Disse o Papa João Paulo II na Carta Apostólica Dies Domini: “Não existe qualquer oposição entre a alegria cristã e as verdadeiras alegrias humanas. Pelo contrário, estas ficam enaltecidas e encontram o seu fundamento último precisamente na alegria de Cristo glorificado (cf. At 2,24-31), imagem perfeita e revelação do homem segundo o desígnio de Deus.” (nº 58).
Há quem ainda pense que as férias são apenas o “direito civil” que temos de tirar 30 dias de descanso por ano. Engano seu. Até nos dez mandamentos o repouso está previsto como um “dever”. Deus sabe de que barro fomos feitos. Sabe que somos frágeis e não podemos funcionar como máquinas. Nossas pernas não são as rodas de um carro. Nossas mentes não são chips de um computador. Não podemos ficar ligados 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Até Deus descansou no sétimo dia. Quem é você para dizer que “não precisa de férias”?
Mas qual seria o significado mais profundo das férias? Descansamos de fato ou fazemos com elas o que fazemos com os nossos finais de semana? Geralmente pensamos em férias e já nos vem a ideia de fazer uma viagem, barulho, agitação, gastos; descansamos de fato com isso? Gastamos conosco ou com as coisas? O objetivo das férias, assim como o do dia de domingo, é de restituir nossas forças para podermos resgatar nossa dignidade de filhos de Deus. Este mandamento de Deus cada dia se torna mais e mais paganizado. Como cristãos temos o dever de buscarmos nesses dias de descanso um sentido que vai além dos afazeres supérfluos ou de distrações vazias.
Mas como isso pode ocorrer concretamente? Não podemos abrir mão do ser cristão como se fosse uma roupa que trocamos porque vamos a um ambiente em que não fica bem usá-la. A Bíblia diz: “Não vos conformeis com este mundo”. Ou seja, não podemos simplesmente nos “adaptar” a realidades que não reflitam o que comungamos.
Um oração litúrgica diz: “Hoje, vossa família se reúne, para escutar vossa Palavra e repartir o Pão consagrado, e recorda a Ressurreição do Senhor, na esperança de ver o dia sem ocaso, quando a humanidade inteira repousará junto de vós. Então, contemplaremos vossa face e louvaremos sem fim vossa misericórdia”. (Missal Romano p. 436). Santo Agostinho em seu livro “As confissões” diz que: Fizestes-nos para vós, Senhor e o nosso coração andará inquieto enquanto não repousar em ti. Repousar é uma necessidade humana e um mandamento de Deus.
A liturgia aponta para o dia sem ocaso onde toda a humanidade repousará, onde Deus será tudo em todos e louvaremos sem fim. Lá não haverá morte, nem dor, nem lágrimas. Como vemos, Deus é a origem e o destino de todas as coisas; é Ele o fim último, a plena realização do homem.
A humanidade não foi feita para o trabalho, mas o trabalho é que foi feito para as pessoas. É certo que a Divina Providência tem como instrumento nossas mãos humanas e capacidade de trabalho. Deus continua a agir no mundo por meio dos dons humanos. Neste aspecto o trabalho é santificado, pois provê o necessário para o homem e garante a vida. Enfim, o homem precisa redescobrir que o descanso também é dom precioso e que seu coração só descansará plenamente em Deus, seu Criador.
Texto elaborado por Pe. João Carlos Almeida, scj em colaboração com os alunos(as) do Primeiro ano de Teologia da Faculdade Dehoniana (2010).