Santo Agostinho tinha um profundo desejo de conhecer a verdade
Desejo que ocasionava nele inquietudes quanto aos rumos de sua existência, mas a verdade deveria ser aquela que não são se sujeitasse as transformações.
A sua sede por esta tal verdade fez com que trilhasse muitos caminhos exteriores. Buscou-a com a razão, porém, com os sentidos da carne e não com a razão que o faz superior aos outros animais. No entanto, a partir dos ensinamentos de Santo Ambrósio que Santo Agostinho foi se encontrando com a verdade, pois ela estava mais dentro dele do que sua parte mais íntima, bem como, ensinou Sócrates ao concluir que se encontra no homem a verdade a partir do momento que ele se volta para si mesmo. Por isso, que percebeu a necessidade de si conhecer.
Segundo Santo Agostinho, só existe verdadeiramente o que permanece imutável e Deus é imutável, incorruptível. Ele é a verdade. Mas, para ter esta certeza fundamentou-se na filosofia grega que afirma que é através da inteligência que se alcança a verdade, porém, inclui a necessidade de ações volitivas, passionais, virtudes práticas e, sobretudo, da graça de Deus, porque o homem não pode tocar na verdade se não tiver a graça divina.
Para Sócrates e Platão, os vícios eram grandes empecilhos para se encontrar com a verdade, sendo necessária uma vida de austeridade, equilibrando os desejos, por conseguinte, o domínio de si mesmo e a ascese.
Defendiam que pela prática da virtude que o homem conseguiria alcançar o bem maior, o absoluto, tendo, portanto, a felicidade. Segundo Sócrates, a virtude era tão importante que poderia ser comparada a ciência, pois poderia ser ensinada e praticada. Neste caminho de encontro à virtude havia um determinismo moral, pois à medida que o homem aprende esse valor, ele vai estabelecendo leis que pode ser aplicada com um caráter universal. Se este homem conhece o que é virtuoso, ele escolherá de forma consciente o que é útil e inútil, optando por aquilo que é útil sempre, impondo sobre sua vontade.
Platão submete à razão a busca da virtude e condena o hedonismo, pois à virtude encontra-se no meio. Aquele que consegue estabelecê-la consegue constituir dentro de si mesmo a ordem, a harmonia. Desta forma, a virtude é um sinal da saúde da alma.
Ambos acreditam que para se trilhar este caminho virtuoso faz-se necessário a purificação, ou seja, a função catártica. Portanto, é preciso fazer mortificação dos desejos da carne evitando uma vida hedonista, bem como, tudo aquilo que é inútil para a o homem, aprisionando-o.
Os vícios foram uma das principais lutas pessoais de Santo Agostinho que, também, percebeu que eles eram empecilhos para se chegarem à verdade e a felicidade, sendo preciso à purificação dos atos imorais associados às paixões depravadas que profanam a natureza do homem.
Assim, o homem precisa lutar contra as três paixões que são fontes de iniquidade: poder, curiosidade e satisfação dos sentidos. Logo, para Santo Agostinho, da vontade perversa e corrompida nasce à paixão e; desta satisfeita procede ao hábito e, do hábito não contrariado provém à necessidade.
No entanto, para Santo Agostinho esta função catártica é colocada em segundo plano, pois o mais importante é o amor. O amor ajuda remover o que a inteligência não compreende e quem crer compreende mais. Assim, conhece-se a verdade amando-a e a verdade é Deus. À medida que se conhece esta verdade, mais se tem vontade de conhecê-la.
Com isso, quando o afeto da alma, frente dos prazeres carnais é imoderado, a vida é contaminada. Se a alma racional está viciada, Deus que é a luz tem a capacidade de iluminar esta alma. Assim, é preferível escolher o incorruptível ao corruptível, sendo questionável a felicidade fora da verdade.
É na prática do bem, na função catártica com a intervenção da graça de Deus que o homem é capaz de superar seus vícios e alcançar as virtudes, tendo como consequência a mudança de vida. Diferentemente da filosofia de Platão e Aristóteles que descartam uma intervenção divina para alcançar a vida virtuosa.
Consequentemente, a busca por esta vida virtuosa leva o homem usar bem o seu livre-arbítrio, que é o maior dom de Deus, fazendo o bom uso da sua vontade. Isso faz o homem ser mais livre. O mau uso da liberdade tem como congruência o afastamento de Deus, portanto, o homem fica afastado da verdade e da felicidade que estão contidas Nele.
Enfim, Santo Agostinho pôde sistematizar este caminho de encontro à virtude, de encontro à verdade, que é Deus, porque primeiramente solidificou em seu interior a verdade que encontrou dentro de si mesmo. Permitiu que sua história submetida muitas vezes aos descontroles de suas paixões se encontrasse com o Amor que é um conjunto de forças que leva o homem a um determinado caminho, escolhido pela consciência.
Assim há amores para serem amados e amores que não precisam ser amados. O aprendizado destas escolhas, que por sinal, leva um bom tempo da vida humana faz com que a vontade seja verdadeiramente livre, tendo como pano de fundo a graça de Deus para auxiliar nesta bela e árdua caminhada de descobrir a si mesmo.
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