Hoje temos um dia todo para refletir e reconhecer o valor destas guerreiras que todos temos em nossas vidas. A começar de nossas mães nao há quem nao tenha ao menos uma mulher em sua vida. Para o homem a mulher é tao necessaria quanto o ar. A própria Biblia registra esta realidade logo em suas primeiras páginas ao retratar a tristeza de Adão enquanto estava sozinho. O termo hebraico utilizado para exprimir sua alegria, ao acordar do sono e ver a mulher que Deus acabara de criar, exprime todo o seu encanto: “AGORA SIM!!!!”

Homem e mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus. Isto significa que um homem sozinho é imagem incompleta de Deus. Sim… apenas quando homem e mulher entram em acordo e comunhão é que fechamos o ciclo da energia vital. São como os dois pólos de uma corrente elétrica. Tente ligar uma lâmpada apenas com o positivo ou com o negativo. Não gera luz. Por mais que a cultura pósmoderna insista em canonizar novas formas de união, do ponto de vista natural, nem mesmo dois positivos ou dois negativos geram luz; não procriam; há uma esterilidade radical.  A Igreja Católica  prefere afirmar com teimosia a forma criada por Deus: homem e mulher!

Hoje é um dia especial para reconhecer as mulheres que nos cercam. Infelizmente às vezes, nos acostumamos com elas. Quando faltam, choramos. Ligue para sua mae. Não espere ela faltar para chorar. Leve uma flor para sua esposa, ainda que sinta vergonha de gestos nobres e simples como este. Ame mais. Sorria mais. Viva mais. Feliz dia internacional das mulheres.

Se você esteve atento aos POSTs dos últimos dias sobre a polêmica da Teologia da Libertação, percebeu que o grande debate aconteceu na década de 1980. Em 1984 foi publicada a primeira Instrução da Congregação para a Doutrina da Fé: Libertatis Nuntius. Em 1985 Leonardo Boff foi notifica por causa das afirmações contidas em seu livro IGREJA, CARISMA E PODER. Em 22 de março de 1986 a mesma congregação romana publica uma segunda instrução, mais positiva: Libertatis conscientia. O que não tem sido lembrado é que poucos dias depois, no dia 9 de abril de 1986 o próprio Papa João Paulo II escreveu uma carta à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, encerrando a polêmica de modo equilibrado e positivo. É incrível que muitos teimem em esquecer esta importante carta do Magistério da Igreja sobre a Teologia da Libertação. Sugiro que você leia a íntegra no site do Vaticano:

http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/letters/1986/documents/hf_jp-ii_let_19860409_conf-episcopale-brasile_po.html

 

 

Registro aqui o trecho mais pertinente para o nosso estudo, com o grifo de uma frase célebre:

“Deus nosso Pai e Jesus Cristo nosso Senhor esperam, espera a Igreja no Brasil com seus presbíteros, seus religiosos e religiosas e pessoas consagradas, e seus leigos de todas as condições, espera, em certa medida, todo o povo brasileiro que cada um dos seus Bispos seja:

– convicto e convincente proclamador da Palavra de Deus e, por isso mesmo, educador na fé, servo e mestre da Verdade revelada, especialmente da verdade sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre o homem;

– edificador da Comunidade eclesial e ao mesmo tempo sinal e princípio visível da continuada comunhão que deve ser a alma dessa Comunidade, sobretudo em meio a fermentos de divisão e perigos de ruptura, conflitos e ameaças de dilacerações;

– exemplo de verdadeira unidade com seus irmãos sacerdotes e com seus fiéis no seio da Igreja Particular; com seus irmãos Bispos no seio da Conferencia Episcopal e na Igreja Universal; com o Sucessor do Apóstolo Pedro e com seu ministério a serviço da catolicidade;

– “perfector” de seus sacerdotes e pessoas consagradas, pelo seu ensinamento e pelo testemunho da sua vida, e dispensador dos mistérios de santificação, através dos sacramentos, para todos os fiéis, sem discriminação;

– pastor e guia do povo a ele confiado, pêlos caminhos da vida e em meio às realidades deste mundo, rumo à Salvação;

– pai espiritual para todos, especialmente para os mais necessitados de orientação e ajuda, de defesa e protecção.

5. Tendo diante dos olhos essas indeclináveis exigências do seu serviço episcopal, os Senhores tem-se esforçado, sobretudo nos últimos anos, por encontrar respostas justas aos desafios acima referidos, sempre presentes, eles também, ao seu espírito. A Santa Sé não tem deixado de acompanhá-los nestes esforços, como faz com todas as Igrejas. Manifestação e prova da atenção com que compartilha esses esforços, são os numerosos documentos publicados ultimamente, entre os quais as duas recentes Instruções emanadas pela Congregação para a Doutrina da Fé, com a minha explícita aprovação: uma, sobre alguns aspectos da teologia da libertação ; outra, sobre a liberdade crista e a libertação . Estas últimas, endereçadas à Igreja Universal, tem, para o Brasil, uma inegável relevância pastoral.

Na medida em que se empenha por encontrar aquelas respostas justas – penetradas de compreensão para com a rica experiência da Igreja neste País, tão eficazes e construtivas quanto possível e ao mesmo tempo consonantes e coerentes com os ensinamentos do Evangelho, da Tradição viva e do perene Magistério da Igreja – estamos convencidos, nós e os Senhores, de que a teologia da libertação é não só oportuna mas útil e necessária. Ela deve constituir uma nova etapa – em estreita conexão com as anteriores – daquela reflexão teológica iniciada com a Tradição apostólica e continuada com os grandes Padres e Doutores, com o Magistério ordinário e extraordinário e, na época mais recente, com o rico património da Doutrina Social da Igreja, expressa em documentos que vão da Rerum Novarum à Laborem Exercens.

Penso que, neste campo, a Igreja no Brasil possa desempenhar um papel importante e delicado ao mesmo tempo: o de criar espaço e condições para que se desenvolva, em perfeita sintonia com a fecunda doutrina contida nas duas citadas Instruções, uma reflexão teológica plenamente aderente ao constante ensinamento da Igreja em matéria social e, ao mesmo tempo, apta a inspirar uma práxis eficaz em favor da justiça social e da equidade, da salvaguarda dos direitos humanos, da construção de uma sociedade humana baseada na fraternidade e na concórdia, na verdade e na caridade. Deste modo se poderia romper a pretensa fatalidade dos sistemas – incapazes, um e outro de assegurar a libertação trazida por Jesus Cristo – o capitalismo desenfreado e o coletivismo ou capitalismo de Estado . Tal papel, se cumprido, será certamente um serviço que a Igreja pode prestar ao País e ao quase Continente latino-americano, como também a muitas outras regiões do mundo onde os mesmos desafios se apresentam com análoga gravidade.

Para cumprir esse papel é insubstituível a ação sábia e corajosa dos pastores, isto é, dos Senhores. Deus os ajude a velar incessantemente para que aquela correta e necessária teologia da libertação se desenvolva no Brasil e na América Latina, de modo homogéneo e não heterogéneo com relação à teologia de todos os tempos, em plena fidelidade à doutrina da Igreja, atenta a um amor preferencial não excludente nem exclusivo para com os pobres.

FONTE:

http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/letters/1986/documents/hf_jp-ii_let_19860409_conf-episcopale-brasile_po.html

 

 

Dom Eugênio de Araújo Sales escreveu um texto interpretando as palavras de Bento XVI aos bispos brasileiros:

Cardeal Eugenio Sales comenta fala recente do Papa sobre o tema

RIO DE JANEIRO, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).- Apresentamos o artigo que o cardeal Eugenio de Araujo Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, difundiu esta quarta-feira no portal da arquidiocese do Rio, abordando o tema da Teologia da Libertação.

* * * 

Erros de certas T.L.

O apelo urgente que o Papa Bento XVI endereçava aos Bispos dos Regionais 3 e 4 da CNBB, em visita “ad límina” a 5 de dezembro 2009, não se limitou aos Bispos que estavam presentes, mas, como sempre nessas visitas, se dirige ao Episcopado inteiro e a toda a Igreja no Brasil.

O Santo Padre lembrou as circunstâncias prementes que, 25 anos atrás, exigiam uma clara orientação da Santa Sé no Documento “Libertatis Nuntius”. Este, já na primeira linha, afirma que “o Evangelho é a mensagem da liberdade e a força da libertação”. Daquele documento, a Igreja recebia grande luz; mas não faltava a animosidade dos que queriam obscurecer e difamar essa doutrina.

Com palavras claras e sempre muito mais convidativas para uma reflexão serena do que repreensivas, o Papa lembrou a gravidade da crise, provocada, também e essencialmente na Igreja no Brasil, por uma teologia que tinha, em seu início, motivos ideais, mas que se entregou a princípios enganadores. Tais rumos doutrinários da Teologia chamavam-se Teologia da Libertação.

A alocução do Papa aos Bispos dos Regionais Sul 3 e 4 é uma mensagem que envolve a autoridade apostólica do Supremo Pastor e o bem evangélico da Igreja entre nós. Por isso, urge que todos os pastores acolham a palavra do Papa e se lembrem daquela crise, que tornava quase impossível, mesmo em ambientes às vezes de alto nível eclesiástico, o diálogo e a discussão serena. Hoje ainda, a Igreja no Brasil, em alguns lugares, sofre consequências dolorosas daqueles desvios.

Ao relativizar, silenciar ou até hostilizar partes essenciais do “depósito da fé”, a Teologia da Libertação negligenciava “a regra suprema da Fé da Igreja, que provém da unidade que o Espírito Santo estabeleceu entre a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério vivo”, diz Bento XVI, citando as palavras do Papa João Paulo II (“Fides et Ratio”, 55). “Os três não podem subsistir independentes” entre si. – Por isso, hoje ainda, as sequelas da Teologia da Libertação se mostram essencialmente ao nível da Eclesiologia, ao nível da vida e da união da Igreja. A Igreja continua enfraquecida, em algumas partes, pela “rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia” (mensagem de Bento XVI). Diz o Santo Padre: Cria-se assim “nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas” (Bento XVI, idem).

Já no documento “Libertatis Nuntius”, do ano 1984, o Papa João Paulo II e a Congregação da Doutrina da Fé, presidida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, quis “estender a mão” e oferecer a clara e “benigna luz” da divina fé e da comunhão viva que o Espírito Santo dá à Igreja (Bento XVI, ibd).

Com palavras concisas e fortes, o documento “Libertatis Nuntius” sobre a Teologia da Libertação falava da justa “aspiração à libertação como um dos principais sinais” do tempo moderno. Especialmente “nos povos que experimentam o peso da miséria”, com suas massas deserdadas, ofendidas na sua profunda dignidade (cf. LN I,1-2). “O escândalo das gritantes desigualdades entre ricos e pobres já não é tolerado”. “Abundância jamais vista, de um lado, e, do outro, vive-se ainda numa situação de indigência, marcada pela privação dos bens de primeira necessidade” (I,6).

Infelizmente, certas Teologias da Libertação, as que mais espaço ocupavam na opinião pública, caíram em um grave unilateralismo. Para o Evangelho da libertação é fundamental a libertação do pecado. Tal libertação exige “por consequência lógica a libertação de muitas outras escravidões, de ordem cultural, econômica, social e política”, todas elas derivadas do pecado. Muitas Teologias da Libertação afastaram-se deste verdadeiro Evangelho libertador. Identificaram-se, coisas em si muito boas, com as graves questões sociais, culturais, econômicas e políticas, mas já não mostrando seu real enraizamento no Evangelho, embora vagamente citado, e chegaram até a apelar explicitamente à “análise” marxista. Silenciavam, ou ignoravam, que “na lógica marxista não é possível dissociar a «análise» da «práxis» e da concepção da história” (VIII,2). Destarte, “a própria concepção da verdade encontra-se totalmente subvertida” (VIII,4).

Compreende-se que diante da urgência da situação de tantos que – inermes – sofrem, e diante da insuficiente sensibilidade na consciência pública e nas estruturas dominantes, devem-se exigir não só palavras retóricas, mas ações que na prática se comprometem com cada pessoa, com cada comunidade e com a história.

Mas se este compromisso não se enraíza na dignidade que Deus dá ao homem, tal Teologia, que se apresenta como Libertadora, é na realidade traidora dos pobres e de sua real dignidade (Introdução). “Certo número de teses fundamentais (da TL) não são compatíveis com a concepção cristã do homem” (cf. VIII,8).

O Santo Padre, sabendo que, sob muitos aspectos a Teologia da Libertação está ultrapassada, sabe também e vê que a Igreja no Brasil sofre ainda devastadoras sequelas de tal desvio doutrinário, propagado longamente até por gente bem intencionada, mas não capaz de analisar seus falsos princípios.

É quase um juramento que o Papa conclama os Bispos e agentes de Pastoral de todo o Brasil: “Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras da Santa Cruz” (final da mensagem de Bento XVI).

Cardeal Eugenio de Araujo Sales

Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

Em recente POST sobre a Teologia da Libertação de Leonardo Boff, citei a heresia do SUBORDINACIONISMO (O Pai é maior que o Filho e que o Espírito Santo). Alguns leitores ficaram confusos e citaram trechos da Bíblia em que Jesus diz explicitamente: “O Pai é maior que eu”. Este foi um dos maiores debates teológicos do início do cristianismo. Professar a fé no Deus Uno e Trino não era tão pacífico assim. Aos leitores que queiram mergulhar em águas mais profundas, sugiro um ótimo artigo produzido na Faculdade Palotina (FAPAS) pelos alunos do 4º ano (2008): Cristiano Parpinelli e Gabriel da Costa Mendes.

http://www.fapas.edu.br/theologia/artigos/200821_24.pdf

Bom estudo!

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL
 DOS BISPOS DO BRASIL DOS REGIONAIS SUL 3 E SUL 4
EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»

Sala do Consistório
Sábado, 5 de Dezembro de 2009

 

Venerados Irmãos no Episcopado,

Dou as boas-vindas e saúdo a todos e cada um de vós, ao receber-vos colegialmente no quadro da vossa visita ad limina. Agradeço a Dom Murilo Krieger as expressões de devotada estima que me dirigiu em nome de todos vós e do povo confiado aos vossos cuidados pastorais nos Regionais Sul 3 e 4, expondo também os seus desafios e esperanças. Ouvindo estas coisas, sinto elevarem-se do meu coração ações de graças ao Senhor pelo dom da fé misericordiosamente concedido às vossas comunidades eclesiais e por elas zelosamente conservado e arduamente transmitido, em obediência ao mandato que Jesus nos deixou de levar a sua Boa Nova a toda a criatura, procurando impregnar de humanismo cristão a cultura atual.

Referindo-me à cultura, o pensamento dirige-se para dois lugares clássicos onde a mesma se forma e comunica – a universidade e a escola –, fixando a atenção principalmente nas comunidades acadêmicas que nasceram à sombra do humanismo cristão e nele se inspiram, honrando-se do nome «católicas». Ora «é precisamente na referência explícita e compartilhada de todos os membros da comunidade escolar – embora em graus diversos – à visão cristã que a escola é “católica”, já que nela os princípios evangélicos tornam-se normas educativas, motivações interiores e metas finais» (Congr. para a Educação Católica, Doc. A escola católica, n. 34). Possa ela, numa convicta sinergia com as famílias e com a comunidade eclesial, promover aquela unidade entre fé, cultura e vida que constitui a finalidade fundamental da educação cristã.

Entretanto também as escolas estatais, segundo diversas formas e modos, podem ser ajudadas na sua tarefa educativa pela presença de professores crentes – em primeiro lugar, mas não exclusivamente, os professores de religião católica – e de alunos formados cristãmente, assim como pela colaboração das famílias e pela própria comunidade cristã. Com efeito, uma sadia laicidade da escola não implica a negação da transcendência, nem uma mera neutralidade face àqueles requisitos e valores morais que se encontram na base de uma autêntica formação da pessoa, incluindo a educação religiosa.

A escola católica não pode ser pensada nem vive separada das outras instituições educativas. Está ao serviço da sociedade: desempenha uma função pública e um serviço de pública utilidade, não reservado apenas aos católicos, mas aberto a todos os que queiram usufruir de uma proposta educativa qualificada. O problema da sua paridade jurídica e econômica com a escola estatal só poderá ser corretamente impostado se partirmos do reconhecimento do papel primário das famílias e subsidiário das outras instituições educativas. Lê-se no artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem: «Os pais têm direito de prioridade na escolha do gênero de educação a ser ministrada aos próprios filhos». O empenho plurissecular da escola católica situa-se nesta direção, impelido por uma força ainda mais radical, ou seja, a força que faz de Cristo o centro do processo educativo.

Este processo, que tem início nas escolas primária e secundária, realiza-se de modo mais alto e especializado nas universidades. A Igreja foi sempre solidária com a universidade e com a sua vocação de conduzir o homem aos mais altos níveis do conhecimento da verdade e do domínio do mundo em todos os seus aspectos. Apraz-me tributar aqui a mais viva gratidão eclesial às diversas congregações religiosas que entre vós fundaram e suportam renomadas universidades, lembrando-lhes, porém, que estas não são uma propriedade de quem as fundou ou de quem as freqüenta, mas expressão da Igreja e do seu patrimônio de fé.

Neste sentido, amados Irmãos, vale a pena lembrar que em agosto passado, completou 25 anos a Instrução Libertatis nuntius da Congregação da Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, nela sublinhando o perigo que comportava a assunção acrítica, feita por alguns teólogos de teses e metodologias provenientes do marxismo. As suas seqüelas mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas. Suplico a quantos de algum modo se sentiram atraídos, envolvidos e atingidos no seu íntimo por certos princípios enganadores da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece de mão estendida; a todos recordo que «a regra suprema da fé [da Igreja] provém efetivamente da unidade que o Espírito estabeleceu entre a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, numa reciprocidade tal que os três não podem subsistir de maneira independente» (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 55). Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras de Santa Cruz.

Venerados Irmãos no episcopado, na união a Cristo precede-nos e guia-nos a Virgem Maria, tão amada e venerada nas vossas dioceses e por todo o Brasil. Nela encontramos, pura e não deformada, a verdadeira essência da Igreja e assim, através dela, aprendemos a conhecer e a amar o mistério da Igreja que vive na história, sentimo-nos profundamente uma parte dela, tornamo-nos por nossa vez «almas eclesiais», aprendendo a resistir àquela «secularização interna» que ameaça a Igreja e os seus ensinamentos.

Enquanto peço ao Senhor que derrame a abundância da sua luz sobre todo o mundo brasileiro da escola, confio os seus protagonistas à proteção da Virgem Santíssima e concedo a vós, aos vossos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, aos leigos empenhados, e a todos os fiéis das vossas dioceses paterna Bênção Apostólica.

FONTE:

http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2009/december/documents/hf_ben-xvi_spe_20091205_ad-limina-brasile_po.html

 

Obs: GRIFO NOSSO.

O papa Bento XVI fez algumas advertências explícitas sobre algumas Teologias da Libertação, aos bispos brasileiros em visita ad limina em novembro de 2009. Para fazer memória publicamos inicialmente o texto do discurso do papa aos bispos do Regional Sul 1 – ou seja – São Paulo.  Dom Nelson Westrupp foi quem apresentou ao papa a atual situação pastoral desta região. Em resposta o papa pronunciou o texto abaixo. Houve uma consulta prévia em que se perguntava se a TdL ainda exerce influência sobre a pastoral. Tive a oportunidade de assessorar Dom Nelson nesta questão. Não existe no discurso abaixo referência negativa à TdL. Pelo contrário, encontramos palavras bastante encorajadoras no sentido de apoiar a luta da Igreja em favor da vida. Ainda hoje publicaremos outro texto em que o papa faz alusão à TdL, na visita dos bispos dos regionais 3 e 4, ou seja, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.  

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL
 DOS BISPOS DO BRASIL DO REGIONAL SUL 1
EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»

Sala do Consistório
Sábado, 14 de Novembro de 2009

 

Senhor Cardeal,
Amados Arcebispos e Bispos do Brasil

No meio da visita que estais cumprindo ad limina Apostolorum, vos reunistes hoje para subir à Casa do Sucessor de Pedro, que de braços abertos vos acolhe a todos vós, amados Pastores do Regional Sul 1, no Estado de São Paulo. Lá se encontra o importante centro de acolhimento e evangelização que é o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde tive a alegria de estar em maio de 2007 para a inauguração da Quinta Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Faço votos por que a semente então lançada possa dar válidos frutos para o bem espiritual e também social das populações daquele promissor Continente, da querida Nação brasileira e do vosso Estado Federal. Elas «têm direito a uma vida plena, própria dos filhos de Deus, com condições mais humanas: livres da ameaças da fome e de toda forma de violência» (Discurso inaugural da V Conferência do Episcopado Latino-Americano, 13 de Maio de 2007, n. 4). Uma vez mais, desejo agradecer tudo o que foi realizado com tão grande generosidade e renovar a minha cordial saudação a vós e às vossas dioceses, recordando de modo especial os sacerdotes, os consagrados e consagradas e os fiéis leigos que vos ajudam na obra de evangelização e animação cristã da sociedade.

O vosso povo abriga no coração um grande sentimento religioso e nobres tradições, enraizadas no cristianismo, que se exprimem em sentidas e genuínas manifestações religiosas e civis. Trata-se de um patrimônio rico de valores, que vós – como mostram os relatórios, e Dom Nelson referia na amável saudação que em vosso nome acaba de dirigir-me – procurais manter, defender, estender, aprofundar, vivificar. Ao regozijar-me vivamente com tudo isto, exorto-vos a prosseguir nesta obra de constante e metódica evangelização, cientes de que a formação autenticamente cristã da consciência é decisiva para uma profunda vida de fé e também para o amadurecimento social e o verdadeiro e equilibrado bem-estar da comunidade humana.

Com efeito, para merecer o título de comunidade, um grupo humano deve corresponder, na sua organização e nos seus objetivos, às aspirações fundamentais do ser humano. Por isso não é exagerado afirmar que uma vida social autêntica tem início na consciência de cada um. Dado que a consciência bem formada leva a realizar o verdadeiro bem do homem, a Igreja, especificando qual é este bem, ilumina o homem e, através de toda a vida cristã, procura educar a sua consciência. O ensinamento da Igreja, devido à sua origem – Deus –, ao seu conteúdo – a verdade – e ao seu ponto de apoio – a consciência –, encontra um eco profundo e persuasivo no coração de cada pessoa, crente e mesmo não crente. Concretamente, «a questão da vida e da sua defesa e promoção não é prerrogativa unicamente dos cristãos. Mesmo se recebe uma luz e força extraordinária da fé, aquela pertence a cada consciência humana que aspira pela verdade e vive atenta e apreensiva pela sorte da humanidade. (…) O “povo da vida” alegra-se de poder partilhar o seu empenho com muitos outros, de modo que seja cada vez mais numeroso o “povo pela vida”, e a nova cultura do amor e da solidariedade possa crescer para o verdadeiro bem da cidade dos homens» (Enc. Evangelium vitæ, 101).

Venerados Irmãos, falai ao coração do vosso povo, acordai as consciências, reuni as vontades num mutirão contra a crescente onda de violência e menosprezo do ser humano. Este, de dádiva de Deus acolhida na intimidade amorosa do matrimônio entre o homem e a mulher, passou a ser visto como mero produto humano. «Hoje, um campo primário e crucial da luta cultural entre o absolutismo da técnica e a responsabilidade moral do homem é o da bioética, onde se joga radicalmente a própria possibilidade de um desenvolvimento humano integral. Trata-se de um âmbito delicadíssimo e decisivo, onde irrompe, com dramática intensidade, a questão fundamental de saber se o homem se produziu por si mesmo ou depende de Deus. As descobertas científicas neste campo e as possibilidades de intervenção técnica parecem tão avançadas que impõem a escolha entre estas duas concepções: a da razão aberta à transcendência ou a da razão fechada na imanência» (Enc. Caritas in veritate, 74). Jó, de modo provocatório, chama os seres irracionais a darem o próprio testemunho: «Pergunta, pois, aos animais e eles te ensinarão; às aves do céu e elas te instruirão, aos répteis da terra e eles te responderão, e aos peixes do mar e eles te darão lições. Quem não vê em tudo isto a mão de Deus que fez todas estas coisas? Deus tem nas suas mãos a alma de todo o ser vivente, e o sopro de vida de todos os homens» (Jó 12, 7-10). A convicção da reta razão e a certeza da fé de que a vida do ser humano, desde a concepção até à morte natural, pertence a Deus e não ao homem, confere-lhe aquele caráter sagrado e aquela dignidade pessoal que suscita a única atitude legal e moral correta, isto é, a de profundo respeito. Porque o Senhor da vida falou: «Da vida do homem pedirei contas a seu irmão. (…) porque Deus fez o ser humano à sua imagem» (Gen 9, 5.6).

Meus amados e venerados Irmãos, nunca podemos desanimar no nosso apelo à consciência. Não seríamos seguidores fiéis do nosso Divino Mestre, se não soubéssemos em todas as situações, mesmo nas mais árduas, levar a nossa «esperança para além do que se pode esperar» (Rom 4, 18). Continuai a trabalhar pelo triunfo da causa de Deus, não com o ânimo triste de quem adverte só carências e perigos, mas com a firme confiança de quem sabe poder contar com a vitória de Cristo. Unida ao Senhor de modo inefável está Maria, plenamente conforme ao seu Filho, vencedor do pecado e da morte. Pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, imploro de Deus luz, conforto, força, intensidade de propósitos e realizações para vós e vossos mais diretos colaboradores, ao mesmo tempo que de coração vos concedo, extensiva a todos os fiéis de cada comunidade diocesana, uma particular Bênção Apostólica.

FONTE:

http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2009/november/documents/hf_ben-xvi_spe_20091114_ad-limina-brasile_po.html

 

Obs: O GRIFO É  NOSSO.

Recebi um comentário de um leitor deste BLOG que gostaria de comentar aos poucos, serenamente:

“Padre Joãozinho, o O Senhor que está tão perto da RCC e teve a oportunidade de estudar a Teologia da Libertação, pergunto: o Papa Bento XVI, realmente considera a TL um mal para a Igreja?
É um prazer está conectado em Blog, sempre tenho acompanhado aquilo que o senhor tem falado, desde o programa Direção Espiritual na CN. Sou João Pessoa, Paraiba, tenho dez anos de caminhada na Comunidade Salve Maria, uma comunidade nova, porém sempre li livros de Leonardo Boff, José Comblin, Jon Sobrinho, João Batista Libanio e recentemente tenho dedicado as Obras de Andres Torres Queiruga (autor que Padre Fabio já se referiu). Todas obras que sempre alimentaram a minha caminhada, sempre considerei que a TL, como uma maneira está orando com os pés firmes.
E fiquei muito feliz com o CELAM em Aparecida, porque acompanhei, algumas entrevistas onde Libanio mencionava a respeito de uma nova maneira ver a Igreja, com a Teologia da Conciliação, entendi que havia chegado o momento onde a Igreja tinha chegado o momento de uma abertura, onde poderiam assumir verdadeiramente a essência do Catolicismo, onde as várias espiritualidade iriam caminhar respeitando-se, penso que esse é a tônica da escrita do Documento Final do CELAM. Penso que no inicio de 2009, o Senhor teve aqui para um curso de Gestão Eclesial organizado pela Arquidiocese da Paraíba e na oportunidade, senhor fez um comentário sobre o seu trabalho sobre a Teologia da Libertação. Por favor padre, o que é a Teologia da Libertação?”

—–

Meu estudo sobre Teologia da Libertação a que o leitor se refere é a tese de doutorado defendida na Pontifícia Faculdade de Teologia N. Sra da Assunção (São Paulo), sob a orientação do hoje Dom Benedito Beni dos Santos (bispo de Lorena). O tema era o conceito de “salvação e solidariedade” na obra de Gustavo Gutiérrez, considerado o pai da Teologia da Libertação. O texto final foi publicado por EDIÇÕES LOYOLA, sob o título TEOLOGIA DA SOLIDARIEDADE e quase que integralmente disponibilizado na INTERNET:

 http://books.google.com.br/books?id=Ng_0QrLGxMgC&printsec=frontcover&dq=Teologia+da+Solidariedade&cd=1#v=onepage&q=&f=false

 

 

A Teologia da Libertação surgiu na década de 1960, como uma alternativa à Teologia da Revolução que desde a década de 1950 procurava dar motivos para que guerrilheiros latino-americanos aderissem ao socialismo e à luta contra as ditaduras militares, sem deixar a fé cristã. Era quase um dogma do socialismo marxista que a religião anestesiava as consciências (ópio do povo). Portanto, para ser um revolucionário eficaz, seria necessário professar o ateísmo. Teólogos da Revolução, como Hugo Assmann, procuravam fazer uma leitura da fé como elemento motivador da mudança social. A Teologia da Libertação surgiu no mesmo contexto, porém, com uma distância crítica da Teologia da Revolução. Poucos se lembram, mas inicialmente a TdL foi considerada conservadora. Os anos 1970-1980 representaram a década de ouro da TdL. Basicamente poderíamos marcar o tempo que foi da Conferência de Medellín (1968) até a Conferência de Puebla (1979). Ela se desenvolveu entre o final do pontificado de Paulo VI e o início de João Paulo II. A partir da década de 1980  a Santa Sé, por meio da Congregação para a Doutrina da Fé, cujo prefeito era Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, lançou dois documentos mostrando o que seriam os “erros de certas TdL”. O primeiro, mais pontual e crítico, foi a Instrução sobre alguns aspectos da «Teologia da Libertação » – Libertatis nuntius (Instructio de quibusdam rationibus «Theologiae Liberationis»), 6 de agosto de 1984 (AAS 76 (1984) 876-909; DOCUMENTA 57). A CNBB reagiu à esta postura duramente negativa e João Paulo II enviou uma carta bem mais ampla e serena em que afirma que a “Teologia da Libertação é oportuna, útil e necessária”. Diante da polêmica a mesma Congregação para a Doutrina da Fé lançou dois anos depois um novo documento, desta vez mais amplo e otimista. Ali são colocadas algumas bases para uma autêntica teologia da liberdade: Instrução sobre a liberdade cristã e a libertação – Libertatis conscientia (Instructio de libertate christiana et liberatione), 22 de março de 1986 (AAS 79 (1987) 554-599).

Entre um e outro destes documentos, em 1985, Leonardo Boff foi chamado a Roma para explicar as bases teóricas da reflexão que publicou em seu clássico IGREJA, CARISMA E PODER. O fruto da conversa resultou em um documento da congregação romana: Notificação sobre o livro «Igreja: Carisma e poder. Ensaio de Eclesiologia militante» do Pe. Leonardo Boff, O.F.M., 11 março de 1985 (AAS 77 (1985) 756-762; DOCUMENTA 58).
O principal erro de Boff seria concluir quase toda a sua eclesiologia do fato de que somo imagem e semelhança da Trindade. Entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo não existe relação de subordinação. Afirmar uma hierarquia entre as Pessoas da Trindade seria cair na heresia do subordinacionismo (o Pai é maior que o Filho… o Filho é maior que o Espírito). Desta forma Boff conclui que também não pode existir relação de subordinação entre qualquer sociedade humana, inclusive a Igreja. Admitir a hierarquia seria subordinacionismo prático.

Gustavo Gutiérrez tinha outra matriz teológica, bem diferente da de Boff. podemos dizer que são duas Teologias da Libertação, uma de matriz franco-belga (Gutiérrez) e outra de matriz germânica (Boff).  Porém os “erros” apontados pela primeira instrução romana tocam bem mais as afirmações de Gutiérrez que os “detalhes” teológicos criticados em Boff. Este não reviu seus possíveis erros. Preferiu “mudar para permanecer o mesmo”. Deixou a ordem dos franciscanos e assumiu uma postura leiga passando a criticar a Igreja a partir de fora.  Estas são somente “duas” das diversas correntes da TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO. Portanto, quem quiser ser respeitoso e exato jamais criticará genericamente a Teologia da Libertação. O amor à verdade e o respeito às pessoas deve levar a fazer as necessárias distinções. Generalizações sempre são primas-irmãs do erro.  

Gutiérrez sempre entendeu que somente se pode fazer teologia a partir da comunhão, inclusive eclesial. Na época reuniu sua obras publicadas até então (principalmente o clássico “Teologia da Libertação – Perspectivas”) e apresentou-as como tese de doutorado em Lyon, na França. Sua defesa é um interessante diálogo entre a teologia europeia e a nascente teologia latino-americana. Está publicada em um livro entitulado “A verdade os libertará”. No final da década de 1980, Gutiérrez publicou a segunda edição, REVISTA E ANOTADA, do livro Teologia da Libertação. Poucos, mesmo entre os adeptos da TdL deram atenção a esta nova edição. A editora VOZES que lançara a primeira edição na década de 1970, simplesmente deu o livro como ESGOTADO e não quis publicar a segunda edição. No Brasil esta edição foi traduzida por EDIÇÕES LOYOLA. Está parcialmente disponível na Internet:

 http://books.google.com.br/books?id=JzHM6DlFhKwC&printsec=frontcover&dq=teologia+da+liberta%C3%A7%C3%A3o+Guti%C3%A9rrez&lr=&cd=1#v=onepage&q=&f=false

A partir da publicação desta nova edição, em 1989, a TdL começa a fazer uma auto-crítica. Surgem inúmeras correntes teológicas. O sujeito da TdL era o “pobre”. A partir da década de 1990 este “pobre” ganha rostos mais definidos. Cada rosto dá origem à uma corrente teológica: mulher, negro, índio… Leonardo Boff, por exemplo, considera que a “terra” ecologicamente ameaçada é o novo nome do pobre. Sua teologia toma este rumo.

Entramos no terceiro milênio com a sensação de que a antiga TdL havia simplesmente sido extinta com a queda da muro de Berlim e a decepção com a utopia socialista.  Movimentos como a RCC tomaram conta da cena pastoral e ganharam os meios de comunicação. As CEBs passaram a ter pouquíssima visibilidade. Restava apenas a “opção preferencial pelos pobres” insinuada em Medellín, sob a guia de Gutiérrez e transformada em enunciado por Puebla. Em Santo Domingo a categoria da “cultura” parecia soterrar a “opção pelos pobres”. Muitos imaginavam que a Conferência de Aparecida daria o “tiro de misericórdia”. De modo surpreendente, o papa Bento XVI reafirmou solenemente a “opção preferencial pelos pobres” resgatando seu fundamento eminentemente bíblico e afastando   qualquer origem ideológica.

Recentemente os bispos do sul do Brasil estiveram em visita ad limina e ouviram do papa uma advertência que deixou alguns surpresos:

(Publicarei a íntegra das palavras de Bento XVI no segundo artigo desta série)