Vamos hoje a Igreja de São Paulo a Regola que segundo a tradição foi o local que o Apóstolo pode exercer seu ministério como pregador do Evangelho. Em uma antiguíssima Igreja, encontramos o quarto que viveu São Paulo. No centro da Igreja, existem 3 quadros de grande dimensão que retratam a Conversão, a pregação e o martírio do Apóstolo. Esta Igreja nos faz entender outra coisa, uma outra dimensão. O anuncio não começa grande, mas começa sempre de uma realidade menor. Porque a Verdadeira força do Anuncio é o Cristo presente e não aqueles que se fazem porta vozes.

                      

Durante todo o ano de 2008 em toda a Igreja está sendo celebrado o Ano Paulino. Iniciativas no mundo inteiro estão provocando um conhecimento maior sobre o Apóstolo Paulo. Esta semana, nossa equipe em Roma preparou uma série de reportagens que nos levará aos lugares mais significativos de São Paulo na cidade Eterna.  

Nesta semana especial sobre a vida de Paulo, teremos a companhia de vários estudiosos que nos levarão a conhecer com maior profundidade a figura deste grande apostolo.  

                     

Queridos irmãos e irmãs:

Hoje quero começar um novo ciclo de catequeses dedicado ao grande apóstolo São Paulo. A ele, como sabeis, está consagrado este ano que vai da festa litúrgica dos santos Pedro e Paulo, de 29 de junho de 2008, até a mesma data em 2009. O apóstolo Paulo, figura excelsa, quase inimitável, mas sempre estimulante, é-nos apresentado como um exemplo de total entrega ao Senhor e à sua Igreja, assim como de grande abertura à humanidade e às suas culturas. Vale a pena, portanto, que lhe dediquemos um lugar particular, não só em nossa veneração, mas também que nos esforcemos por compreender o que ele pode dizer também a nós, cristãos de hoje. Em nosso primeiro encontro, consideraremos o ambiente no qual ele viveu e atuou. Um tema assim pareceria que nos remonta muito atrás, dado que temos de introduzir-nos no mundo de dois mil anos atrás. E, contudo, isso é verdade só em aparência e parcialmente, pois poderemos constatar que, desde diferentes aspectos, o contexto sócio-cultural de hoje não é muito diferente ao de então. 

Um fator primário e fundamental que se deve ter presente está constituído pela relação entre o ambiente no qual nasce e se desenvolve Paulo e o contexto global no qual sucessivamente se integra. Ele procede de uma cultura sumamente precisa e circunscrita, certamente minoritária, a do povo de Israel e de sua tradição. No mundo antigo, e particularmente dentro do império romano, como nos ensinam os especialistas, os judeus deviam ser cerca de 10% da população total. Aqui, em Roma, sua porcentagem em meados do século I era ainda menor, alcançando um máximo de 3% dos habitantes da cidade. Suas crenças e seu estilo de vida, como acontece ainda hoje, diferenciavam-nos claramente do ambiente circunstante. Isso podia ter dois resultados: ou a ridicularização, que poderia levar à intolerância, ou a admiração, que se expressava em formas de simpatia, como no caso dos «temerosos de Deus» o dos «prosélitos», pagãos que se associavam à sinagoga e compartilhavam a fé no Deus de Israel. Como exemplos concretos dessa dupla atitude podemos citar, por um lado, o duro juízo de um orador, como Cícero, que desprezava sua religião e inclusive a cidade de Jerusalém (cf. Pro Flacco, 66-60), e, por outra, a atitude da mulher de Nero, Popéia, recordada por Flávio Josefo como «simpatizante» dos judeus (cf. Antiguidades judaicas 20, 195. 252; Vida 16), sem esquecer que Julio César lhes havia reconhecido oficialmente direitos particulares, que são referidos pelo mencionado historiador judeu Flávio Josefo (cf. ibidem, 14, 200-216). O que é seguro é que o número dos judeus, tal como continua acontecendo hoje, era muito superior fora da terra de Israel, ou seja, na diáspora, no território que os demais chamavam de Palestina. 

Não surpreende, portanto, que o próprio Paulo seja objeto deste duplo e contrastante juízo do qual falei. Há algo certo: o caráter particular da cultura e da religião judaica encontrava tranquilamente seu lugar dentro de uma instituição que tudo penetrava, como o Império Romano. Mais difícil e sofrida será a posição do grupo daqueles, judeus ou gentios, que aderirão com fé à pessoa de Jesus de Nazaré, na medida em que se diferenciarão tanto do judaísmo como do paganismo imperantes. Em todo caso, dois fatores favoreceram o compromisso de Paulo. O primeiro foi a cultura grega, ou melhor, helenista, que depois de Alexandre Magno havia se convertido em patrimônio comum ao menos no Mediterrâneo oriental e no Oriente Médio, ainda que integrando em si muitos elementos das culturas de povos tradicionalmente considerados como bárbaros. Um escritor da época afirma que Alexandre «ordenou que todos considerassem como pátria todo o ecúmeno… e que o grego e o bárbaro deixassem de matar-se» (Plutarco, De Alexandri Magni fortuna aut virtute, §§ 6.8). O segundo fator foi a estrutura político-administrativa do império romano, que garantia paz e estabilidade, desde Bretanha ate o sul do Egito, unificando um território de dimensões como nunca antes se havia visto. Neste espaço era possível mover-se com suficiente liberdade e segurança, desfrutando, entre outras coisas, de um sistema extraordinário de estradas, e encontrando em cada ponto de chegada características culturais básicas que, sem estar em detrimento dos valores locais, representavam um tecido comum de unificação super partes, até o ponto de que o filósofo judeu Fílon de Alexandria, contemporâneo do próprio Paulo, elogiava o imperador Augusto porque «uniu em harmonia todos os povos selvagens … convertendo-se em guardião da paz» (Legatio ad Caium, §§ 146-147). 

A visão universalista típica da personalidade de São Paulo, ao menos do Paulo cristão que surgiu após a queda no caminho de Damasco, deve certamente seu impulso básico à fé
em Jesus Cristo, enquanto a figura do Ressuscitado supera todo particularismo. De fato, para o apóstolo, «já não há judeu nem grego; nem escravo nem livre; nem homem nem mulher, já que todos vós sois um
em Cristo Jesus» (Gálatas 3, 28). No entanto, a situação histórico-cultural de seu tempo e ambiente também influíram em suas opções e compromisso. Alguém definiu Paulo como «homem de três culturas», levando em conta sua origem judaica, seu idioma grego e sua prerrogativa de «civis romanus», como testemunha também o nome de origem latina. 

Deve-se recordar em particular a filosofia estóica, que era dominante no tempo de Paulo e que influenciou, ainda que de maneira marginal, inclusive o cristianismo. Neste sentido, não podemos deixar de mencionar alguns nomes de filósofos estóicos como os iniciadores Zenão e Cleantes, e depois os dos mais próximos cronologicamente de Paulo, como Sêneca, Musônio e Epicteto: neles se encontram valores elevadíssimos de humanidade e de sabedoria, que serão acolhidos naturalmente pelo cristianismo. Como escreve acertadamente um especialista na matéria, «a Stoa… anunciou um novo ideal, que certamente impunha deveres ao homem para com seus semelhantes, mas ao mesmo tempo o libertava de todos os laços físicos e nacionais e fazia dele um ser puramente espiritual» (M. Pohlenz, 
La StoaI, Firenze 1978, pág. 565). Basta pensar, por exemplo, na doutrina do universo, entendido como um grande corpo harmonioso e, portanto, na doutrina da igualdade entre todos os homens sem distinções sociais, na igualdade, ao menos em teoria, entre o homem e a mulher, e no ideal da sobriedade, da justa medida, e desse domínio de si mesmo para evitar todo excesso. Quando Paulo escreve aos Filipenses «tudo o que há de verdadeiro, de nobre, de justo, de puro, de amável, de honrável, tudo o que for virtude e coisa digna de elogio, tudo isso levai-o em conta» (Filipenses 4, 8), não faz mais que retomar uma concepção estritamente humanista, própria da sabedoria filosófica. 

Na época de São Paulo, acontecia também uma crise da religião tradicional, ao menos em seus aspectos mitológicos e inclusive cívicos. Depois de que Lucrécio, já um século antes, sentenciara polemicamente que «a religião provocou tantas más ações» (De rerum natura, 1, 101), um filósofo como Sêneca, superando todo ritualismo exterior, ensinava que «Deus está perto de ti, está contigo, está dentro de ti» (Cartas a Lucílio, 41,1). Do mesmo modo, quando Paulo se dirige a um auditório de filósofos epicuristas e estóicos no Areópago de Atenas, diz textualmente que «Deus… não habita em santuários fabricados por mãos humanas…, pois nele vivemos, nos movemos e existimos» (Atos dos Apóstolos 17, 24.28). Deste modo, ele se faz certamente eco da fé judaica
em um Deus que não pode ser representado em termos antropomórficos, mas se põe também em uma longitude de onda religiosa que seus ouvintes conheciam bem. Também temos de levar em consideração o fato de que muitos dos cultos pagãos prescindiam dos templos oficiais da cidade e se desenvolviam em lugares privados que favoreciam a iniciativa dos adeptos. Portanto, não surpreendia que também as reuniões cristãs (as ekklesiai), como testemunham sobretudo as cartas de São Paulo, acontecessem em casas privadas. Naquela época, por outro lado, não existia ainda nenhum edifício público. Portanto, as reuniões dos cristãos deviam ser vistas pelos contemporâneos como uma simples variação dessa prática religiosa mais íntima. De qualquer forma, as diferenças entre os cultos pagãos e o culto cristão não são de pouca importância e afetam tanto a consciência da identidade dos participantes como a participação em comum de homens e mulheres, a celebração da «ceia do Senhor» e a leitura das Escrituras. 

Em resumo: ao relembrar o ambiente cultural do século I da era cristã, fica claro que não é possível compreender adequadamente São Paulo sem situá-lo no contexto tanto judeu como pagão de seu tempo. Deste modo, sua figura adquire uma profundidade histórica e ideal, demonstrando elementos compartilhados e originais com relação ao ambiente. Mas tudo isso é igualmente válido para o cristianismo em geral, do qual o apóstolo Paulo é um paradigma de primeiro plano, de quem todos temos ainda tanto que aprender e este é o objetivo do Ano Paulino: aprender de São Paulo a fé, aprender dele quem é Cristo, aprender, em definitivo, o caminho para uma vida reta. 

O Papa saudou os peregrinos em língua portuguesa:Amados peregrinos vindos do Brasil e todos os presentes de língua portuguesa, de coração vos saúdo com votos de que esta vossa paragem junto do túmulo dos Príncipes dos Apóstolos, Pedro e Paulo, revigore os laços cristãos que fazem de todos nós a mesma e única Igreja espalhada até aos confins do mundo. Que o amor de Deus reine nos vossos corações… e a terra será nova. As maiores felicidades para cada um de vós e vossos queridos, com a Bênção que vos dou em nome do Senhor. 

Em ocasião aos 2000 anos do nascimento do Apóstolo Paulo, aconteceu na Basílica Santa Maria dos Anjos e Mártires em Roma, um concerto festivo. Durante o espetáculo foi entregue a chamada Carta da Paz às personalidades da cultura e comunicação, muitas delas da própria Sociedade de São Paulo e da Congregação Pia.

 

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Santidade e Delegados irmãos, Senhores Cardiais, Venerados irmãos no Episcopado e no sacerdócio, caros irmãos e irmãs,

Estamos reunidos ao lado da tumba de São Paulo, no qual nasceu a dois mil anos, em Tarso na Turquia. Quem era Paulo? No templo de Jerusalém, diante da multidão que o queria matar, ele apresentava a si mesmo com estas palavras: “ Eu sou um Judeu, nascido em Tarso, mas cresci nesta cidade (Jerusalém), formado na escola de Gamalieu nas mais rígidas normas da lei paterna, cheio de zelo por Deus … (AT 22,3). Ao final do seu caminho falou de si mesmo: “fui constituído pregador, apóstolo e doutor dos gentios, na fé e na verdade. (1Tm 2,7; cfr 2Tm 1,11). Mestre dos gentios, apóstolo e anunciador de Jesus Cristo, assim ele se caracterizava em um olhar retrospectivo no percurso da sua vida. Mas com isto o olhar não è somente para o passado. “Mestre dos gentios” – esta palavra se abre para o futuro, em direção a todos os povos e todas as gerações. Paulo não é para nós uma figura do passado, que recordamos com veneração. Ele è também o nosso mestre, apóstolo e anunciador de Jesus Cristo.

Estamos reunidos não para refletir sobre uma história passada, irrevogavelmente superada. Paulo quer falar conosco – hoje. Por isso quis instituir este especial “ Ano Paulino”: para escutá-lo e para aprender com ele, como o nosso mestre, «a fé e a verdade», nas quais são introduzidas as razões da unidade entre os discípulos de Cristo. Nesta perspectiva quis acender, para este bi-milênio do nascimento do Apóstolo, uma especial “Chama Paulina”, que ficara acessa durante todo o ano em um especial braseiro colocado no pórtico da Basílica. Para solenizar esta celebração inaugurei também chamada assim “ Porta Paulina”, pela qual entrei na Basílica acompanhado pelo Patriarca de Constantinopla, do Cardeal arcipreste e de outras autoridades religiosas. É para mim motivo de profunda alegria que a abertura do “Ano Paulino” assuma um particular caráter ecumênico com as presenças de numerosos delegados e representantes de outras Igrejas e Comunidades eclesiais, que acolho com coração aberto. Saúdo em primeiro lugar Sua Santidade o Patriarca Bartolomeu l e os membros da delegação que o acompanha, como porém o grande grupo de leigos que das varias partes do mundo vieram a Roma para viver com ele e com todos nós estes momentos de orações e de reflexões. Saúdo os Irmãos delegados das diversas Igrejas que tem um vinculo particular com o Apóstolo Paulo – Jerusalém, Antioquia, Cipro, Grécia – e que formam o ambiente geográfico da vida do Apóstolo antes da sua chegada
em Roma. Saúdo cordialmente os irmãos das diversas Igrejas e comunidades eclesiais do Oriente e do Ocidente, unidos quiseram tomar parte deste solene início do “ Ano” dedicado ao Apóstolo dos Gentios.

Portanto, estamos aqui para interrogarmos sobre o grande Apóstolo dos gentios. Não nos perguntamos somente: Quem era Paulo? Nos perguntamos sobretudo: Quem é Paulo? O que ele diz para mim? E nesta hora, no inicio do “Ano Paulino” que estamos inaugurando, gostaria de escolher do rico testemunho do Novo Testamento, três textos, no qual aparece a sua fisionomia interior, o especifico do seu caráter. Na carta aos Gálatas ele nos dá uma profissão de fé muito profissional, no qual abre o seu coração diante aos leitores de todos os tempos e revela qual é o estimulo mais íntimo da sua vida. “Eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gal 2,20). Tudo isto que Paulo faz, parte deste centro. A sua fé e a experiência do ser amado por Jesus Cristo em um modo todo pessoal; é a consciência do fato que Cristo enfrentou a morte não por algo anônimo, mas por amor a ele – de Paulo- e que, como Ressuscitado, o ama sempre, isto é, que Cristo se doou por ele. A sua fé é o ser atingido pelo amor de Jesus Cristo, um amor que o transforma no seu mais intimo. A sua fé não é uma teoria, uma opinião sobre Deus e sobre o mundo. A sua fé é o impacto do amor de Deus sobre seu coração. E assim esta mesma fé é o amor por Jesus Cristo.

Paulo muitas vezes vem apresentado como um homem combatente que sabe manejar a espada da palavra. De fato sobre o seu caminho de Apóstolo não faltam as disputas. Não procurou uma harmonia superficial. A primeira de suas cartas, aquela voltada aos Tessalonicenses, ele mesmo disse: “Tivemos a coragem …. de vos anunciar o evangelho de Deus em meio a muitas lutas…. Com efeito, nunca usamos de adulação, como sabeis, nem fomos levados por fins interesseiros” (I Ts 2,2.5). A verdade que tinha experimentado no encontro com o Ressuscitado, por ele merecia a luta, a perseguição, o sofrimento. Mas isto que o motivava no mais profundo, era o ser amado por Jesus Cristo e o seu desejo de transmitir aos outros este amor. Paulo era um homem atingido por um grande amor, e toda a sua obra e sofrimento se explica só a partir deste centro. Os conceitos fundamentais do seu anuncio se compreendem unicamente em base disso. Pegamos somente uma das suas palavras- chave: a liberdade. A experiência do ser amado até o fim por Cristo o havia aberto os olhos sobre a verdade e sobre a via da existência humana- aquela experiência abraçava tudo-. Paulo era livre como um homem amado por Deus que, na virtude de Deus, era agradecido por amar junto com Ele. Este amor é agora a “lei” da sua vida e também é a verdade da sua vida. Ele falava e agia, movido pela responsabilidade do amor. Liberdade e responsabilidade são aqui unidos em modo indivisível. Porque está na responsabilidade deste amor e não toma a liberdade como pretexto para arbítrio e o egoismo. No mesmo espírito, Agostinho formulou a frase que se tornou mais famosa: Dilige et quod vis fac (Tract. in 1Jo 7 ,7-8)- ama e faz o que queres. Quem ama Cristo como o amou Paulo, pode verdadeiramente fazer aquilo que quer, porque o seu amor está unido a vontade de Cristo e assim a vontade de Deus; porque a sua vontade é ancorada na verdade e porque a sua vontade não é mais simplesmente vontade sua, arbítrio do eu autônomo, mas é integrada na liberdade de Deus e dela recebe a estrada a percorrer.

Na busca da fisionomia interior de São Paulo gostaria, em segundo lugar, recordar a palavra que Cristo ressuscitado o fez na estrada a caminho de Damasco: Primeiro o Senhor pergunta: “ Saulo, Saulo, porque me persegues?” A pergunta: “ Quem és, Senhor?” Vem dada a resposta: “ Eu sou Jesus que tu persegues”. (At 9,4s). Perseguindo a Igreja, Paulo perseguia o mesmo Jesus. “ Tu me persegues”. Jesus se identifica com a Igreja em um só sujeito. Nesta exclamação do Ressuscitado, que transformou a vida de Saulo, no fundo está contida toda a doutrina sobre a Igreja como Corpo de Cristo. Cristo não se retirou do céu, deixando sobre a terra rastros de seguidores que levam adiante “ a sua causa”. A Igreja não é uma associação que quer promover uma certa causa. Nela não se trata de uma causa. Nela se trata da pessoa de Jesus Cristo, que também como Ressuscitado permaneceu “carne”. Ele tem “carne e osso” (Lc 24,39), afirma o Ressuscitado em Lucas, frente aos discípulos que o haviam considerado um fantasma.. Ele tem um corpo. È pessoalmente presente na sua Igreja, “Cabeça e Corpo”, formando um único sujeito, diria Agostinho. “Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo?” escreve Paulo aos Corintios (I Cor 6,15). E acrescenta: como, segundo o Livro dos Gêneses, o homem e a mulher se tornam uma só carne , assim Cristo com os seus se tornam um só espírito, isto é, um único sujeito no mundo novo da ressurreição ( I Cor6,16ss). Em tudo isto se mostra o mistério eucarístico, no qual Cristo doa continuamente o seu Corpo e faz de nós o seu Corpo: “ O pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão” ( I cor 10,16ss), com estas palavras se dirige a nós, nesta hora, não somente Paulo, mas o próprio Senhor: Como puderam dilacerar o meu Corpo? Diante da face de Cristo, esta palavra se torna ao mesmo tempo uma súplica urgente: volta a unir-nos depois de todas as divisões; faz que hoje se torne novamente realidade. Há um único pão, por isso, nós, embora muitos, somos um único corpo. Para Paulo a palavra sobre a Igreja como Corpo de Cristo não è qualquer comparação. É muito mais que uma comparação. “ Por que me persegues?” Continuamente Cristo nos atrai para dentro do seu Corpo, edifica o seu Corpo a partir do centro eucarístico, que para Paulo é o centro da existência cristã, em virtude da qual todos, e também cada um pessoalmente pode experimentar: Ele me amou e se deu por mim.

Gostaria de concluir com uma palavra trazida por São Paulo na prisão, uma exortação a Timóteo, diante da sua morte. “mas sofre comigo pelo evangelho”, disse o Apóstolo ao seu discípulo ( 2 Tm 1,8). Nesta palavra, que esta no final das vias percorridas pelo Apóstolo como testamento retorna ao início de sua missão. Enquanto, depois do seu encontro com o ressuscitado, Paulo se encontrava cego na sua estadia em Damasco, Ananias é encarregado de ir até o perseguidor que esperava e de colocar suas mãos, para que recuperasse a vista. À objeção de Ananias que este Saulo era o perseguidor perigoso dos cristãos, vem a resposta: Este homem deve levar o meu nome aos povos e reis “. Eu o mostrarei quando deverá sofrer por meu nome”. (At 9,15). O dever do anuncio e o chamado ao sofrimento por Cristo estão sempre juntos. O chamado a se tornar o mestre dos gentios é ao mesmo tempo e intrinsecamente um chamado ao sofrimento na comunhão com Cristo, que nos redimiu mediante a sua Paixão. Em um mundo no qual a falsidade è potente, a verdade se paga com o sofrimento. Quem quer evitar o sofrimento, afastá-lo de si, tem afastada a própria vida e sua grandeza; não pode ser servidor da verdade nem mesmo servidor da fé. Não tem amor sem sofrimento – sem o sofrimento da renúncia de si mesmo, da transformação e purificação do eu e para a verdadeira liberdade. Lá onde não tem nada porque vale a pena sofrer, também esta mesma vida perde o valor. A Eucaristia- o centro do nosso ser cristão- se fundamenta no sacrifício de Jesus por nós, nasceu do sofrimento do amor, que na Cruz encontrou o seu cume. Deste amor que si dá nós vivemos. Isso nos dá a coragem e força de sofrer com Cristo e por Ele neste mundo, sabendo que assim mesmo a nossa vida se torna grande, madura e verdadeira. À luz de todas as cartas de São Paulo vemos como no seu caminho de mestre dos gentios se cumpre a profecia de Ananias no momento do chamado: “ Eu o mostrarei o quanto deverá sofrer por meu nome”. O seu sofrimento o fez acreditado como mestre da verdade, que não busca a própria vantagem, a própria glória, o pagamento pessoal, mas se empenha por Aquele que nos amou e seu doou por nós.

Neste momento agradeço ao Senhor, porque chamou Paulo, restituindo-o luz dos gentios e mestre de todos nós, e te pedimos: Dai-nos também hoje o testemunho da ressurreição, atraídos pelo seu amor capaz de levar a luz do Evangelho em nosso tempo: São Paulo, rogai por nós! Amém.