02. novembro 2020 · Comentários desativados em SÍNDROME DO CORACÃO PARTIDO · Categories: CORAÇÃO SAUDÁVEL, Coração da Mulher · Tags: ,

Uma senhora de 80 anos chegou a Unidade de Emergência queixando-se que acordou durante a noite com forte dor no peito, que se irradiava para o braço esquerdo, com falta de ar e chiado no peito. Imediatamente chamou a neta, que dormia a seu lado que ao vê-la pálida e ofegante, levou-a imediatamente ao pronto socorro mais próximo. Após ser atendida pela equipe de plantão, veio a hipótese diagnóstica: Síndrome Coronariana Aguda. Familiares preocupados pediram-me que assumisse o caso, imediatamente dirigi-me ao hospital.

Quando cheguei a UTI, onde estava internada, ao ver os exames iniciais, vi que existia uma desproporção entre o seu quadro clínico e os achados tanto laboratoriais como eletro e ecocardiográficos, pois embora os sintomas fossem sugestivos de infarto do miocárdio, os exames mostravam pequenas alterações e o eletrocardiograma era praticamente normal. 

O quadro de falência miocárdica foi se estabilizando, as custas de medicações que promoviam aumento da pressão arterial, que estava muito baixa e que melhoravam a circulação, ou seja, ela começou a respirar melhor, as extremidades, antes frias, já estavam quentes. Ela estava superando o quadro inicial, extremamente grave.

No dia subsequente, como os exames ainda estavam com resultados pouco expressivos, optei por um cateterismo cardíaco, procedimento obrigatório nas síndromes coronarianas agudas. Ao ver as condições do seu coração, na sala de hemodinâmica, vi que estávamos na presença, não de um infarto do miocárdio, mas sim de uma situação descrita em 1990 por um pesquisador japonês, Sato, a síndrome de Takotsubo (ST), também conhecida como Síndrome do Coração Partido. (1)

Essa síndrome, reconhecida como cardiopatia aguda induzia pelo estresse, tem uma apresentação clínica dramática, imitando infarto do miocárdio e a marca registrada dessa condição é a sua associação com um grande estresse emocional ou físico que pode precipitar o seu início. O seu diagnóstico é feito através do cateterismo cardíaco onde observamos artérias coronárias desobstruídas, ao lado de grau importante de mau funcionamento do coração (disfunção do ventrículo esquerdo), que no exame mostra uma imagem característica que deu o nome a essa síndrome: um coração em forma de um takotsubo, que é um cesto usado no Japão, para caçar polvos (2). O que difere do infarto do miocárdio é o fato dessa cardiopatia ser temporária, ou seja, o coração pode recuperar totalmente suas funções após 2 a 3 semanas, sem deixar sequelas.

Ainda não se sabe com certeza a fisiopatologia dessa síndrome, embora existam hipóteses que admitem uma relação causal com o excessivo nível de adrenalina descarregado pelas supra renais por ocasião de um estresse intenso. (3)

Os gatilhos para ocorrer essa síndrome podem ser psicológicos como estresse pós-traumático, perda de um ente querido, depressão, perdas econômicas, divórcio, separação etc. e/ou físicos, como atividade física intensa e exagerada, intoxicação por monóxido de carbono, hipotermia, uso de cocaína, álcool em excesso, retirada de opiáceos, e tantos outros. (4) Estudos recentes demonstraram a presença da ST em pacientes em tratamento da COVID-19. (5)

Estima-se que a ST esteja presente em 1-3% de pacientes com diagnóstico de IAM, estando em 5-6% de mulheres com suspeita desse quadro. É mais frequente em mulheres, com idade média de 60-70 anos, sendo que mulheres com mais de 55 anos tem cinco vezes mais risco de desenvolver a ST e um risco 10 vezes maior do que homens. (4)

A ST é originalmente caracterizada por ser benigna, mas estudos recentes tem demonstrado que ela tem morbidade e mortalidade comparável ao infarto do miocárdio, por conta das complicações que ocorrem durante a sua evolução e podem afetar mulheres com gatilho emocional independente de serem menopausadas. (4)

Fontes:                                                                       

1.         Dawson DK. Acute stress-induced (takotsubo) cardiomyopathy. Heart. 2018;104(2):96-102.

2.         Aparisi A, Uribarri A. Takotsubo syndrome. Med Clin (Barc). 2020. 

3.         Ghadri J-R, Wittstein IS, Prasad A, Sharkey S, Dote K, Akashi YJ, et al. International expert consensus document on Takotsubo syndrome (part II): diagnostic workup, outcome, and management. European Heart Journal. 2018;39(22):2047-62. 

4.         Ghadri J-R, Wittstein IS, Prasad A, Sharkey S, Dote K, Akashi YJ, et al. International Expert Consensus Document on Takotsubo Syndrome (Part I): Clinical Characteristics, Diagnostic Criteria, and Pathophysiology. European Heart Journal. 2018;39(22):2032-46. 

5.         Tsao CW, Strom JB, Chang JD, Manning WJ. COVID-19-Associated Stress (Takotsubo) Cardiomyopathy. Circ Cardiovasc Imaging. 2020;13(7):e011222.

Moisés Maimônides (1138-1240) disse: Coma como um rei de manhã, um príncipe ao meio-dia e um camponês no jantar”. Essa afirmação vem sendo comprovada pela ciência, através de inúmeros artigos publicados correlacionando a redução de ingesta de calorias com a longevidade.

Em uma ilha do Japão, Okinawa, a existência de pessoas longevas é grande, sendo que em 1995, 50 em cada 100.000 habitantes tinham idades maiores ou iguais a 100 anos, de 4 a 5 vezes mais centenários que residiam em outros países. A vida média dos moradores em Okinawa era de 83,8 anos e a máxima de 105 anos, enquanto que a dos outros japoneses era de 82 anos e 101 anos respectivamente, e nos EUA, era de 79 e 101 anos.

Porque essa diferença entre o tempo de vida? Comparando os residentes de Okinawa, verificou-se que ingeriam 17% calorias a menos do que o outros japoneses e 40% a menos do que os americanos. Entretanto em 2010, a expectativa de vida dos okinawas não foi muito diferente dos outros japoneses, havendo uma redução da longevidade. Isto ocorreu pela mudança alimentar por conta da ocupação americana da Segunda Guerra Mundial, fazendo com que os hábitos alimentares dos nascidos em Okinawa no pós-guerra se ocidentalizassem.

Vários estudos tem sido publicados comparando a importância da restrição calórica para uma vida saudável e mais longa. Uma forma capaz de se fazer uma restrição calórica é o jejum intermitente, 5:2, onde a pessoa faz jejum de 16 horas em 2 dias da semana e nos outros dias come normalmente.

Outros estudos vem demonstrando que devemos observar um ritmo circadiano para nos alimentar, isto é, observar horários do dia onde a alimentação é mais aproveitada pelo organismo. Um estudo recente conclui que comer com menor frequência, não petiscar, consumir café da manhã como maior refeição do dia, pode ser um método eficaz para prevenir o ganho de peso a longo prazo. Intervalo de 5 a 6 horas entre o café da manhã e o almoço e fazer o jejum durante a noite de, 18h a 19h, pode ser uma estratégia prática útil. 

Outro estudo recente revela que o hábito de não se alimentar no café da manhã está associado ao aumento do risco de infarto do miocárdio, AVC e morte.

Na minha clínica, tenho observado que a prática do jejum intermitente é valiosa para, além de reduzir o peso, diminuir o risco cardiovascular, conforme os estudos científicos recentes.

17. abril 2019 · Comentários desativados em Alimentos que combatem os efeitos danosos da poluição sobre o coração · Categories: Coração da Mulher, Envelhecimento Saudável, Hipertensão Arterial, Infarto · Tags: , , ,

            As doenças cardiovasculares são a ameaça mais importante para a saúde da população no século XXI.1A poluição do ar ambiente é um dos principais contribuintes para a mortalidade relacionada a doenças cardiovasculares em todo o mundo,

Análises recentes estimam  que mais de 1,5 milhão de mortes por doenças cardíacas isquêmicas anualmente são atribuíveis à exposição ambiental, daí reconhecer-se a poluição do ar ambiente como um importante fator de risco cardiovascular.

            O número de doenças causadas pela poluição atmosférica tem aumentando nos últimos 25 anos devido ao envelhecimento da população, aumento da prevalência de doenças crônicas e níveis de poluição nos países em desenvolvimento. Apesar dos esforços de muitas agencias controladoras da qualidade do ar ambiente em todo o mundo, muitos locais continuam a respirar um ar com níveis elevados de poluentes, admitindo-se que 90% da população mundial vivem em lugares onde os níveis de qualidade do ar excedem as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS)

            Como a poluição do ar exerce respostas locais e sistêmicas através de reações inflamatórias e estresse oxidativo ,  antioxidantes dietéticos podem interferir com os mecanismos subjacentes determinando melhoria nas funções celulares.

            Resultados recentes de vários estudos experimentais de curta duração demonstraram o potencial de suplementação com alimentos e nutrientes específicos para efeitos na saúde induzidos pela exposição aguda à poluição do ar. No entanto,um padrão alimentar saudável pode modificar a associação entre a exposição à poluição do ar a longo prazo.

            Uma dieta mediterrânea enfatiza o consumo de alimentos à base de plantas, azeite e ingestão moderada de álcool, fornecendo uma dieta altamente enriquecida em compostos antioxidantes e antiinflamatórios.

            Em um estudo em adultos idosos dos Estados Unidos , mostrou que a exposição crônica à poluição do ar ambiente foi significativamente associada a um aumento na mortalidade cardiovascular. Por outro lado, os participantes desse estudo que relatavam que adotavam os padrões alimentares da dieta mediterrânea, taxas significativamente mais baixas de mortalidade por doença cardiovascular, mesmo estando sob exposição prolongada à poluição do ar.

            Os resultados dessa investigacao sugerem que os padrões alimentares enriquecidos de alimentos e compostos antiinflamatorios e antioxidantes presentes na dieta do mediterrâneo pode fornecer proteção contra os efeitos adversos à saúdeinduzida pela exposição a longo prazo à poluição do ar ambiente.

            Assim, recomenda-se a adoção dos padrões alimentares da dieta do Mediterraneo para proteção dos efeitos deletérios da poluição do ar ambiente.

 

 

FONTE -10.1161/CIRCULATIONAHA.118.035742

  • De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 16,7 milhõesde pessoas morreram em 2002 devido às doenças cardiovasculares,
  • correspondendo a um terço de todas as mortes ocorridas nesse ano , em todo o planeta. Estima-se que em 2020 asdoencas cardíacas e o

Acidente vascular cerebral (ou derrame como erradamente ainda dizem) poderão ser responsáveis por mais de 20 milhões de mortes por ano.

  • As doenças cardiovasculares causam 8,5 milhões de mortes entre mulheres anualmente, sendo responsável por um terco de todas as mortes do sexo feminino no mundo todo. É a maior causa de morte entre as mulheres. Em países desenvolvidos, metade dessas
  • mortes ocorrem em mulheres com mais de 50 anos.
  • A doenca cardiovascular é a principal causa de morte na União Européia, ocasionando mais de 1,5 milhões de mortes por ano. De todas as mortes, 42 % sao devido a doenças cardiovasculares (46% homens e 38% mulheres).
  • Os dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que a taxa dos casos de doenca cardiovascular em homens foi maior na Finlândia e menor na China. Nas mulheres essa taxa foi maior na Grã Bretanha e menor na Espanha e na China.
  • Quinze milhões de pessoas sofrem de acidente vascular cerebral a cada ano e cinco milhões delas ficam com sequelas, impedindo-as de terem vida normal. Cinco milhões e meio de pessoas morreram devido ao AVC em 2002. A mortalidade é maior entre as mulheres do que entre os homens: três milhões de mulheres morrem dessaenfermidade por ano.
  • Cerca de 35 mil portugueses morrem anualmente por doenças cardiovasculares, que continuam a ser a principal causa de morte e representam um terço de toda a mortalidade da população em Portugal.Dessas mortes, calcula-se que 20 mil sejam por acidentes cerebrovasculares e mil por enfartes do miocárdio.
  • No Brasil os números também são sombrios, pois em 2016, quase 350.000 brasileiros morreram por problemas cardiovasculares, representando cerca de 30% de todas as causas de mortalidade .É fácil concluir, com esses dados oferecidos pelo
  • Ministério da Saúde, que essas expressivas taxas de mortalidade conduzem as autoridades sanitárias do país a um processo de busca dos fatores de risco que desencadeiam essas doencas, com o objetivo da prevencao dessas moléstias.
  • A doenca cardiovascular é mais comum na populacao acima dos 60 anos , embora venha
  • ocorrendo com mais frequência na população mais jovem. O risco de sofrer de doença cardiovascular aos 40 anos é de 49% em homens e 32% em mulheres, de acordo com o Framinghan Heart Study. Se atingir a idade de 70 anos livre da doenca, o risco cardiovascular é 35% em homens e 24% nas mulheres.

      Não existe doenca tão prevalente e tão dispendiosa para a sociedade quanto a doenca cardiovascular, daí a enorme preocupação em analisar os aspectos preventivos da enfermidade, tendo em vista o grande sofrimento causado nas famílias pela perda de entes queridos, bem como o enorme rombo financeiro causado em todos os sistemas de saúde do mundo todo.

Mais de 1 bilhão de pessoas atualmente correm o risco de deficiência de vitamina D em todo o mundo.Essa ocorrência exagerada de hipovitaminose D pode ser atribuída principalmente à diminuição exposição à luz solar (por exemplo, atividades ao ar livre reduzidas e poluição do ar), que é necessária para a produção de vitamina D induzida por raios ultravioletas (UV) na pele. Os níveis de radiação UV diminuem com o aumento da distância do equador da Terra durante os meses de inverno. Os negros absorvem mais UV na melanina da pele do que os brancos; portanto, os negros requerem mais exposição solar para produzir as mesmas quantidades de vitamina D. 

      Além dos problemas musculoesqueléticos, a deficiência de vitamina D tem sido associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares , especialmente hipertensão.

      A vitamina D (cerca de 80%) é sintetizada na pele a partir do 7-desidrocolesterol por meio da  radiação ultravioleta  B (UV). Cerca de 20% da vitamina D do sangue, vem de fontes alimentares, como peixes oleosos, gemas de ovos, leite fortificado, cereais, suco e iogurte  

      A vitamina D da pele, dieta ou suplementos orais incluindo vitamina D2 e ​​vitamina D3 são metabolizados no fígado em 25-hidroxivitamina D(25(OH)D. 25 (OH) D, é o principal metabolito circulante da vitamina D, e tem sido amplamente aceito como o marcador mais confiável para determinar o status da vitamina D, isto é, é o melhor exame laboratorial para se determinar os níveis da Vitamina D no organismo.

      Os receptores da vitamina D estão expressos em muitos outros tipos de células do nosso organismo, como no intestino delgado, nas glândulas paratireoides e nos rins, além de estarem também no sistema cardiovascular, no músculo esquelético e no sistema imunológico.

      A deficiência de vitamina D também foi fortemente correlacionada com doença arterial coronariana, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e morte. Deve-se  salientar , no entanto, que não existem ainda evidencias cientificas que comprovem ser a suplementação da Vitamina D uma ferramenta terapêutica eficaz na redução da ocorrência das doenças cardiovasculares.