Difícil decisão: permanecer com a gestação ou deixar nosso filho nascer

Este é o quarto texto que escrevo para contar o nosso testemunho de família. No artigo anterior realçava a importância da família e dos amigos no momento de sofrimento. Nós precisamos intensamente uns dos outros! Graças à ajuda deles, pude suportar aquele primeiro dia de susto após minha esposa sofrer o flagelo da eclâmpsia. Depois de desistir de permanecer no hospital, esperando que minha esposa saísse da UTI, fui para casa.

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Naquela noite sem ela, dormi somente com a ajuda de remédio. Acordei no outro dia e, mais que depressa, procurei verificar se tudo não passava de um pesadelo. Mas não! Como não adiantava ir para o hospital cedo, pois a visita era somente à tarde, permaneci em casa. No entanto, fiquei em busca de informações.

Liguei na UTI e disseram que ela havia passado bem à noite. Só isso. Fiquei inconformado pelas poucas informações. Esperei um pouco e procurei pela obstetra da Elisa; seu nome é Ana Carolina. As informações eram as mesmas. Ela me explicou que, em momentos tão dramáticos, de grande risco de vida, é preciso esperar o corpo do paciente responder. Não me lembro exatamente o momento, mas, nesse dia, ela, depois de séria avaliação, decidiu descer a Elisa para o quarto. Aprontei uma pequena mala e segui para o hospital.

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A decisão da médica era difícil

Permanecer com a gestação era algo perigoso, mas como a médica nos conhecia, sabia que se houvesse uma possibilidade de salvar o nosso filho, nós quereríamos! Ela também quis salvá-lo. A solução para baixar a pressão da Elisa era tirar o bebê, mas se o tirasse no momento seguinte à convulsão, as chances de ele se salvar seriam mínimas. Manter a gestação era dar tempo para o medicamento que fortalecia o seu pulmãozinho fazer algum efeito e aumentar um pouco suas chances de viver. A condição era que a Elisa ficasse internada pelo tempo que fosse preciso até nosso filho nascer. Estávamos no sexto mês de gestação, portanto, ainda possíveis três meses pela frente com ela no hospital 24 horas por dia. Logicamente, concordamos!

Todo e qualquer sacrifício vale pela vida de nosso filho

Nesse momento, convido você que me lê a rezar uma Ave-Maria por cada mulher, neste mundo, que cometeu o aborto e agora traz em si o arrependimento. Não cabe a nós julgar nenhuma delas! Deus sabe.

O que mais se ouve são casos de um vazio e um arrependimento tão amargo nessas mulheres, que muitas delas não se sentem mais merecedoras de serem felizes nessa vida. Meu Deus, e quantas delas escondem isso até hoje das pessoas que mais amam, como marido, pais…! Carregam sozinhas essa dor. Elas precisam de nossa oração, precisam se sentir perdoadas.

Veja que pelo fruto se conhece a árvore. De onde surge o aborto? Na maioria das vezes, surge do uso irresponsável de uma falsa liberdade. As pessoas dizem que querem ser livres para fazer o que quiserem com o próprio corpo, mas esse desejo ávido já não seria uma forma de escravidão? Fazer uso do próprio corpo para uma vida desenfreada não traz plenitude a ninguém! Você conhece alguma pessoa que seja plenamente realizada vivendo uma vida de prostituição sem se sentirem amadas, na bebedeira, em festas e, às vezes, até usando drogas?

Seriam três meses internada, de repouso absoluto

Essa condição mudou todos os nossos planos. Nem quarto pronto em casa, para receber o bebê, nós tínhamos.

No dia seguinte à eclâmpsia, veio a minha mãe de Brasília (DF). No outro dia, vieram a mãe da Elisa, a tia e uma prima provenientes de Londrina (PR). Nossos entes se uniram por nós!

Recebi a Elisa no quarto do hospital, que seria nosso pelos próximos meses. Foi estranho vê-la sob os efeitos dos remédios. Ela tomava vários para controlar a pressão. Isso ocasionava uma letargia de movimentos no falar e até no seu raciocínio. A rotina de exames era constante, assim como aferições de pressão com poucas horas de intervalo. Ultrassom todos os dias e exames mais simples para ouvir o coração do nosso filho, que eram feitos algumas vezes ao dia. Era preciso vigiar para não deixar o bebê sofrer por causa da pressão elevada que ainda vigorava.

O dia em que a Elisa passou mal e convulsionou foi na manhã de 22 de abril de 2009. Ela desceu para o quarto depois de 36 horas internada na UTI. Passamos três dias nos revesando entre nós familiares para cuidar dela.

Durante esse tempo, estávamos tentando entender tudo aquilo na escala da fé, mas não chegamos à conclusão nenhuma. A gente olha para Deus como se Ele agisse e pensasse somente de forma humana, mas Ele sabe do ontem, do hoje e do amanhã. Ele vê além! Isso que nosso coração precisa entender para perceber melhor as coisas que o Senhor permite que nos aconteça.

De qualquer forma, a gente não se afastava da oração. Até ali, agradecíamos pelo dom da vida da Elisa e do André que foram preservadas.

No dia 26 à noite, estávamos eu e a minha sogra juntos com ela. Ao que me lembro, minha sogra ia passar a noite com ela e eu estava perto de ir embora. Ficava lá o máximo possível todos esses dias! Resolvi esperar o resultado dos exames que iriam acontecer naquela noite. A dra. Ana também estava conosco. Fomos ao ultrassom. Lá, ela percebeu que nosso filho estava começando a sofrer as penas da pressão que permanecia alta. Ao retornar ao quarto, a doutora decretou: “Vamos ter que tirar o bebê. Ele vai ter que nascer agora à noite!”.

As horas que se seguiram foram intensas demais para continuar a contar aqui. Prosseguiremos semana que vem.

Deus o abençoe.

Próximo texto.

 

 


Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.

 

3 Comentários

  1. Maria do Carmo F. Benício

    A fé nos deixa fortes nas tribulações… é inacreditável!

  2. Oi muito lindo o testemunho tbm vivemos essa msma experincia com o nosso primeiro filho tbm em 2009 minha pressao chegou a 28/16 e devido a 3 paradas cardiacas tiveram que tirar o joao paulo imediatamente com 28semanas de gestaçao . Deus fe e familia e amigos faz muita diferença nessas horas de sofrimento ….

  3. Acompanhando Roger. Muito lindo e emocionante o testemunho de vcs!

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