Assis, lugar da paz e do Espírito Santo

A cidade de Assis  é testemunha até os dias de hoje do  derramamento do Espírito Santo na vida de um homem.

Foi nessa cidadezinha no centro da Itália,  que o Espírito Santo de Deus em seu insondável mistério encontrou a alma de Giovanni di Pietro di Bernardone, num Grande Pentecostes.

Obviamente utilizar a expressão “Grande Pentecostes”, é apenas para enfatizar a dilatação da alma desse homem, agora chamado Francisco de Assis,  e o transbordar da graça de Deus sobre ele, sabendo que o Espírito Santo sempre se derrama por inteiro sobre a humanidade.

Francisco foi um homem cheio do Espírito Santo, «devorado por um incêndio de amor”, segundo São Boaventura, um dos primeiros biógrafos de sua vida, tal expressão, «devorado por um incêndio de amor”, se tomou clássica na linguagem espiritual franciscana, para salientar ação do Espírito do Senhor naquele que consideram como «o anjo do sexto selo» de que fala a Palavra de Deus no livro do Apocalipse, “esse selo impresso em sua própria carne não por qualquer força natural, nem por processo mecânico, mas pelo poder admirável do Espírito de Deus vivo» (LM, prólogo).

São Boaventura ainda afirma: que «O poder incendiário do Espírito de Cristo abrasava-o por completo»,  (Lm 2,2).

Isto é, vivia um Pentecostes diário. Essa declaração é notoriamente comprovada,  especialmente em dois acontecimentos: Porciúncula, início de sua missão  e Alverne máxima união com Deus, que por meio do Espírito Santo.

Em Porciúncula, havia uma antiga igreja em honra da bem-aventurada Virgem Mãe de Deus  que estava em ruínas e movendo-se de compaixão, decidiu morar ali mesmo e restaurar a Igreja que terminou no terceiro ano da sua conversão. Depois, através da ação do Espírito de Cristo entendeu que a restauração era mais abrangente.

Nesta mesma Igrejinha, em 1208, na festa de São Matias, Francisco ouve o Evangelho do envio Apostólico e vê com clareza o chamado do Senhor e parte como pregador itinerante. Francisco, «exultando de alegria no Espírito Santo, exclamou: ‘É exatamente isso o que eu pretendo e procuro, e do fundo do coração anseio por realizar’ (1C 22).

São Boaventura nos conta que: «Ao escutar atentamente estas palavras, foi tal a violência com que o Espírito de Cristo o sensibilizou, que mudou de vida por completo». (Lm 2,2).

Nessa passagem evangélica há uma palavra que ele mesmo confidencia no Testamento: «Revelou-me o Senhor que devíamos saudar-nos dizendo: ‘O Senhor te dê a paz’ » (T22).

Na Regra Franciscana, na Legenda dos três companheiros (58), São Francisco dá a seus frades, o significado para a paz: “A paz que anunciais com a boca, mais deveis tê-la em vossos corações.

Ninguém seja por vós provocado à ira ou ao escândalo, mas todos por vossa mansidão sejam levados à paz, à benignidade e à concórdia. Pois é para isso que fomos chamados: para curar os feridos, reanimar os abatidos e trazer de volta os que estão no erro”.

Deus Sumo Bem é a experiência fundamental de Francisco, o ponto de partida de sua espiritualidade.

Sendo assim, o “Bem” é Deus. A saudação franciscana de “Paz e Bem” é uma forma evangélica de viver o espírito das bem-aventuranças.  Isso virá a fazer dele, com a força do Espírito, o mensageiro da paz de Deus.

Em 1224, no Monte Alverne, Francisco recebe os estigmas da paixão do Senhor. Desde o início de sua conversão, ele se deslumbrava ao contemplar o Cristo de São Damião, tão humano, tão despojado, tão pobre e crucificado.

Ao falar da paixão e morte do Senhor Jesus, por nos ter dado sua própria vida, São Francisco de Assis chegava às lágrimas. Daí sua exclamação de júbilo: “Que felicidade ter um tal irmão”.

A marca das chagas, em seu corpo, não foi senão a coroação de toda uma vida.

Francisco almejava levar a paz para todo o mundo. Por inspiração divina, ou seja, impelido pelo Espírito, atreve-se a fazer uma tentativa verdadeiramente de paz para a época,  vai encontrar-se com o Sultão do Egito, considerado o maior  inimigo dos cristãos.

É exatamente como mensageiro da Paz que ele é mais conhecido e invocado. Para Francisco, paz e alegria são frutos do Espírito. Por ser instrumento de paz, e por levar a paz, ele acolhe com alegria as humilhações.

A parábola da Perfeita Alegria, relatada na  “I Fioretti” no capítulo VIII, representa a tradução maravilhosa da experiência de quem sabe sofrer perseguição pela justiça por amor a Cristo. Progressivamente e à custa de duras conversões, o Espírito vai nele produzindo os «seus frutos»: «amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio (Gl 5,22).

Tal é a profunda convicção que pretende transmitir aos irmãos ao dizer-lhes que «devem sobretudo desejar ter o Espírito do Senhor e deixar que esse Espírito atue neles» (2R 10,8).

O Espírito Santo nesse verdadeiro batismo,  impulsionava ao homem de Assis, a tornar-se um homem de Deus, vencendo as concupiscências da carne.

Um dos fato que sinaliza as mudanças causadas por uma vida no Espírito de Cristo, é o encontro com leprosos, o beijo ao leproso, como próprio Francisco declara: «Foi assim que o Senhor me concedeu, a mim, irmão Francisco, que começasse a fazer penitência: Quando eu ainda vivia em pecados, era para mim insuportável ver leprosos.

Mas o próprio Senhor me conduziu ao meio deles e comecei então a exercer misericórdia com eles. Depois dessa experiência pouco esperei para dizer adeus ao mundo » (T 1.2).

A experiência com os leprosos, movido pelo Espírito Santo, transformou-o em irmão deles.

E a partir dessa primeira experiência foi-se tornando cada vez mais irmão dos pequeninos, dos humildes, dos abandonados, dos excluídos, uma obra que só pode ser realizada pelo Espírito do Senhor.

Encarnando a Palavra de Deus em sua própria vida,  assim nas bem-aventuranças dos pobres, dos que choram, dos mansos, dos misericordiosos.

O exemplo de Francisco mostra-nos como deixar atuar em nós o Espírito do Senhor, vivemos hoje também em tempo de renovação.

 Valdenia Vieira-  Comunidade Canção Nova

 

Referências

Livro “A Espiritualidade de Francisco de Assis”, Editorial Franciscana – Braga – Portugal