O sim de Maria e a Igreja de Cristo

O “sim” da Virgem Maria está intimamente ligado com a Igreja de Jesus Cristo.

O "sim" da Virgem Maria e a Igreja de Jesus CristoNa concepção de Jesus, é exigido de Maria um “sim” definitivo, um ato de fé infinitamente maior do que o de Abraão para a redenção do homem e o nascimento da Igreja. Pois, a Palavra de Deus que quer tomar carne em Maria precisa de um “sim” acolhedor, que seja dito por toda sua pessoa, corpo e espírito, sem qualquer resistência, oferecendo toda a sua natureza humana como lugar da encarnação. Se no “sim” de Maria houvesse a sombra de uma reserva, um “até aqui e não mais adiante”, a sua fé teria uma mancha e a criança não poderia tomar posse de toda a natureza humana. Este “sim” incondicional de Maria aparece mais claramente na aceitação do casamento com José e no abandono a Deus da conciliação do seu casamento com a sua nova missão (cf. Mt 1, 18-25).

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A qualidade do “sim” de Maria e os dogmas a este relacionados, da sua virgindade e a sua concepção imaculada, dependem inteiramente de Cristo. A concepção imaculada de Maria é indispensável para a incondicionalidade do “sim”, pois se ela fosse tocada de alguma forma pela mancha original e suas consequências, não conseguiria uma tal abertura pura a qualquer disposição divina. A virgindade de Maria, por sua vez, assegura o fato de Jesus ter reconhecido apenas um pai, o Pai do Céu (cf. Lc 2, 49).

Esta virgindade tem seu sentido principal não numa integridade exclusivamente física e hostil ao sexo, integridade que em si própria tem importância religiosa, mas sim na maternidade de Maria. Para ser Mãe do Messias, que não pode ter outro Pai senão Deus, ela tem que ser envolvida pelo Espírito Santo e dizer seu “sim” abrangendo toda sua pessoa, corpo e alma. Esta virgindade adquirirá um novo sentido mais tarde na Igreja. Num seguimento longínquo de Maria, o ser humano não dividido, santo de corpo e alma, consagrado a Deus, pode “cuidar das coisas do Senhor” (1 Cor 7, 34), numa espécie de maternidade espiritual, que o próprio Jesus prometeu àqueles que, numa fé pura, escutam a Palavra de Deus e a põe em prática (cf. Lc 8, 21).

A narrativa da Anunciação não é apenas uma cena que diz respeito a Cristo, mas também uma cena que diz da Santíssima Trindade. A sua construção é, de forma impressionante, a primeira revelação do Deus-Trindade. A primeira fala do Anjo, que chama Maria de cheia de graça, traz a saudação do Senhor, YHWH, o Pai, que como mulher da religião judaica ela conhece (cf. Lc 1, 28). Maria refletia sobre o significado da saudação, quando o Anjo lhe anuncia, numa segunda intervenção, que ela será Mãe do “Filho do Altíssimo”, que será o Messias para a casa de Jacó (cf. Lc 1, 31-33). Numa terceira intervenção, o Anjo revela-lhe que o Espírito Santo a cobrirá com sua sombra, de forma que o Menino será chamado Santo e Filho de Deus (cf. Lc 1, 35).

Na encarnação do Filho, a Trindade de Deus manifesta-se não apenas com palavras, como os dez mandamentos dados a Moisés no monte Sinai (cf. Ex 20, 1-17), mas num processo. A fé do Antigo Testamento desde Abraão, na sua perfeição, torna-se participante desta experiência da Trindade. Esta fé torna-se princípio de uma experiência de fé do Novo Testamento, da Igreja, na própria pessoa de Maria. “Por isso há, paralelamente a uma de vida de Jesus, também uma vida de Maria, na medida em que, a partir da intimidade do quarto de Nazaré, é educada por seu Filho no papel que lhe será atribuído na cruz (cf. Jo 19, 25-27): ser imagem primordial da Igreja” (Joseph Ratzinger, Maria, a Primeira Igreja, p. 105). Dessa forma, na Virgem Maria realizou-se plenamente a fé de Abraão, por isso, na Nova Aliança ela tornou-se a primeira Igreja.

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