Vamos continuar nossa partilha com o testemunho da minha família, das maravilhas operadas por Deus e do caminho que percorremos

Na última parte dessa narrativa, publicada na semana passada, contei o quanto foi difícil o dia que se seguiu à ligação da UTI neonatal, que nos chamava, na madrugada, para nos despedirmos de nossa filha, que nasceu prematura devido uma parada cardiorrespiratória. Falei sobre como encontramos forças diante da dor, com a ajuda de Deus e daqueles que permanecem junto de nós.

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Créditos: praetorianphoto by Getty Images

Tomou o nosso coração o terrível sentimento de que aquela situação de UTI se prolongaria por um tempo maior e indeterminado em nossa vida, mais uma vez. Antes da intercorrência, era possível até prever quanto tempo iríamos permanecer indo ao hospital visitar nosso bebê e ir embora sem ela em nossos braços. Agora não mais.

Minha esposa colhia o leite todos os dias e levava até a UTI para ser dado a ela. Nesse tempo, já estava claro que ela havia contraído uma infecção, que estava instalada no seu estômago. Provavelmente, por alguma contaminação no leite que estávamos levando. Por isso, as médicas acharam por bem não levarmos mais o leite.

Lá se foi mais um grande sonho de minha esposa que precisou ser abandonado: amamentar.

Para entender melhor esse testemunho, leia:

:: Somos fortes no sofrimento
:: Na UTI, ela passou por uma parada respiratória
:: Os traumas da primeira gestação nos acompanharam
:: Após a eclâmpsia, decidimos ter outro filho

Tantas coisas planejadas, mas não realizadas

Nosso primeiro filho nasceu no susto, aos seis meses de gestação. Após minha esposa sofrer eclâmpsia, ele teve que nascer. Como a Elisa também ficou hospitalizada, nem houve a oportunidade de o leite brotar em seus seios. Imaginávamos, então, que com a Maria Júlia seria diferente. Como a gestação foi até o oitavo mês, e como após o parto a Elisa se recuperou normalmente, ela passou a colher o leite que levávamos ao hospital para assim a Maria Júlia poder recebê-lo. Agora não mais. Como o tempo dela na UTI acabava de se prolongar, o leite da Elisa foi sumindo.

Quase tudo que tínhamos sonhado para nossos filhos se foi sem que conseguíssemos colocar em prática. Foram muitas expectativas frustradas e sonhos completamente abandonados: amamentar, arrumar o quarto para o bebê, esperar a bolsa romper para um parto normal, arrumar antecipadamente uma bolsa para passar aqueles dias na maternidade e viver a recuperação tranquila do parto normal.

Abrir mão de um sonho, de um desejo, de planos há tempos preparados nunca foi fácil. Fazer as coisas de uma forma não planejada é muito mais difícil. Custa-nos o abandono das expectativas e dos sonhos cultivados, coloca-nos frente a uma situação não prevista, indesejada, que exige outras decisões completamente fora do jeito costumeiro de lidar.

Certa vez, li uma frase: “Quando se perde um sonho, perde-se a alma”. O que é o sonho? E o que é a alma? Podemos pensar que, numa frase como essa, ao se perder um sonho, perde-se parte de si, parte de uma força que me move. Porém, isso está gravemente errado! O sonho é feito de uma realidade hipotética. Ele pode realizar-se ou não. Perder um sonho é o mesmo que perder parte de si, é pegar algo real, que é a si mesmo, e atrelar a algo que não é real, o sonho. Fundamentar o real a partir do irreal faz mal à própria vida. Se o sonho perdido não tiver volta, não pode significar que perdeu parte de si irremediavelmente. Isso é abandonar-se no lixo.

O que nós temos é o hoje, é o agora. Podemos trabalhar para tornar um sonho realidade, mas não podemos controlar tudo na vida. Se a coisa não dá certo, é preciso amar a realidade, por mais difícil que ela seja, pois é nela que Deus está.

Estamos no sonho ou na realidade?

Eu estou partilhando coisas sagradas da história da minha família, sem saber onde isso pode chegar. Desconheço completamente a sua realidade, mas uma coisa somente importa a você: aceite a sua realidade por mais desastrosa que ela possa ser, pois nessa realidade é possível virar, segurando nas mãos de Deus, o jogo que se está vivendo. Fugir da realidade é um dos mais graves prejuízos que se possa ter na própria vida. Infelizmente, uma parcela enorme de pessoas vivem assim. Pensa e discute um monte de coisas, situações sobre as quais, muitas vezes, desconhece profundamente. Fala coisas como se fossem verdades, realidades, mas, na verdade, não foram a fundo. São somente deduções pessoais, e sobre elas construiu toda uma “realidade”.

Seguimos em frente. Agora, o caminho se tornaria maior que o esperado. Sem a alimentação, Maria Júlia voltava a perder peso, e embora a infecção já estivesse sendo tratada, o medo de outra situação similar, os vários maus pensamentos tornavam a nos acompanhar. Passamos a viver angustiados por possibilidades, e não a partir da realidade. Também nós passamos por isso para, hoje, poder lhe testemunhar.

Alguns dias depois, com as taxas de exame de sangue melhorando, ela voltou a ser alimentada com um soro especial. Pouco tempo depois, foi introduzido o leite em pó para recém-nascido.

Até o próximo texto.

Deus o abençoe.

Roger Carvalho


Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.

 

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