CCC = CRISTÃO, COERÊNCIA, CORAGEM

 

Esta postagem é dedicada a CARLOS, 20 anos, universitário, que há poucos dias me procurou para ter um pouco mais de luz em sua caminhada entre os escolhos deste nosso mundo.

Educado, gentil, sincero e reto, bom cristão, mas que aqui e ali esbarra em dificuldades e problemas que não sabe bem como enfrentar.

Penso que nossa conversa pode ser útil também para você. Aqui está ela, resumidamente.

Minha resposta às questões levantadas por ele pode ser sintetizada no título desta postagem: CCC = Cristão, Coerência, Coragem.

Em resumo, o que pensar, o que fazer, o que dizer, como comportar-se com as pessoas que você encontra no dia-a-dia, na escola, na universidade, no trabalho, no seu grupo, em bate-papos informais…? Que atitude tomar com o que você vê nas revistas, na TV, nos cinemas, nos livros…?

O mundo em que você vive é, sob um aspecto, o mundo maravilhoso de muitas pessoas boas e até santas; sob outro aspecto, é o mundo-cão que todos conhecemos.

Como Jesus disse, no campo do mundo brotam um ao lado do outro o trigo e o joio; não há como fugir disso.

Na parábola contada por Jesus, o patrão (Deus) não permitiu que o joio fosse arrancado para que no campo só crescesse o trigo; seria preciso esperar o dia da colheita, isto é, o fim dos tempos, quando, então, o trigo receberá um destino, o joio completamente outro.

Assim, meu amigo/a, na vida, você caminha em meio a um trigal e não há como evitar também o joio bem perto de você.

O que fazer?

Para começar, é preciso aceitar a realidade como ela é, coisa que o próprio Deus faz.

Ele, que é todo-poderoso, não teria nenhuma dificuldade em dobrar a vontade rebelde de quem caminha por caminhos que não são corretos e, assim, ter diante dos olhos um mundo só de “bonzinhos”.

Pelo contrário, esta foi – e continua sendo – uma das tentações da Igreja através de seus 20 séculos de história: sempre houve pessoas que queriam uma Igreja só de puros, de santos, de justos… (matando ou mandando logo para o inferno os pecadores): para essas pessoas, só deveria existir a Igreja dos eleitos!

Não! Não é isso o que Deus pensa! Ele espera com paciência.

Preste atenção: o ser humano foi criado, não como um boneco que Deus haveria de manipular a seu bel-prazer, o que faria do mundo um relógio de perfeição.

Não! Deus criou o ser humano dotado de inteligência e vontade, consciência e liberdade.

Dessa forma, o ser humano dispõe de certa autonomia, que Deus respeita mesmo quando você, por exemplo, decide opor-se à vontade do Criador.

É maior glória para Deus criar um ser humano que pode abusar da própria liberdade e agir contra a própria consciência, do que criar um boneco sem autonomia.

Por sua vez, é também maior glória para o ser humano se este, usando bem da liberdade e agindo conforme a consciência, caminha pela estrada que o leva de volta para Deus.

Sendo assim as coisas da vida, meu amigo/a, você precisa, repito, aceitar também a realidade negativa que ofusca a vida por meio do mal; não no sentido de aprová-la, mas pelo fato de ela estar aí.

É inútil irritar-se, inconformar-se, no anseio de “purificar” o ambiente.

Procure, isso sim, não ser como as pessoas que você vê andarem fora do caminho.

Você pode argumentar: como faço para conhecer o caminho correto?

Você é “cristão”: portanto, procure conhecer de que maneira Jesus ensina a pensar, a amar, a viver, a comportar-se; isto significa ser “discípulo”.

Informe-se, leia, estude, busque entender, pergunte, conheça; participe da vida da sua Igreja, ouça a Palavra de Deus, frequente os sacramentos, dedique-se a fazer o bem aos outros na medida em que sabe e pode, particularmente aos mais necessitados e aos mais ignorantes dos caminhos de Deus.

Dessa forma, você vai criando “dentro” de você uma série de “valores” humanos e cristãos que o manterão de pé mesmo em meio às tempestades.

Se você é o primeiro a tremer diante de um problema que alguém lhe apresenta…, como vai fazer? Vai ter condições de orientar os outros, se não consegue orientar a si mesmo/a?

Note, porém, que junto com o conhecimento do caminho de Cristo que a Igreja continuamente lhe propõe, você precisa ser “coerente” em sua vida.

Dispondo de suficiente formação, de um bom conjunto de valores e procurando ser coerente com eles, você está preparado/a para “ficar de pé”, mesmo quando a terra treme sob seus pés; ou seja, mesmo quando alguém desafia sua crença com alguma afirmação ou algum comportamento que não coincide com seus valores.

Além disso, encontrando pessoas que questionam seus valores, sua fé, seu comportamento, sua crença, trate-as sempre com bondade e paciência; mostre-se amigo; exponha o que você pensa e crê, com serenidade; se seu interlocutor aceitar suas argumentações, tudo bem; se não aceitar, limite-se a observar que você está simplesmente expondo seu modo de pensar e agir, mas que não quer impor a ele absolutamente nada; de fato, a Verdade se impõe por si mesma, embora nem sempre na hora e no tempo em que você quereria…

Meu amigo/a, andando por aí você ouve de tudo: fala-se de aborto, de eutanásia, de quando começa realmente a vida humana, de sexo, de aproveitar a vida, de “tirar vantagem de tudo”, de vender a própria alma ao diabo… e outras coisas mais.

Além do que se fala, você também vê comportamentos que nunca poderão ser os seus.

Afinal, como fazer? O que pensar? O que dizer?

É aqui que entra o CCC = Cristão, Coerência, Coragem.

Se você tem consciência de ser “cristão”, se procura ser “coerente”, também terá a “coragem” de reagir de acordo com os valores que você carrega dentro de seu coração.

Por que “coragem”? Porque ninguém consegue seguir a Cristo sem pagar o duro preço da cruz.

Que preço é este? Que cruz é esta?

A cruz de hoje, como Bento XVI disse aos jovens na sua recente visita à Inglaterra, nem sempre é a dos que derramaram o próprio sangue, como os mártires, mas ela consiste em se ver marginalizado, ridicularizado, excluído, considerado “careta” e outras coisas mais.

Nessa hora pode surgir a tentação: se é assim, vou ser como o camaleão, que muda de cor conforme o lugar em que está; ou seja, se é para pagar preço tão elevado, vou ser como todos os outros; aí serei acolhido no grupo e ninguém me excluirá.

Muito bem, você pode fazer isso, mas saiba que, de trigo, você passará a ser joio, e não sei se na hora da colheita isso vai valer a pena.

Jesus, olhando para você, dirá: que pena!
Esta foi em síntese a conversa com o Carlos.

Espero que ela seja útil também para você.

Dom Hilário