Envelhecer é administrar perdas
No útero materno, ao nascermos perdemos toda a segurança, o calor, a tranqüilidade do seio maternal. Com o passar dos anos sempre vamos deixando para trás experiências boas ou más, os filhos crescem e os perdemos para o mundo. Por maior que seja o orgulho e a satisfação da vitória de um filho, sempre a sua ausência causara a sensação de perda.
Os filhos se vão, os netos vem, mas continuamos a envelhecer, continuamos a perder. A mãe dedicada que viveu toda a sua vida em função dos filhos esquecendo-se por muitas vezes do marido e de si mesma , repentinamente vê a sua casa e o que é pior , a sua vida vazia.De repente, com o casamento dos filhos e a sua normal independência , sente-se vazia por dentro, como se tivessem tirado algo de das suas entranhas.
A vida longe dos filhos, ao lado de um marido que as vezes nem conheceu direito, embora tenha convivido por muitos anos , se torna sem sentido , sem esperança e sem expectativa do amanhã. Nessa rotina traumática, ela vai se entregando cada vez mais ao seu infortúnio , preenchendo cada vez mais o seu vazio com a depressão e com elas todas as doenças que a acompanham, como o infarto, o derrame, o câncer culminando com a morte.
O homem, arrimo de família, chefe de uma prole, voz forte e dominadora no contexto familiar, de repente percebe-se perdendo toda essa posição. Sobrevive aos interpéries da vida, as perdas financeiras, as perdas familiares, a perda de posição social e a perda da sua saúde. Aquele homem forte, rude, dominador, de repente se torna frágil, fraco, doente e dependente de outrem para realizar as mínimas funções diárias. È triste ouvir as queixas de pacientes que de cabeças de proles chegam a depender dos filhos ( quando os tem presentes) para uma simples higiene intima:Desculpe-me pela frieza realística que dei a essa situação, mas infelizmente, na grande maioria das pessoas ela é verdadeira e impossível de modifica-la, pois a velhice com todas as suas perdas é inexorável. Nesta situação, a única coisa que podemos modificar é o final da historia, pois o vazio existencial sempre vai existir, mas podemos mudar o rumo de tudo, preenchendo o nosso interior com Deus. A partir do momento que encontramos o Senhor, isto é, quando realmente colocamos Deus como única e exclusiva direção da nossa vida, o nosso coração ficará cheio de esperança, repleto de expectativas de um mundo melhor, de um resto de vida feliz, com a certeza de um mundo muito melhor, ao lado de Deus.
Por essas razoes que a busca do sagrado se torna algo essencial durante o envelhecimento, não pelo fato de estar se aproximando a hora da morte, mas sim para preencher as lacunas que as perdas da vida nos deixaram. É na velhice que temos a ultima chance de nos encontrarmos com Deus.
Trecho do meu novo livro ” Envelhecer com Deus” Edições Loyola- São Paulo – 2012.