional de mais de um século (1889 – 2010, isto é, 121 anos de República Federativa) permite dizer que a pura demagogia e a mera exposição de planos de governo e de atuação legislativa poderiam dispensar aos eleitores de uma avaliação puramente programática de quem são os melhores servidores do povo brasileiro.

Os antigos filósofos gregos, e também os grandes filósofos cristãos e muçulmanos, sempre ensinaram que o povo no seu conjunto – o bem comum da pólis, cidade, país – é melhor servido por pessoas dotadas de uma clara visão ética e de coragem.

Só assim as ações políticas, os programas de governo, as atuações no Congresso Nacional e nas Assembléias Legislativas Estaduais, serão purificadas e colocadas realmente sobre bases sólidas.

A retidão moral dos diversos candidatos na eleição de 2010 e o respeito imparcial às aspirações legítimas dos brasileiros representados politicamente pelos que forem eleitos são fundamentais para o bem social do nosso país, pois só assim criam-se relações de confiança mútua nas quais o Brasil no todo e cada estado da federação nacional, adquirirá força social e política.

Um voto consciente no momento cívico importantíssimo da eleição tem como critério indispensável a visão tridimensional ética de cada possível eleito.

A primeira visão ética será sempre pessoal, já que nessa relação pessoal existente entre votante e votado deve existir honestidade, integridade e respeito mútuos. Nem se vende votos nem se manipula enganosamente a inteligência dos eleitores com palavras vazias ou ambíguas, com promessas que já sabem de antemão que ficarão no ar ou só no papel, tampouco não se utiliza de cargos públicos com intenções de obter impunidade.

Só quando se vê o caráter pessoal de quem governará e legislará no futuro do Brasil é que se poderá ver se ele reúne as condições morais básicas para dirigir o país e propor leis a favor da justiça social, da paz e da unidade da nação brasileira.

O caráter moral não deveria ser visto como uma roupagem exterior adequada para o período eleitoral, mas depois do pleito nacional sabe-se que acabará armazenado no fundo do baú das empresas de marketing por mais quatro anos.

Ter caráter é ter integridade pessoal e familiar, é ter como compromisso político servir ao povo e nunca servir-se do povo, é ter honestidade profunda na gestão dos bens públicos, é ser promotor e defensor da vida humana, especialmente nos seus momentos mais frágeis e deficientes, é ter respeito pelo berço da civilização, que é a família constituída pelo homem e pela mulher e fundada sobre o casamento sólido e permanente.

A segunda visão ética com a qual se verá aos políticos incide na ideologia que os inspira no seu trabalho de serviço ao País. As experiências trágicas dos 121 anos de República – governos corruptos, ditaduras, leis e medidas provisórias e decretos e programas nacionais de Direitos Humanos, etc. – só deixaram um rastro de sangue e de violência moral contra a verdade e a dignidade do cidadão brasileiro.

As ideologias assumidas por alguns partidos muitas vezes obrigam seus membros de um modo tão impositivo e coercitivo que até impedem o exercício da liberdade das consciências, tendo que agir no Congresso a favor de projetos de lei que violam direitos fundamentais dos cidadãos e cláusulas pétreas da Constituição Brasileira, e o pior de tudo é que essas ideologias partidárias estão comprometidas com organismos não governamentais e instituições financeiras internacionais que vem reinterpretando a Declaração Universal dos Direitos Humanos a fim de satisfazer interesses particulares de grupos minoritários.

Um leitor consciente de seu papel participativo nos destinos do Brasil não pode fechar os seus olhos a essa forma moral de ser político que assume posições contrárias à verdade e aos valores humanos com os quais se constroem um país tão continental como o nosso.

Finalmente a terceira visão ética da forma de ser dos candidatos à Presidência do Brasil, aos Governos Estaduais e às Câmaras Legislativas Federais e Estaduais permite ver com nitidez que a promoção da moralidade pública da nação brasileira, tão degradada e tão vulgarizada há algumas décadas, reclama leis positivas fundamentais nos princípios éticos inscritos naturalmente na humanidade de cada cidadão. Indivíduos, comunidades e Estado sem a guia dessas verdades morais objetivas tornar-se-iam, individualmente e coletivamente, egoístas e sem escrúpulos e o mundo converter-se-ia num lugar perigoso para se viver, pois lhe faltaria entendimento, verdade, bondade, solidariedade e justiça. O futuro seguro do Brasil pede políticas educacionais, econômicas, sociais e de saúde pública, que trabalhem para a construção de homens e crianças, não só capacitados nas ciências e nas tecnologias avançadas mas, sobretudo, pessoas cultas na sua humanidade e na responsabilidade ética.

O Projeto Ficha Limpa traz consigo esse adjetivo revelador da pureza ética do caráter humano, das ideologias e das leis brasileiras, e foi uma grande conquista cívica do nosso povo, mas necessita também da elaboração de outro projeto, muito mais importante e sem ter que fazer uma campanha de assinaturas pelo país a fora. Precisa ser complementado pelo “Projeto Visão Limpa” dos eleitores brasileiros no próximo 3 de outubro, a fim de que enxerguem bem o nome e o número dos candidatos escritos na urna eletrônica.

Dom Antonio Augusto Dias Duarte

Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro