Semana passada, estava partilhando sobre o retorno de minha esposa à UTI após o parto prematuro de seis meses de nosso filho. Foi preciso retirá-lo devido ao flagelo da eclâmpsia que a Elisa passou.

Nesta semana, partilho como o quadro de saúde dela era grave, pois estava sofrendo muito devido à parada dos rins, a pressão elevada em demasia e o inchaço que a acometia.

No centro de hemodiálise, comecei a dar-lhe apoio e palavras de esperança para ela não desistir

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Foto: sudok1 / iStock. by Getty Images

Num desses dias em que fui visitá-la, coincidiu de ela estar descendo do andar da UTI e sendo levada para a hemodiálise. Pedi para visitá-la ali. Fui liberado, mas minha sogra não pôde entrar. Eu a encontrei em um estado de inchaço cada vez pior. Os médicos estavam administrando altas dosagens de diuréticos para “ressuscitarem” seus rins. Por isso, em cada sessão de hemodiálise, era retirado de seu corpo mais de cinco litros de água!

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Semana passada, tratamos dos momentos finais da gestação de nosso bebê e seu nascimento. Tão logo ele nasceu, minha esposa começou a passar muito mal, a ponto de ter que ser novamente conduzia à UTI. Minha sogra e eu fomos obrigados a ir embora do hospital deixando ambos, mãe e filho.

Como lidar com os sentimentos ao deixar minha esposa e meu filho na UTI entre a vida e morte?

Todas as pessoas com os quais partilhamos sobre os acontecimentos que precederam o nascimento do André demonstraram os mesmos sentimentos que nos possuía: frustração, angústia, humilhação… Juntava-se a isso uma grande compaixão pela minha situação e de nossos familiares presentes em casa.

 

Minha esposa e meu filho entre a vida e a morte na UTIFoto: Andrei Malov / iStock. by Getty Images

Após o parto, as complicações

A pressão da Elisa tornou a subir após o parto, contrariando assim toda a expectativa da médica e nossa. O processo normal de recuperação da eclâmpsia seria diminuir a pressão após a retirada do bebê, no entanto, essa certeza foi substituída por um descontrole total da pressão. Ela desenvolveu uma síndrome rara chamada Hellp, sofrendo novo aumento de pressão, inchaço e insuficiência renal aguda. Felizmente, ela não desenvolveu todo o quadro da síndrome, pois seria fatal. Eu nem sei quantos remédios de controle de pressão ela estava tomando, mas eram vários.

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No artigo anterior, escrevi sobre os dias que passamos no hospital entre o momento que minha esposa sofreu a eclâmpsia até a hora em que a médica decidiu pelo nascimento de nosso filho. O tempo que se passou entre esses dois acontecimentos foi de quatro dias, ou seja, entre os dias 22 e 25 de abril de 2009. Estávamos no sexto mês de gestação.

Nasce nosso filho ao sexto mês de gestaçãoFoto:herjua / iStock. by Getty Images

Você pode ler o texto anterior clicando aqui.

Ignorei qualquer sentido que poderia haver na morte de qualquer um dos dois

Na noite do dia 26, eu estava me preparando para ir embora do hospital, aguardando somente o resultado do ultrassom que foi feito na Elisa. Minha sogra ia ficar com ela. Ao chegar o diagnóstico, vimos que nosso filho estava começando a sofrer devido à pressão alta de minha esposa. Era preciso que ela subisse ao centro cirúrgico, pois o nosso bebê precisava nascer.

A doutora Ana, obstetra da Elisa, explicou que o curso normal daquela situação seria a pressão da Elisa descer quase tão logo o parto fosse feito. Com isso, surgiram dois sentimentos: uma angústia, por saber que nosso filho precisava ser tirado ao sexto mês de gestação, e que, apesar de ter tido tempo de o remédio acelerar o amadurecimento dos seus pulmões, seu estado ao nascer seria gravíssimo. O outro sentimento era de alívio, por saber que a Elisa ia se recuperar desse estado terrível e perigoso de pressão alta.

Choramos ao nos despedirmos. Não dava nem tempo de tentar assimilar tudo o que se passava em nós.

Tive medo de ser a última vez que eu fosse vê-la com vida

Minha sogra e eu ficamos ali no quarto sem dizer qualquer palavra. Aquele silêncio era fúnebre. Levantei-me e fui para a capela do hospital e ela foi comigo. Lá, clamamos com ardor para que Deus passasse à frente da cirurgia e os deixasse com vida.

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Eu já havia ouvido falar dessa palavra “eclâmpsia”, sabia que era algo mortífero, mas como tudo estava tão bem, como a gente estava andando tão certinho perante os médicos e Deus, essa situação parecia ser algo que nem precisávamos fazer menção. Na hora em que recebi essa notícia, a pergunta que me vinha era: “Ontem à noite, a gente rezou e colocou tudo nas mãos de Deus, pedimos para que Ele nos livrasse de todo mal. Será que não é um grande mal o risco de vida?”. A impressão era de que Deus não nos havia ouvido.

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Foto: annedde,iStock. by Getty Images

Deus se faz encontrar através da Eclâmpsia

Numa hora tão delicada quanto essa, com o risco iminente de perder minha esposa e meu bebê, eu só conseguia perguntar para Deus: “O que está acontecendo?”. Minha visão ficou turva e eu não conseguia enxergar um sentido para tudo aquilo. Acho que é, mais ou menos isso, que se passa com muitos de nós. More »