A atenção e a devoção na oração do Rosário

Saiba qual a importância da atenção e a devoção na oração do Rosário da Virgem Maria.

São Luís Maria Grignion de Montfort nos ensina, no seu livro “O segredo do Rosário”, que para rezar bem, não basta fazer nossos pedidos por meio do Santo Rosário, a mais excelente de todas as orações, mas devemos rezar com toda concentração possível, porque Deus ouve mais a voz do coração do que a da boca. As distrações voluntárias durante a oração a tornam infrutífera e mostram uma grande falta de respeito e reverência para com o Senhor e a Virgem Maria, tornando-nos culpados de pecado.

A este respeito, o Santo pergunta: Como esperar que Deus nos ouça, se nós mesmos não prestamos atenção no que dizemos? Como nossa oração será agradável se, enquanto estamos na presença de Sua Santa Majestade, nós nos distraímos como as crianças correm atrás de borboletas? Quando assim procedemos, perdemos o direito às bênçãos de Deus e estas se transformam em desgraças, porque rezamos com falta de respeito. Isto é o que nos diz o profeta Jeremias: “Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor!” (Jr 48, 10a).

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Prevenir as distrações na oração do Santo Rosário

Certamente, é impossível rezar o Rosário sem pelo menos algumas distrações involuntárias, pois é difícil até mesmo rezar uma só Ave-Maria sem que nossa imaginação nos perturbe, pois está sempre inquieta. Contudo, o que podemos fazer é rezar o Rosário sem prestar atenção às distrações, prevenindo-as de várias formas, a fim de controlar a nossa imaginação.

Para prevenir as distrações, coloquemo-nos na presença de Deus e imaginemos que o Filho de Deus e a sua Mãe Santíssima estão nos olhando, e que o nosso Anjo da Guarda está à direita de nossa mão, recebendo as Ave-Marias bem rezadas, usando-as como rosas para coroar Jesus e Maria. Entretanto, lembremo-nos que à nossa esquerda está o demônio, observando nosso modo de orar, pronto para apoderar-se de cada Ave-Maria que não rezarmos com atenção, devoção e reverência. Acima de tudo, não esqueçamos de oferecer cada dezena em honra de um dos mistérios do Rosário e, enquanto estivermos rezando, tentemos imaginar Jesus e Maria em conexão o mistério que contemplamos.

Para compreendermos bem a importância da atenção em nossas orações, especialmente no Santo Rosário, vejamos um exemplo que nos é contado por São Luís Maria:

Lê-se na vida do Bem-aventurado Hermann, Padre premostratense, que, quando rezava o Rosário atenta e devotamente, ao meditar sobre os mistérios, Nossa Senhora costumava lhe aparecer resplandecente em majestade e beleza surpreendentes. Mas com o passar do tempo, seu fervor se esfriou e ele passou a rezar o seu Rosário de maneira rápida sem lhe dar total atenção. Então, um dia Nossa Senhora lhe apareceu novamente, só que desta vez ela não estava bonita, mas de semblante enrugado e triste. O Bem-aventurado Hermann ficou surpreso com a mudança dela, e então Nossa Senhora explicou: “É assim como eu pareço para ti, Hermann. É assim que tens me tratado na tua alma; como uma mulher desprezível e sem importância alguma. Por que tu não me cumprimentas mais, com respeito e atenção, meditando nos meus mistérios e louvando meus privilégios?”1

Lutar contra as distrações na oração do Rosário

O Terço Mariano bem rezado dá mais glória a Jesus e Maria, e é mais meritório para a nossa alma, que qualquer outra oração. Todavia, o Rosário também é a mais difícil de todas as orações para rezar bem e perseverar, principalmente porque as distrações são quase que inevitáveis, por causa da constante repetição das mesmas palavras.

Quando rezamos outras orações, que não sejam o Rosário, a variação das palavras e expressões nos ajuda a manter a atenção, prevenindo nossa imaginação de vaguear, e nos faz rezar melhor. Ao contrário, a constante repetição do Pai-Nosso e da Ave-Maria na oração do Rosário nos cansa facilmente, noz faz cochilar ou, o que é pior, nossa imaginação vai para muito longe. Por vezes nem são maus pensamentos que nos vêm à mente, mas acabam por nos tirar da oração, da meditação e da contemplação. Por isso, precisamos ter muito mais atenção e devoção para perseverar em rezar o Santo Rosário, do que em qualquer outra oração, ainda que sejam os Salmos.

Nossa imaginação, dificilmente fica quieta, ainda que por um minuto, e isso faz com que manter a atenção na oração seja ainda mais difícil. “A imaginação é uma doida – a doida da casa – como a qualificava Santa Teresa, com o seu habitual bom humor”2. Sabendo disso, o demônio não se cansa de tentar nos distrair e fazer com que não rezemos. Não somos capazes de imaginar o quanto o maligno se desdobra para agir contra nós, especialmente quando estamos engajados na oração do Rosário, pois esta coloca-nos em oposição direta contra ele.

Nós somos seres humanos, diferente dos demônios, temos um corpo, por isso facilmente nos cansamos e ficamos relaxados. Astutamente, quando estamos rezando o Rosário, o demônio faz com que estas dificuldades se tornem ainda maiores. Antes mesmo de começarmos a rezar, o inimigo já nos faz sentir entediados, distraídos ou cansados e quando iniciamos a oração, ele nos oprime por todos os lados. Ao final do Terço, depois de muitas dificuldades e distrações, Satanás tentará nos convencer de que foi inútil rezar:

O que você acabou de fazer é inútil. Não leva a nada rezar o Rosário. Você deveria estar fazendo outras coisas. Você só esta desperdiçando o tempo, quando você reza sem prestar atenção; meia hora de meditação o algum tipo de leitura espiritual lhe faria muito mais proveito. Amanhã quando você não estiver se sentindo tão indolente, você irá rezar melhor; deixa para terminar o Rosário amanhã3.

O demônio usa deste tipo de truques para nos levar a abandonar o Rosário por completo, ou para que o rezemos somente de vez em quando e, aos poucos, o abandonemos de vez, ou ainda, para que passemos para um outro tipo de devoção.

Não demos ouvidos a tais vozes interiores, que querem nos afastar desta grande arma contra o pecado, o mundo e o próprio demônio. Ainda que nossa imaginação nos incomode durante a oração do Terço, fazendo-nos distrair com vagueações do pensamento, não nos aflijamos, mas tentemos nos livrar destas assim que começarem. Lembremos sempre que, o melhor Rosário é aquele com mais mérito, e há mais mérito em rezar quando se é difícil, do que quando é fácil. A oração é muito mais difícil quando a nossa mente está dispersa, cheia de pequenas “formigas e moscas”, que incomodam a nossa imaginação, contra a nossa vontade, e raramente nos permitem que tenhamos tempo para apreciar a paz e a beleza do que estamos rezando.

Mesmo que precisemos lutar contra as distrações durante todo o Rosário, combatamos o com combate (cf. I Tim 6, 12; II Tim 4, 7). Não deixemos a oração do Rosário, ainda que seja muito difícil rezá-lo e não tenhamos absolutamente a mínima vontade de rezar. Trata-se de uma batalha terrível, mas que vale muito a pena. Se pararmos de rezar o Rosário, deixaremos o demônio ganhar a guerra e, por isso, ele nos deixará em paz. Entretanto, no dia do julgamento, ele escarnecerá de nós, por causa da sua falta de fé e perseverança. Recordemos que, se lutarmos contra as pequenas distrações de maneira fiel, quando rezamos a mais simples oração, seremos também fiéis nas grandes obras: “Aquele que é fiel nas coisas pequenas será também fiel nas coisas grandes” (Lc 16,10).

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “Como combater as distrações durante a oração?”:

O método de São Luís Maria para rezar com fruto o Santo Rosário

Quando pedirmos ao Espírito Santo que ajude-nos a rezar bem, coloquemo-nos na presença de Deus. Antes de começar uma dezena, façamos uma pausa, dependendo do tempo que dispomos e contemplemos o mistério que será honrado. Lembremo-nos sempre de rogar a Deus, através desde mistério que contemplamos e da intercessão da Virgem Santíssima, que conceda-nos as virtudes que resplandecem neste mistério ou uma que precisamos em particular.

Cuidemos para não cairmos nos erros mais comuns que podemos cometer ao rezar o Rosário. O primeiro perigo é o de não pedir graça alguma. Sempre que rezarmos o Rosário, peçamos alguma graça especial: o auxílio de Deus para promover as virtudes cristãs ou para combater os nossos pecados. O segundo grande defeito ao rezar o Rosário é querer somente chegar ao fim, o quanto antes! Muitos de nós vemos o Rosário como um fardo, que sempre se torna ainda mais pesado quando o abandonamos, especialmente se ele está pesando na consciência, porque prometemos rezá-lo regularmente, ou porque precisamos rezá-lo como penitência, mais ou menos contra a nossa vontade.

Muitos de nós rezamos o Santo Rosário rápido demais, murmurando, sem pronunciar claramente as palavras. Não podemos esperar que alguém, mesmo a pessoa mais sem importância, pense que uma saudação relaxada como a nossa seja um cumprimento. No entanto, esperamos que Jesus e Maria estejam satisfeitos com nossa oração. “Não é de se espantar que as sacratíssimas orações de nossa santa religião pareçam não ter frutos, e que, após rezarem milhões de Rosários, não estamos melhor do que éramos antes!”4

São Luís Maria implora que reduzamos a velocidade natural, que vem facilmente, e façamos várias pausas ao rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria. Para tanto, o Santo colocou uma cruz em cada pausa que devemos fazer:

Pai Nosso, que estais no Céu, † santificado seja o Vosso nome, † venha o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, † assim na Terra como no céu. † O pão nosso de cada dia nos dai hoje; † e perdoai as nossas dividas, † assim como nós perdoamos os nossos devedores; † e não nos deixei cair em tentação, † mas livrai-nos do mal. Amém.

Ave Maria, cheia de graça, † o Senhor é convosco, † bendita sois vós entre as mulheres † e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. † Santa Maria, Mãe de Deus, † rogai por nós pecadores, † agora e na hora de nossa morte. Amém5.

A princípio, acharemos difícil fazer estas pausas, por causa do mau hábito de rezar nossas orações com pressa; mas, uma dezena que rezarmos calmos e concentrados será melhor que mil Rosários rezados com pressa, sem qualquer pausa ou reflexão.

A história das três irmãs que glorificaram a Virgem Maria pela oração do Rosário

O Beato Alano de La Roche e outros escritores, como São Roberto Belarmino, contam como um bom confessor aconselhou três de suas penitentes, que eram irmãs, a rezarem o Rosário todo durante um ano, sem faltar nem um dia:

Isto para que se fizesse belas mantas de glória a Nossa Senhora pela oração de seus Rosários. Tratava-se de um segredo que o sacerdote recebera do Céu. Então as três irmãs rezaram fielmente o Rosário por um ano e durante a Festa da Purificação, a Virgem Santíssima apareceu a elas à noite, quando se recolheram. Ela estava acompanhada de Santa Catarina de Sena e Santa Inês, e se encontrava vestida de belos mantos que brilhavam e estava escrito por cima deles: “Ave Maria, cheia de graça” em letras de ouro. A Santíssima Mãe veio até a irmã mais velha e disse “Eu te saúdo, minha filha, porque tu saudaste frequentemente e de maneira bela. Quero te agradecer pelas belas mantas que me fizeste.” As duas virgens santas que estavam com Nossa Senhora agradeceram-lhe também e depois as três desapareceram.

Uma hora mais tarde, Nossa Senhora e as duas santas apareceram a elas novamente, mas desta vez vestida de verde sem qualquer letra em ouro e não resplandecia. Ela se dirigiu à segunda irmã e lhe agradeceu pelas mantas que ela fez ao rezar o seu Rosário. Já que esta irmã tinha podido contemplar a Nossa Senhora quando aparecera para a irmã mais velha, muito mais bem-vestida, perguntou-lhe qual a razão da mudança. A Santíssima Mãe respondeu: “Tua irmã me fez roupas mais bonitas porque ela rezou seu Rosário melhor que tu”.

Uma hora depois, ela apareceu à mais nova das irmãs vestindo farrapos sujos e roídos, e disse-lhe: “Minha Filha, quero te agradecer as roupas que me fizeste.” A menina mais nova, cheia de vergonha disse-lhe: “Oh, minha Rainha, como pude ter vos vestido tão mal. Rogo que me perdoes. Por favor me dê mais tempo para que possa vos fazer belas mantas rezando melhor o Rosário.” Nossa Senhora e as duas santas desapareceram, deixando a menina de coração partido. Ela confessou tudo ao seu confessor, que lhe pediu que rezasse o Rosário por mais um ano, e que o rezasse o mais devotamente possível.

Ao fim do segundo ano, no mesmo dia de Purificação, Nossa Senhora, vestida em mantas magníficas e acompanhada de Santa Catarina e Santa Inês, usando coroas, apareceram a elas novamente naquela noite. E disse-lhes: “Minhas filhas, vim dizer-vos que finalmente recebereis os Céus, e tereis a alegria de lá estar amanhã.” E as três responderam: “Nossos corações estão prontos, amada Rainha; nossos corações estão prontos.” Então a visão desapareceu. Na mesma noite as três adoeceram e veio o confessor que lhes ministrou os Últimos Sacramentos e elas agradeceram-lhe pela santa prática que lhes ensinou. Após as Completas, Nossa Senhora apareceu com uma multidão de virgens e vestiram as três irmãs com túnicas brancas. Os Anjos cantavam “Vinde, esposas de Jesus Cristo, recebei as coroas que vos foram preparadas para toda a eternidade,” e partiram desta vida6.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre a “Memória de Nossa Senhora do Rosário”:

As lições que aprendemos com São Luís Maria a respeito do Santo Rosário

Este grande Santo, Apóstolo da Virgem Maria, nos ensina quatro lições sobre o Rosário da Virgem Maria a partir da história das três irmãs religiosas:

1. Como é necessário ter bons diretores espirituais, que aconselham boas práticas, especialmente a do Santíssimo Rosário;

2. Como é importante rezar o Rosário da Virgem Maria com atenção e devoção;

3. Como é boa a misericordiosa a Santíssima Mãe para aqueles que se arrependem de seu passado e então resolvem mudar de vida;

4. Como Nossa Senhora é generosa ao recompensar-nos na vida, na morte e eternidade, pelos pequenos serviços que nós rendemos a ela fielmente.

Assim, todos nós, amorosos escravos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Santíssima Virgem Maria, que já estamos convictos que devemos rezar o Rosário ou, pelo menos, o Terço, todos os dias, rezemos de bom coração. Não permitamos que as moscas, que são as distrações com as quais temos que lutar durante a oração, façam com que abandonemos covardemente a companhia de Jesus e Maria, em cuja santa presença estamos sempre que rezamos o Rosário. Não deixemos que a louca da casa, que é a nossa imaginação, nos afaste de Deus, da oração, da meditação, da contemplação dos sublimes mistérios do Santo Rosário da Virgem Maria. Por fim, não permitamos que o demônio nos afaste desta oração tão salutar, que santificou tantos homens e mulheres de Deus, na história da Santa Igreja. Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós!

Natalino Ueda, escravo inútil de Jesus em Maria.

Links relacionados:

PADRE PAULO RICARDO. Rosário, uma arma contra as ciladas do demônio.

TODO DE MARIA. O Rosário meditado de São Luiz Maria.

TODO DE MARIA. Um homem transformado pelo Rosário.

Referências:

1 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. O Segredo do Rosário, p. 69-70.

2 QUADRANTE. A imaginação.

3 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., p. 70.

4 Idem, p. 72.

5 Idem, ibidem.

6 Idem, p. 72-73.

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