Pe. Joãozinho, scj

Sacerdote do Coração de Jesus

O tempo é um dom de Deus. É um “presente”. O passado repousa nas memórias. O futuro não nos pertence. A única coisa que temos é este tempo de agora. Jesus aconselhou a “não se preocupar com o dia de amanhã”. Para isso é preciso preparar bem para não ser surpreendido pelo inesperado que poderia muito bem ser previsto. Para não se preocupar: PREPARE! Isso significa exercitar a administração espiritual do tempo. Ao longo dos últimos dez anos tenho exercitado essa arte de estudar cuidadosamente a geografia do tempo. Sim. Os momentos não são todos iguais. Existem uma sucessão mecânica e monótona de minutos, horas, dias, semanas, meses… Mas o tempo é mais do que esse “Cronos”. Existe o “tempo-kairós”. A intensidade não é sempre a mesma. E não estou falando da percepção subjetiva do tempo que faz uma espera na antessala do dentista durar uma eternidade quando estamos com dor de dente… e faz as quatro horas com a pessoa amada passe em alguns “minutos”. Isso é bem verdade. Cada um tem sua percepção do tempo. Mas existe também um mapa objetivo e universal que muda a cada ano o kairós das semanas. Antes de marcar algum evento ou compromisso consulte o mapa do tempo. Normalmente faço isso dois anos antes. Veja, por exemplo, com a ajuda desse site como será o movimento temporal em 2020. 

Descobri, por exemplo, com muita antecedência que esse ano meu aniversário cairia no mesmo dia da semana que em 1964, quando eu nasci: segundo domingo de maio: DIA DAS MÃES. Com isso pude estar preparado para celebrar meu aniversário em sintonia com minha mãe.

Existem datas móveis no primeiro semestre. Em 2020 o carnaval foi no dia 25 de fevereiro. Isso acontece porque a data da Páscoa segue a tradição judaica de calcular a partir do calendário lunar. A Páscoa foi no dia 12 de abril. Poucos dias depois tivemos o feriado de Tiradentes, no dia 21 de abril que caiu em uma terça-feira. Quem trabalha com agenda ficou atento ao final de semana de 18-19 de abril, pois tinha tudo para ser umas “pequenas férias” em que todos iriam para praia ou campo e não seria um bom tempo para marcar aquela “assembleia” ou “reunião”. Quem não prepara o tempo acaba caindo nessas armadilhas previsíveis.Apesar de que sempre existem fatores imprevisíveis, como é o caso da pandemia do Coronavírus que subverteu completamente a nossa percepção de tempo por causa do isolamento social. Quem poderia imaginar que o Brasil iria parar a partir da segunda quinzena de março e a segunda-feira iria se parecer tanto com o domingo?

Esperamos que o segundo semestre seja um tempo mais “normal”, sem as previsíveis variações lunares que tumultuam o calendário do primeiro semestre. Mas ainda assim os arquitetos de agenda precisam estudar para não naufragarem no tsunami das semanas. Vejamos o que pode nos aguardar.

Estudar o tempo não é perda de tempo. Vamos voltar para 2018. Depois de um agosto bem normal os meses de setembro, outubro e novembro estavam repletos de feriados. Isso pode implodir qualquer programação. Veja só: o dia 07 de setembro caiu em uma sexta-feira. O dia 12 de outubro também. Finados no dia 02 de novembro também caiu na sexta. Proclamação da República, no dia 15 de novembro caiu na quinta… emenda a sexta: eram quatro dias a menos em seu cronograma. E não se foi necessário riscar o dia 07 de outubro… Eleições… um domingo que não é bom para nenhum evento. E foi necessário ficar atento com o dia 28 de outubro pois estava previsto para o segundo turno das eleições. E foi!

Passemos para 2019. Quem gosta de feriados não ficou satisfeito ao estudar o segundo semestre daquele ano. O dia 07 de setembro caiu no sábado, Aparecida (12.10) também… finados (02.11) também… Proclamação da República (15.11) caiu na sexta-feira. Mas isso não foi motivo para estresse… no Natal, o dia 24 de dezembro caiu em uma terça-feira. Os “tempólogos” se prepararam para tirar umas “pequenas férias” a partir do dia 21 e prolongar até o dia 25. É claro que alguns espertinhos aproveitaram para propor aos seus funcionários “férias coletivas… pois o dia 26 caiu em uma quinta… 27.12 já é sexta e o ano acabou  por aí, pois o dia 30 caiu em uma segunda e o ano terminou em terça-feira. Ninguém trabalhou no dia 1º de janeiro de 2020, quarta-feira. Por isso, esse ano começou mesmo na segunda-feira dia 06.01.2020, dia de Santos Reis. Percebeu? Pouca coisa de útil acontecerá entre 21.12.2019 e 05.01.2020. São 15 dias de férias. Quem estudou o tempo estava preparado para viver este período com qualidade.Quem tirou férias nesse período e ficou frustrado por perceber, depois, que mesmo que não estava de férias não trabalhou. Viu? Ao menos por isso vale a pena estudar o mapa do tempo.

O tempo é um “presente” de Deus. Recebemos cada minuto como um dom. Cuidar bem do tempo que temos é uma forma de louvar ao Senhor do Tempo. 

 

Pe. Joãozinho, scj

Teólogo e Comunicador

 

Neste artigo gostaria de refletir sobre este binômio que ocupa diariamente os debates entre os músicos católicos: Ministério & profissão. Começo pelos termos para entendermos bem do que estamos falando.

Ministério

Pode-se utilizar o termo “ministério” para o serviço da música em nossas liturgias e eventos de evangelização? A questão não é muito simples. Em 1999 a CNBB publicou o Documento 62 sobre a “Missão e Ministério dos Cristãos Leigos e Leigas”.

O texto demorou a ser aprovado exatamente por debates sobre se seria próprio ou não utilizar a terminologia “ministério” para as tarefas eclesiais desempenhadas por leigos que, por definição, vivem suma missão própria no mundo e não necessariamente ao interno da Igreja. Mas estas definições eclesiológicas estavam em crise e já não se sustentavam. O Papa João Paulo II, então, encomendou um estudo específico sobre este tema à Congregação para a Doutrina da Fé, presidida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger. O resultado foi um sólido estudo que ficou conhecido como  “Instrução acerca de algumas questões sobre a colaboração dos fiéis leigos no sagrado ministério dos sacerdotes” (1997).  Logo no início a instrução coloca com clareza teológica a diferença entre o ministério ordenado dos sacerdotes e os ministério confiados aos leigos mediante o sacerdócio comum recebido no batismo: “Tanto o sacerdócio comum dos fiéis como o sacerdócio ministerial ou hierárquico ‘ordenam-se um ao outro, embora se diferenciem na essência e não apenas em grau, pois ambos participam, cada qual a seu modo, do único sacerdócio de Cristo’. Entre eles dá-se uma eficaz unidade, porque o Espírito Santo unifica a Igreja na comunhão e no serviço e a provê de diversos dons hierárquicos e carismáticos”.

A partir destas ponderadas reflexões pode-se utilizar com segurança a expressão Ministério de Música. Naturalmente não é a pessoa que se auto-institui ministro. É um chamado de Deus que, para esta missão, dá o seu “carisma”. Quem recebe o chamado é acolhido na Igreja que o ajuda a discernir esta vocação e missão e, de alguma forma, o autoriza ao exercício do seu ministério da comunidade. Esta é a dimensão eclesial do ministério. Jamais pode ser discernido e vivido de maneira totalmente pessoal e desvinculada da comunidade. Ministros precisam deixar claro o seu elo de “agregação” à comunidade. Não existe cristão sem comunidade. Isto vale para um Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão ou para alguém que receba o carisma extraordinário de rezar pela cura e torna-se um “ministro de cura e libertação”. Em algum momento seu ministério deve ser explicitamente autorizado pela comunidade. A ministerialidade espontânea e informal se presta a uma série de desvios. Um pregador que vai a outra diocese deve ter o mandato do seu bispo ou pároco. Não deveria ser diferente com os ministros de música que andam pelo Brasil. A este propósito o nº 85 do Documento 62 da CNBB é bastante claro: “Só pode ser considerado ministério o carisma que, na comunidade e em vista da missão da Igreja e no mundo, assume a forma de serviço bem determinado, envolvendo um conjunto maios ou menos amplo de funções, que responda a exigências permanentes da comunidade e da missão, seja assumido com estabilidade, comporte verdadeira responsabilidade e seja acolhido e reconhecido na comunidade eclesial”.

É essencial que o ministério seja recebido e reconhecido pela comunidade eclesial, pois representa uma atuação pública e oficial. O ministro é portador da palavra da Igreja e não fala somente em nome próprio. Existem, porém, diversas modalidade e graus de ministérios. Existem os “reconhecidos”, os “confiados”, os “instituídos” e os “ordenados”. Do meu ponto de vista o Ministério de Música é simplesmente “reconhecido”. Leitor e acólito são ministérios instituídos. Mas nem tudo pode-se chamar de ministério. Alguém que atue na vida política não poderia se chamar “ministro”. Este seria mais propriamente um “serviço”. O mesmo se aplica às demais profissões. Não falamos de ministro do direito ou da padaria. O ministério se aplica mais propriamente a um serviço intra-eclesial.

Profissão

Aqui vem a segunda parte de nossa reflexão. Uma parcela importante de músicos católicos no Brasil se profissionalizou nestes últimos anos. A Igreja como um todo também se profissionalizou. Não se admite hoje, por exemplo, uma secretária paroquial voluntária. Nem se imagina um sacristão de final de semana. Uma paróquia tem seus colaboradores com salário, carteira assinada e todos os direitos previstos em lei. Este avanço organizacional, porém, na maioria dos casos, não chegou aos músicos (nem aos teólogos e teólogas que se formam todos os anos em bons cursos de teologia e normalmente não encontram espaço de trabalho dentro das paróquias… mas este é outro assunto). É raro uma paróquia que tenha um músico contratado para exercer profissionalmente o ministério de música. As que tiveram esta ousadia estão muito satisfeitas com o resultado. Estas palavras podem chocar alguns. Mas estou profundamente convencido de que a música exige uma série de saberes e competências. Isto significa ser profissional. Ter uma profissão é ser dotado de habilidades certificadas pela categoria. No caso da música existe uma Ordem dos Músicos do Brasil. Para exercer esta profissão regularmente via de regra se exigiria um teste para receber a carteira da OMB e pagar a anuidade.

Existe um grande grupo de músicos católicos que já não são apenas voluntários amadores que tocam na missa das 10h. São profissionais que esperam viver deste trabalho. São competentes. Têm uma história dedicada à música e são reconhecidos no meio. Raramente, porém, encontram a porta aberta de uma paróquia. Então acontece uma ruptura lamentável entre ministério e profissão. Estes músicos, não reconhecidos, abandonam a ministerialidade e aventuram-se em pregar a fé cantada em shows de evangelização por todo o Brasil. Organizam seus próprios escritórios de promoção. Têm um site, CDs, material promocional. Isto envolve custos e nem sempre todos conseguem se sustentar. Acompanho o drama de muitos músicos pais e mães de família que precisam ter ao menos quatro shows por mês para pagar as contas e alimentar seus filhos. Este é o drama de todo profissional. Mas exige nossa reflexão quando esta profissão é cantar a fé. Alguns caem nas graças do público e têm muitos pedidos de shows. Já não lhes interessa tanto o reconhecimento eclesial. A maioria dos shows não é pago mesmo pela paróquia. A prefeitura sempre acaba incluindo um show religioso na festa da cidade. Isto envolve uma série de complicadores que não vale a pena tratar aqui. Mas a situação dos nossos músicos profissionais de shows de evangelização não é nada fácil.

Existe neste meio os músicos católicos pobres. São aqueles que nunca conseguem shows e vivem dramas familiares que poucos párocos conhecem. São geniais em sua música, mas não caíram no gosto do povo, ou simplesmente não são bons de marketing. Alguns têm que ouvir coisas do tipo: “por que você não arruma uma profissão?”. Sinceramente não consigo imaginar estes fantásticos compositores, cantores e instrumentistas, fazendo pão durante a semana para poder cantar na quermesse de graça no sábado a noite, vendendo o seu CD promocional a R$ 5,00.

Desculpe o tom nú e cru deste artigo. Mas escrevo vendo as lágrimas de alguns Ministros de Música que receberam de Deus o chamado para avançar para águas mais profundas e para isso eles só precisam da barca de Pedro… sua paróquia!

João Carlos Almeida (Pe. Joãozinho, scj)

Afinal, por que estamos em quarentena, ou distanciamento social, neste momento de Pandemia pelo Coronavírus? Fui pesquisar e encontrei ao menos 40 motivos:

  1. BASICAMENTE: Para diminuir a velocidade de transmissão do novo coronavírus.
  2. Poderemos até mesmo quebrar a cadeia de infecção do vírus.
  3. Com isso evitaremos que nosso sistema de saúde entre em colapso.
  4. Estaremos respeitando os que estão na linha de frente e que não podem ficar em casa.
  5. O pessoal da saúde agradece.
  6. O pessoal dos serviços essenciais, como mercados e farmácias, agradece.
  7. Conseguindo atender a todos os infectados será possível salvar mais vidas.
  8. A capacidade do vírus de matar será cada vez menor.
  9. Será possível proteger mais os idosos e doentes: os grupos de maior risco.
  10. Daremos tempo para que formas alternativas de economia se organizem.
  11. A ciência terá tempo para encontrar uma solução definitiva, seja uma vacina ou um medicamento antiviral.
  12. O teste poderá ser aplicado a um maior número de pessoas.
  13. Como isso será possível praticar o isolamento aos que testarem positivo.
  14. Os que tiverem desenvolvido a imunidade poderão ajudar muito no combate à pandemia.
  15. Na quarentena teremos tempo para viver e refletir em família. A casa é nossa Arca de Noé neste dilúvio.
  16. A ameaça da pandemia abre uma série de oportunidades, como o uso inteligente e responsável da Internet.
  17. Vamos desenvolver uma imunidade contra o vírus das Fakenews, mentiras insuportáveis e perigosas em tempo de pandemia.
  18. Polarizações e conflitos ideológicos serão atenuados, pois somente unidos poderemos vencer.
  19. Iremos adquirir novos hábitos de higiene, como lavar bem as mãos, cobrir o nariz e a boca aos tossir ou espirrar e em algumas situações utilizar máscara protetora.
  20. Aprenderemos a manter a higiene de lugares e objetos de uso comum, como é o caso das maçanetas e daquele corrimão.
  21. Teremos uma nova maneira de nos relacionar evitando aglomeração de pessoas.
  22. Gestos simples como um abraço serão muito mais valorizados após a pandemia.
  23. Vamos aprender a viver uma vida mais simples e sóbria.
  24. Será possível partilhar os excessos de nossos armários.
  25. Descobriremos o valor de rotinas saudáveis.
  26. Venceremos o vírus da pressa.
  27. Entenderemos o quanto faz bem tomar sol.
  28. Entenderemos a diferença entre o que é importante e aquilo que é essencial.
  29. Teremos uma oportunidade de superar o consumismo e aprender a arte do consumo responsável.
  30. Veremos claramente o quanto o mundo é pequeno e como o que um faz rapidamente atinge a todos.
  31. Encontraremos maneiras de manter a nossa mente ocupada e o corpo em atividade.
  32. Teremos o tempo que nunca tivemos para fazer aquele curso pela internet e ler aquele livro esquecido na estante.
  33. Quem não costuma tirar férias entenderá o quanto isso é saudável.
  34. Entenderemos o valor da ciência e seguiremos as suas recomendações.
  35. Saberemos por que a quase totalidade dos líderes mundiais recomenda e até exige a quarentena em tempos de pandemia.
  36. Será preciso se reinventar e refazer seus projetos de vida.
  37. Haverá mais tempo para meditar e rezar.
  38. Descobriremos o valor de emissoras de TV com conteúdo religioso e sites com conteúdo confiável.
  39. Aproveite para repousar.
  40. E mantenha acesa a chama da esperança; o momento é delicado, mas saiba que TUDO PASSA!

 

Pe. Joãozinho, scj

Teólogo e Comunicador

Conta o Evangelho de Mateus no seu capítulo 2, versículos 13-23 que São José foi advertido em sonho que o rei Herodes tinha planos de matar o menino-Deus. Diante dessa ameaça ele nem sequer esperou amanhecer, acordou durante a noite e IMEDIATAMENTE partiu para o Egito. A Sagrada Família ficou ali, em verdadeira quarentena, até o perigo passar. Somente após a morte de Herodes, São José tomou o menino e sua mãe e voltou para sua terra, indo morar em Nazaré. Foi uma atitude radical e imediata. Se ele tivesse esperado para o dia seguinte, poderia ter sido tarde demais.

A atual pandemia pelo Coronavírus também nos obriga a uma atitude radical e imediata: o isolamento em casa para evitar o contágio em massa. Esse é o forte grito de alerta de todos os responsáveis pela segurança sanitária: FIQUE EM SUA CASA! Para os que ainda não sentiram a gravidade da situação é bom lembrar que quando Noé começou a construir a Arca, não estava chovendo. Os que ridicularizaram sua atitude radical pereceram, quando o dilúvio chegou. Lembre-se das três características desse vírus que podem gerar uma situação fora de qualquer controle. Primeiro: a facilidade do contágio, segundo: a baixa letalidade, terceiro o grande número de pessoas assintomáticas que tornam-se propagadores silenciosos do vírus. Não sabemos quanto tempo deverá durar essa atitude radical. Mas sabemos que quando mais imediata e radical, menos tempo durará. Se estivéssemos todos em quarentena, em 14 dias teríamos um mapa mais preciso da propagação do vírus e seria possível atender os casos mais urgentes e minimizar a mortalidade. Não espere começar o dilúvio em seu bairro, rua ou casa. Isole-se imediatamente. Aproveite o tempo para melhorar o relacionamento com Deus e com as pessoas de sua casa. É possível que a distância dos corpos aproxime nossos corações. É um tempo para transformar a quarentena em quaresma, tempo de conversão e revisão de vida. Não diga: amanhã de manhã vou resolver o que farei. Comece imediatamente. Com isso minimizaremos o risco também dos profissionais que não podem entrar em quarentena pois estão a serviço da comunidade em farmácias, mercados e hospitais. É hora de nos unirmos e mostrar que juntos somos mais. E que o protetor de Jesus nos proteja também juntamente com Maria, a serva do Senhor. VALEI-NOS, SÃO JOSÉ.

Um jovem me fez esta pergunta. Disse que há algum tempo está em crise de fé e tem buscado a solução em igrejas evangélicas. Em uma delas, ao confessar-se católico, ouviu dizer que a palavra “católico” nem sequer está na Bíblia. Ficou com esta dúvida intrigante. Queria uma resposta pois já estava começando a pensar que seus amigos tinham razão e que seria melhor mesmo mudar de igreja.
Pedi que ele abrisse a sua Bíblia no Evangelho de Mateus, capítulo 28, versículos 18b-20. Utilizarei aqui a tradução mais popular nas bíblias evangélicas (Almeida, corrigida e fiel):
“É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”
Você percebeu que fiz questão de colocar em negrito uma palavrinha que aparece de modo insistente no texto: TODO. Jesus tem todo o poder; devemos anuncia-lo a todos os povos, guardar todo o seu ensinamento na certeza de que estará todos os dias conosco. Esta ordem de Jesus foi levada muito a sério pelos discípulos. Em grego a expressão “de acordo com o todo”, pode ser traduzida por “Kat-holon”. Daí vem a palavra “católico” (em grego seria: Καθολικός). Ao longo do primeiro e segundo séculos os seguidores de Jesus Cristo começaram a ser reconhecidos como “cristãos” e “católicos”. As duas palavras eram utilizadas indistintamente. Ser católico já significava “ser plenamente cristão”. O catolicismo, portanto, é o cristianismo na sua “totalidade”. É a forma mais completa de obedecer o mandato do Mestre antes de sua volta para o Pai. O mesmo mandado pode ser lido no Evangelho de Marcos 16,15: “Ide e pregai o evangelho a toda criatura”. Há, portanto, uma catolicidade vertical, que é ter o Cristo todo, ou seja ser discípulo; e uma catolicidade horizontal, que é levar o Cristo a todos, ou seja, ser missionário. Isso é ser católico: totalmente discípulo, totalmente missionário, totalmente cristão!
Ao que tudo indica o termo “católico” se tornou mais popular a partir de Santo Inácio de Antioquia (discípulo de São João), pelo ano 110 dC. Pode significa tanto a “universalidade” da Igreja como a sua “autenticidade”. Quase na mesma época São Policarpo utilizava o termo “católico” também nestes dois sentidos. Santo Agostinho utilizou o termo “católico” mais de 240 vezes em seus escritos, entre 388-420. São Cirilo de Jerusalém (315-386), bispo e doutor da Igreja, dizia: “A Igreja é católica porque está espalhada por todo o mundo; ensina em plenitude toda a doutrina que a humanidade deve conhecer; conduz toda a humanidade à obediência religiosa; é a cura universal para o pecado e possui todas as virtudes” (Catechesis 18:23). Veja que já está bem claro os dois sentidos de “Católico” como “universal e ortodoxo”. Durante mil anos os dois significados estiveram unidos. Mas por volta do ano 1000 aconteceu um grande cisma que dividiu a igreja em “ocidental e oriental”. A Igreja do ocidente continuou a ser denominada “Católica” e a Igreja do oriente adotou o adjetivo de “Ortodoxa”. Na raiz as duas palavras remetem ao significado original de Igreja “autêntica”.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274), grande teólogo ocidental, desenvolveu uma teologia da catolicidade. A Igreja seria “universal” em três sentidos: a) Está em todos os lugares (cf. Rm 1,8) e pode ser militante na Terra, padecente no purgatório e triunfante no céu; b) Inclui pessoas dos três estados de vida (Gal 3,28): leigos, religiosos e ministros ordenados; c) Não tem limite de tempo desde Abel até a consumação dos tempos.
A Igreja católica reconhece que cristãos de outras igrejas pode ter o batismo válido e possuir sementes da verdade em sua fé. Porém, sabe que apenas a Igreja católica conserva e ensina sem corrupção TODA a doutrina apostólica e possui TODOS os meios de salvação.
Devemos viver e promover a sensibilidade ecumênica promovendo a fraternidade com os irmãos que pensam ou vivem a fé cristã de um modo diferente. Mas isso não significa abrir mão de nossa catolicidade. Quando celebramos a Eucaristia seguimos à risca o mandato do Mestre que disse: “Fazei isso em memória de mim!” A falta da Eucaristia deixa uma grande lacuna em algumas Igrejas. Um pastor evangélico, certa vez, me disse que gostaria de rezar a ave-maria, mas por ser evangélico não conseguia. Perguntei por quê? Ele disse que se sentia incomodado toda vez que lia o Magnificat em que Maria proclama: “Todas as gerações me chamarão de bendita” (Lc 1,48)… e se questionava o por quê sua geração tão evangélica não faz parte desta geração que proclama bem-aventurada a Mãe do Salvador!
Realmente, ser católico é ser totalmente cristão!

Desculpe o pleonasmo do título. A palavra “católico”, em sua origem grega, já significa “totalidade”. Cumprimos o mandato de Jesus Cristo antes de sua volta para a casa do Pai: “Anunciar o Cristo TODO para TODOS” (Mateus, 28). Mas resolvi insistir nesta verdade por dois motivos. Primeiro porque católicos “meia-boca” costumam viver a sua fé pela metade. No Brasil eles se reconhecem como “não-praticantes”. Estes costumam ser os alvos preferidos da pregação de algumas igrejas evangélicas que pretendem encher seus templos. Bem dizia o saudoso bispo de Aparecida, Dom Aloísio Lorscheider, perguntado em uma entrevista por que a Igreja Católica perde seus fiéis. Sabiamente ele respondeu: – “Engano seu. Os fiéis continuam conosco. Estamos perdendo os infiéis”.

Mas existe outro motivo para optar pelo título “totalmente católicos”. Percebo um movimento muito forte de recuperação da auto-estima dos católicos. É claro que existem os cínicos que torcerão o nariz ao ler o que estou escrevendo. Mas estes estão se tornando infiéis aos poucos e ainda por cima dizem que continuam os mesmos… a igreja é quem mudou. Balela. O Espírito está soprando em nossos irreverentes jovens. É claro que existe muita mensagem difícil de engolir nos novos sermões e canções. Há muito lugar comum e muito padre imitando pastor para recuperar migalhas do rebanho fujão. Não é disso que estou falando. O que percebo é que o Espírito Santo não parou de soprar na Igreja Católica. Ao contrário… há muita coisa bonita acontecendo escondida e infelizmente isso não é devidamente noticiado por nossas emissoras de TV que se dizem católicas.

Existem católicos sendo totalmente “evangélicos”… e um pouco mais. Somos do Evangelho. Não podemos dizer que não. Há um movimento bíblico acontecendo desde os antigos círculos bíblicos até as mais discretas comunidades eclesiais de base (CEB’s). Junto a isso existem católicos com suas Bíblias marcadas e surradas lendo e relendo… e mais que isso, estudando e vivendo a Palavra de Deus.

Tenho encontrado católicos totalmente “batistas”… e um pouco mais. Eles conseguem redimensionar a vivência do batismo recuperando o catecumenato sem criar um movimento fechado em si mesmo. Seu povo é fiel e estuda muito. Fazem muitos cursos sobre a doutrina cristã e tem seu Catecismo da Igreja Católica marcado e surrado. Sabem dar as razões da sua esperança.

Vejo por onde ando que existem católicos que se reconhecem como “assembléia de Deus”. Sabem que foram convidados, ou melhor, convocados para esta festa. Sabem que não são um povo qualquer. São povo de Deus. Formam comunidade. Conhecem bem seu pároco e o amam como pastor. É gente que participa de pastorais e vai à missa de domingo. Quando entram na igreja se sentem em casa… chamam quem está do lado de “irmão”.

Conheço muito bem os católicos “pentecostais”. Estão na Renovação Carismática e em muitos outros lugares. Muitos vivem esta espiritualidade intimamente. Rezam em línguas estranhas quando lhes falta a palavra conceitual. Não faz mal. Deus entende… e os bons teólogos (como Santo Agostinho) também! Vivem uma dinâmica carismática ao sabor do vento e tentam manter os pés no chão. Os que conseguem se tornam santos e acabam preferindo a oração de contemplação.

Já vi católicos “protestantes”. São profetas que anunciam a justiça social e denunciam toda forma de injustiça. Continuam lendo os livros da Teologia da Libertação, mas reescrevem esta carta em comunhão de Igreja, como convém aos que estão vivos e sabem se reinventar todos os dias. Muitos destes vivem a bela opção solidária e evangélica pelos pobres.

Finalmente existem os católicos da “congregação cristã”. Sou um deles. Congrego na Igreja Católica Apostólica Romana. Dentro dela faço parte de uma grande família: a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus. Sou congregado sim. Mas existem também os congregados marianos e outros mais. Somos todos deste Sacramento Universal de Comunhão… que é a Igreja Católica… que, aliás, significa Universal! Somos evangélicos, batistas, assembléia de Deus, pentecostais, protestantes, congregação cristã e universal. Somos Católicos do Reino de Deus… e um pouco mais, afinal, temos o Cristo todo para anunciar a todos. Somos discípulos-missionários. Ser católico é ser quase tudo o que os outros cristão são… e um pouco mais!

03. maio 2010 · 32 comments · Categories: Artigos

Tenho grande estima por minhas vovós Isaura (mãe de meu pai – de origem alemã) e Rosalina (mãe de minha mãe – de origem italiana). Ambas já moram junto de Deus. Fiz até uma canção em homenagem a elas. Mas a cena que vi recentemente é digna de uma nota aqui no BLOG. Faça o juízo que quiser. A vovó brincava com o netinho de mais ou menos dois anos de idade. O menino estava muito vivaz e feliz. Dava pra ver que gostava muito de sua avó. Achei a cena linda… até que a vovó começou sua seção de terrorismo em canções. Começou com a aparentemente inofensiva: “Atirei o pau no gato-to, mas o gato-to não morreu…” Percebi que o menino arregalou os olhos. Certamente pensou: “Vovó atira um pau em um gatinho… será que não vai atirar em mim também?” Mas o repertório da vovó terrorista era grande. Ia além de paus e gatos. Ela cantou feliz: “O cravo, brigou com a rosa debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido e a rosa despedaçada”. Que tragédia!!! Chega o pai do menino e, sei lá por que, dá uma dura na mãe e sai com mau humor. Homem primata!!! Imagino o pensamento do menino: “Papai brigou com a mãe, e ela não disse nada, papai saiu brabinho e a mãe mau humorada”. Lições de vovó.

A jovem senhora continuou: “Boi, boi boi… boi da cara preta, pega esta criança que tem medo de careta”. O menino começou a ficar assustado. Imagina um enorme boi avançando sobre um inofensivo menino… como papai faz com mamãe, de preferência durante as refeições.  O menino começou a chorar.

A vovó terrorista não entendeu o motivo e deu colo. Apertou ele contra o peito e cantou com muita ternura: “Nana neném, que a cuca vem pegar; papai foi pra roça, mamãe foi trabalhar!” Não suportei mais. Levantei e fugi, pois a cuca estava chegando (rs).