Como foi importante a presença dos amigos e irmãos de comunidade no momento de dor!

No último texto que publiquei, falei sobre a situação de minha esposa, Elisa, que estava internada na UTI de um hospital, com quadro de eclâmpsia, no sexto mês de gestação de nosso primeiro filho. Contei sobre minha angústia à espera de notícias e os cuidados que recebi de amigos que foram essenciais naquele momento da minha vida.

Na hora da provação, a importância de um amigoFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Neste texto, vamos continuar a narrativa dos momentos de UTI vivido por minha família

Passei todo aquele primeiro dia no hospital esperando por notícias. O horário de visitas, na UTI, era somente às 15h30, mas como a iminência da morte de ambos havia sido muito forte, quis ficar ali para questionar quem eu pudesse sobre o estado dela. Também não queria deixar a Elisa ali. Resistia à ideia. Queria ficar perto dela e queria que ela me sentisse ali, próximo, mesmo que isolada de mim.

Elzinha, nossa amiga, passou o dia comigo. Era ela quem tomava conta do telefone, para evitar que eu tivesse de explicar novamente o que houve. Estávamos na recepção do hospital. Durante o dia, fui recebendo visitas de vários membros da Comunidade Canção Nova, da qual faço parte. Aflitos, eles queriam saber notícias da minha esposa e de mim.

Finalmente, havia chegado a hora da visita. Há um monte de procedimentos para entrar na UTI. Lembro-me, como se fosse hoje, de tão marcante que foi! A lavagem das mãos, as roupas que temos de usar, a touca e o médico plantonista a nos recepcionar na porta, dando a avaliação de cada enfermo e indicando o local da cama no salão. Ela estava com a pressão controlada, mas ainda muito alta. Logo que chegou ao hospital, a pressão dela foi aferida e marcava 18×12. Fiquei imaginando quanto deveria estar no momento da convulsão ainda em casa! No momento da visita, já estava em torno de 16×10. Para uma pessoa, cuja pressão é 10×6, ainda era assustador.

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Mal consegui digerir a situação

Entramos Elzinha e eu na UTI. Quase não conversávamos, pois a emoção era demasiada. O tempo da visita era somente de 30 minutos. Passamos a maior parte disso nos encorajando uns aos outros. A Elisa estava preocupada comigo, aflita por saber do meu sofrimento. Eu procurava dar-lhe forças, tentando dar algum fragmento de sentido àquilo tudo. Mal consegui digerir a situação e já me via obrigado a ajudá-la a digeri-la também.

“Aguente firme! Agora, as coisas já estão sob controle.” Mais choramos do que nos falamos. Porém, no fundo, sentíamo-nos agradecidos por ela estar viva e o bebê ainda estar ali; suas vidas terrestres ainda pulsando. Ao término da visita, retornei à recepção do hospital e permaneci ali até a noite.

A obstetra ia passar na UTI no fim do dia para avaliar a Elisa e me dar um retorno sobre a saúde dela. Poderia ter ido embora e ligado para ela, mas minha esperança era de que algo mudasse. Por isso, permaneci ali. Nada mudou, infelizmente; aliás, felizmente!

A médica sugeriu que eu fosse embora. Ela ia passar na UTI pela manhã do outro dia e somente aí faria nova avaliação para saber que providências tomar. Havia ainda a chance da retirada imediata do meu filho. Mas eram somente seis meses de gestação! As chances dele eram muito pequenas. No entanto, havia sido inserido medicamento para fortalecer seus pulmõezinhos, caso chegasse o momento de um nascimento prematuro.

Tive de deixar a Elisa lá e ir para casa

Como foi importante a presença dos amigos e irmãos de comunidade naquele momento! Todo o apoio da Dra. Márcia Mayumi e da Elzinha, que passaram o dia comigo, tantos que foram me visitar naquele dia! Tenho um grande amigo que se chama Gustavo Galdino. Quando ele soube do ocorrido, ainda pela manhã, tomou um carro e veio ao meu encontro. Ele estava a 180km de distância, mas não hesitou em estar comigo naquela hora. A Dra. Márcia Mayumi foi embora. Ficou ainda a Elzinha e o Gustavo para ir embora comigo do hospital.

Ao chegar em minha casa, o Pitter Di Laura já me aguardava. Nem ele nem o Gustavo me deixaram só naquela noite. Ambos me fizeram companhia naquela casa, que havia ficado enorme sem minha esposa. Além dos tantos amigos que me telefonavam, essas presenças me fizeram parar para dar ênfase, junto com você que me lê, à importância da família e dos amigos de verdade que temos nessa vida.

Meu Deus, quantos de nós perdemos tempo com pessoas que não querem o nosso bem de verdade! “Amigos” que mantemos, somente porque deles podemos obter favores; “amigos” das festas de fim de semana, “amigos” que colocamos ao nosso lado, porque são populares e, assim, poderemos ter, um dia, a chance de sermos populares também! Podem haver tantos motivos para mantermos relacionamentos fúteis!

Verifique, em sua vida, essa maligna inclinação de ter pessoas somente por algum interesse pessoal. É uma doença moral que possuímos em nossa cultura, que precisamos extirpar de nosso meio.

Seja você também um bom amigo, alguém com quem se pode contar. Não é possível passar bem por essa vida sozinho, sem dar nem receber amor.

Até semana que vem!

Deus abençoe você.

Próximo texto.


Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.

 

5 Comentários

  1. Sou evangélica, creio em tudo que relatou, porque só existe um Deus que podemos clamar e um pai não dá pedra para um filho que pede pão.

    Valda
    Rio de Janeiro

  2. Patrícia Martins

    Quem tem amigos. ..encontrou verdadeiros tesouros! !!

  3. FABIANA DOS SANTOS

    Fiquei doente um tempo atrás,fui operada de uma Hernia Umbilical de emergência,fiquei internada,após a minha cirurgia minha melhor amiga Ana Paula,entrou no quarto com o travesseiro na mão,pijama na sacola,pronta pra dormir comigo no hospital comigo para que a minha mãe fosse pra casa descansar.

    Dentre outras MUITAS coisas que vivemos na nossa IRMANDADE essa é uma coisa que vivemos juntas que eu NUNCA vou esquecer,conversávamos a noite inteira no hospital,rezamos,choramos,rimos juntas.

    Amizade verdadeira,um tesouro que encontramos na vida.
    Coisas de Deus.

  4. Cristiane Gesuatto F. Zuazquita

    Amigos… verdadeiros tesouros, que nos sustentam e encorajam no caminho…. ora de rosas, ora de espinhos!

  5. “Amigo é coisa para se guardar
    No lado esquerdo do peito
    Mesmo que o tempo e a distância digam “não”
    Mesmo esquecendo a canção
    O que importa é ouvir
    A voz que vem do coração.”

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