No artigo anterior, escrevi sobre os dias que passamos no hospital entre o momento que minha esposa sofreu a eclâmpsia até a hora em que a médica decidiu pelo nascimento de nosso filho. O tempo que se passou entre esses dois acontecimentos foi de quatro dias, ou seja, entre os dias 22 e 25 de abril de 2009. Estávamos no sexto mês de gestação.
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Ignorei qualquer sentido que poderia haver na morte de qualquer um dos dois
Na noite do dia 26, eu estava me preparando para ir embora do hospital, aguardando somente o resultado do ultrassom que foi feito na Elisa. Minha sogra ia ficar com ela. Ao chegar o diagnóstico, vimos que nosso filho estava começando a sofrer devido à pressão alta de minha esposa. Era preciso que ela subisse ao centro cirúrgico, pois o nosso bebê precisava nascer.
A doutora Ana, obstetra da Elisa, explicou que o curso normal daquela situação seria a pressão da Elisa descer quase tão logo o parto fosse feito. Com isso, surgiram dois sentimentos: uma angústia, por saber que nosso filho precisava ser tirado ao sexto mês de gestação, e que, apesar de ter tido tempo de o remédio acelerar o amadurecimento dos seus pulmões, seu estado ao nascer seria gravíssimo. O outro sentimento era de alívio, por saber que a Elisa ia se recuperar desse estado terrível e perigoso de pressão alta.
Choramos ao nos despedirmos. Não dava nem tempo de tentar assimilar tudo o que se passava em nós.
Tive medo de ser a última vez que eu fosse vê-la com vida
Minha sogra e eu ficamos ali no quarto sem dizer qualquer palavra. Aquele silêncio era fúnebre. Levantei-me e fui para a capela do hospital e ela foi comigo. Lá, clamamos com ardor para que Deus passasse à frente da cirurgia e os deixasse com vida.
Ignorei qualquer sentido que poderia haver na morte de qualquer um dos dois. Eu não aceitava administrar essa ideia! Lembrava-me das pessoas que pude acompanhar na partilha de seus sofrimentos e recordava para mim mesmo os conselhos que lhes dei. Mas, por mais que tentasse, não encontrava consolo para passar por tudo aquilo em paz e com confiança em Deus. Quantas perguntas! “Estou indisposto para carregar essa cruz? Será que perdi a confiança em Deus? Por que tínhamos de passar por aquilo? Não aceito a vontade de Deus? Em que erramos?”
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Veja que estou procurando ser o mais sincero possível, mostrando que isso faz parte da natureza de um sofrimento intenso. Não era qualquer coisa, mas a possibilidade de os perder era real. Sou gente igual a você. Se os tivesse perdido, seria preciso encontrar um sentido que me fizesse narrar tudo isso hoje! Nós não devemos colocar toda a nossa experiência com Deus em xeque-mate por conta de uma dificuldade.
Não tenho certeza que seja possível medir a intensidade de um sofrimento, pois isso muda de pessoa para pessoa, mas não dá para passar por essa vida sem sofrer. Faz parte da nossa condição humana. Precisamos estar dispostos a sofrer e fazer disso algo fecundo. Essas dores que enfrentamos, dia a dia, devem se tornar um caminho de encontro pessoal com nós mesmos e com Deus!
Ao voltar para o quarto, recebi a notícia de que o parto já havia acontecido. O André desceu na encubadora com a médica da UTI neonatal. Só consegui ver seu rostinho, que era um pouco maior que uma moeda, pois estava todo envolto com panos. Meu filho pesava 930g, um bebezinho minúsculo! E, após alguns dias, seu peso ainda caiu para 800g.
A médica me disse: “Papai, seu filho nasceu direitinho, chorou bastante! Mas é muito prematuro e seu estado é gravíssimo!”. Eu o vi somente pelo tempo que ela levou para dizer essa frase. Estava já entubado com oxigênio e seguiu para a UTI Neo. Naquele momento, minha preocupação era tão intensa quanto a alegria.
Informaram-me que eu poderia subir ao centro cirúrgico para saber da Elisa. Fui e fique ali em uma sala de espera, andando ansioso de um lado a outro. Após longa espera, eles a trouxeram. Elisa me disse, então, que estava sentindo o mesmo mal-estar da hora em que convulsionou. Chamei a médica. Ao atendê-la, levou-a para a UTI novamente.
Passado mais alguns minutos, pediram-nos para desocupar o quarto em que ela estivera internada, pois não iria sair da UTI naquela noite.
Sair do hospital sem ela
Tente imaginar o que é receber a notícia de ter de sair do quarto do hospital numa situação como essa. Uma mistura de frustração, humilhação e angústia. Ficar ali, no nosso coração, era o mesmo de estar ao lado dela, era o mesmo que ter a esperança de vê-la logo em seguida, era a boa notícia de ela ter se recuperado do pior! Sair era estar o tempo todo na angústia de qualquer má notícia. Era preciso arrumar toda a mala de volta, para sair do hospital sem a Elisa.
Estávamos construindo a ideia de permanecer ali juntos, após o parto, especialmente porque era isso que a médica esperava. Essa situação pegou a todos nós de surpresa. O alívio esperado não veio; ao contrário, veio uma nova carga de sofrimento e dor. Já havíamos passado por um tempo em que ela estava na UTI; eu sem ela e ambos sofrendo demais essa distância.
Minha sogra e eu saímos em silêncio e de cabeça baixa.
Poucos sabem, meu caro amigo. Minha esposa Camila teve ruptura da bexiga em nossa segunda gestação. Fiquei aos prantos com minha Ester recém – nascida em meus braços enquanto a mamãe entrava novamente na sala de cirurgia pois urina já tomava conta de seu corpo. Naquele momento, Deus veio ao meu encontro juntamente com Nossa Senhora que intercedeu por nós. Vi-me desnorteado e liguei a tv na canção nova. Foi tudo o que consegui fazer… minha Ester chorava por leite e eu fui amamentá – la com um copinho de café de leite de fórmula. Senti-me ao mesmo tempo triste e feliz. Sabia que Deus estaria no controle remoto. E foi assim: a nova cirurgia foi um sucesso e nossa pequenina Ester pôde retornar ao aconchego de sua mãe. Mãe esta sempre muito positiva e forte! Deus a recuperou em apenas 7 dias… urinando novamente sem auxílio de sua “bolsa de hospital”. Somente gratidão. Não somos dignos, mas Deus nos quer do jeitinho que somos…
Boa Noite,
Lendo agora me passou um filme em minha cabeça.
Pois passei por isso há 3 meses atrás… e por coincidência com também 26 semanas.
Agradeço a Deus e Nossa Senhora por terem ouvido minha súplica de mãe e terem nos dado a VITÓRIA.
Irmão que testemunho emocionante.. estou acompanhando semanalmente e vejo a sua fé diante de tribulações. Deus agindo na sua vida com seus milagres..
Pingback: Lutamos para nosso filho viverRoger de Carvalho