São Gabriel de Nossa Senhora das Dores

Conheça heroica e inspiradora história de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, que ficou conhecido como o santo dos jovens, dos milagres, do sorriso.

São Gabriel de Nossa Senhora das Dores nasceu em 1º de Março de 1838, em Assis, na Itália, e foi batizado no mesmo dia, com o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco, o Pobre de Assis. De família numerosa, ele foi o décimo primeiro filho de uma família de treze irmãos. Seu pai, o advogado Sante Possenti, exercia o cargo de prefeito na época de seu nascimento. Sua mãe, Angese Frisciotti, que pertencia a uma família de nobre ascendência, morreu quando ele tinha apenas quatro anos.

Conheça heroica e inspiradora história de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, que ficou conhecido como o santo dos jovens, dos milagres, do sorriso.

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Quando tinha apenas três anos de idade, foi com sua família para Spoleto, onde passou sua infância e adolescência. Nessa simpática cidadezinha, Francisco se distinguiu por seu caráter vivaz, cheio de afeto, gentil, palavra fácil e cheia de graça, voz sonora e olhar penetrante. Seu diretor espiritual, o padre Norberto Cassinelli, descreveu dessa forma o Santo: “Reunia em si muitos dotes dificilmente encontráveis numa só pessoa. Era em verdade belo de alma e de corpo”[1]. Apesar de possuir um coração propenso à generosidade e à simpatia, imperava no espírito de Francisco um temperamento indominável. Quando contrariado, seu temperamento se exteriorizava em ímpetos de cólera.

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Francisco e os prazeres e as alegrias deste mundo

O temperamento amável e privilegiado de Francisco não excluía o amor ao risco, tão comum na adolescência. Muito jovem, aprendeu a manejar armas com o comandante da guarnição militar de Spoleto, que era grande amigo de seu pai. A caça era o lazer preferido de Francisco. Certa vez, ganhou uma arma como presente de Natal. Este fato causou grandes preocupações à família, especialmente ao seu pai.

Aos treze anos, o Jovem começou a estudar na escola dos jesuítas, onde se sobressaiu entre todos os companheiros. Ele era o preferido para declamar nos espetáculos acadêmicos. Todos o queriam bem, tudo lhe sorria, tudo corria de acordo com seus desejos. Seu maior gosto era brilhar nas festas – especialmente as noturnas, com música, canto e dança – e no teatro.

Os bailes constituíam para Francisco grande motivo de atração. Ele dançava com tal desenvoltura e beleza que se tornou conhecido pelo apelido de “il ballerino” (o dançarino) e, como tal, animava os mais badalados salões de dança da cidade.

Depois da conversão, Francisco era atormentado por recordações desses momentos passados em distrações frívolas, que o levavam a dizer com frequência: “Ó, vaidade de meus passatempos!… Que cegueira a minha!… Eu não vivia senão por um pouco de fumaça!…”[2].

A decisão entre os prazeres do mundo e a vida religiosa

Apesar do gosto pelos divertimentos próprios de sua idade, Francisco nutria uma fé pura e sincera em seu interior. “Nunca se aproximava dos Sacramentos sem deixar transparecer os profundos sentimentos de fé e de religioso respeito dos quais estava compenetrado. […] Quantas vezes o vi de mãos juntas, olhos umedecidos pelas lágrimas e como que arrebatado em profundos pensamentos!”[3], testemunhou um dos seus mais íntimos amigos da época.

Ninguém imaginaria que aquele jovem, aplaudido e aprovado por todos, levava um rude cilício de couro com agudas pontas de ferro, sob suas roupas elegantes e luxuosas. Este já era um sinal de que, em meio a uma vida muito comum para um jovem de sua idade, Francisco começava a sentir o desejo de seguir, algum dia, a vida religiosa. No entanto, faltavam alguns passos decisivos para que ele pudesse dar o derradeiro adeus ao mundo.

Depois da morte da sua mãe, a irmã mais velha de Francisco, que se chamava Maria Luísa, foi aquela que mais o amparou. Muito formosa, ela estava na flor da idade quando começou uma desoladora epidemia de cólera em Spoleto, da qual foi a primeira vítima. A morte da jovem irmã, que aconteceu no ano de 1855, causou um impacto tremendo em Francisco.

A Providência divina valeu-se desse acontecimento trágico para abrir os olhos de Francisco a respeito de sua vocação. Logo depois da morte de Maria Luísa, Francisco disse a seu pai que havia decidido entrar num convento. Entretanto, seu pai recusou-se a autorizar seu ingresso na vida religiosa, temendo que esse desejo fosse algo passageiro, motivado por aquele momento de dor. Este receio foi aparentemente confirmado, pois, com o passar do tempo, os prazeres mundanos começaram a abafar novamente aquele desejo interior. Foi nessa situação que aconteceu o decisivo encontro que levou aquele jovem obstinado a abraçar para sempre a vida religiosa.

A voz da Virgem Maria e a decisão de ser passionista

No dia 22 de agosto de 1856, os habitantes da cidade de Spoleto celebravam com alegria a festa da Padroeira. Nessa ocasião, um belo ícone da Mãe de Deus – conhecido como a Madonna Del Duomo (Nossa Senhora da Catedral) ou Sacra Icona (Sagrada Imagem) – foi retirado de seu relicário para ser conduzido em solene procissão pelas ruas da cidade. Tratava-se um quadro em estilo bizantino, doado para a cidade pelo imperador Frederico Barba-Ruiva, em 1155, como sinal de reconciliação e de paz. O ícone, atribuído a São Lucas, se conservava na Catedral de Constantinopla até a época das perseguições dos iconoclastas.

Entre a multidão de fiéis que aguardava a passagem do ícone sagrado, destacava-se um jovem de porte distinto e jovial. Quando a imagem de Nossa Senhora passou diante de Francisco, ele viu os olhos arrebatadores da imagem e ouviu claramente, em seu interior, estas palavras inesquecíveis: “Francisco, o que fazes no mundo? Tu não foste feito para ele. Segue a tua vocação!”[4].

Nesse momento, entre abundantes lágrimas de agradecimento e de contrição, Francisco tomou a firme resolução que há tempos adiava: ser religioso na Congregação dos Passionistas. “Oh! Em que abismo não teria certamente caído se Maria, benigna até para com aqueles que não A invocam, não tivesse acorrido misericordiosamente em meu auxílio naquela Oitava de sua Assunção!”[5], diria o Santo, algum tempo depois. Esse acontecimento comovente foi decisivo na mudança de rumo da vida curta, mas gloriosa, de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, conhecido como “o santo dos jovens, dos milagres e do sorriso”[6].

Com apenas 18 anos, Francisco trocou um futuro brilhante, aos olhos do mundo, por uma vida de renúncia e recolhimento. Ele deu esse passo difícil, mas com o coração cheio de alegria.

A entrada nos passionistas e a adaptação à vida religiosa

Na manhã seguinte, Francisco partiu feliz de Spoleto para o célebre Santuário de Loreto, onde passou alguns dias, estreitando os laços de amor e devoção a Nossa Senhora. Depois, foi para Morrovalle, onde entrou no noviciado passionista. “Ele, o elegante bailarino, o brilhante animador dos salões de Spoleto, escolheu entrar no austero Instituto dos Passionistas, fundado em 1720 por São Paulo da Cruz com a missão de anunciar, através da vida contemplativa e do apostolado, o amor de Deus revelado na Paixão de Cristo”[7].

A mudança do nome de Francisco para Gabriel de Nossa Senhora das Dores marcou a sua morte para a vida passada e o começo da caminhada nas vias da perfeição. Quando, em conversa com seus companheiros de convento, o assunto recaía sobre os acontecimentos do mundo, ele a interrompia com um sereno sorriso: “Por que falarmos daquilo que temos de abandonar para sempre? Deixem que os mortos enterrem seus mortos”[8].

Apesar da determinação de Gabriel, a adaptação à austera vida religiosa não foi fácil, pois estava acostumado a uma vida cômoda. A comida insossa do pobre convento passionista causava-lhe uma repugnância invencível. No entanto, o Jovem insistia em comer os mesmos alimentos que todos, até que seus superiores, compadecidos de seu sofrimento, permitiram-lhe temporariamente tomar outro alimento. O Rapaz também teve dificuldade com outros aspectos de observância da disciplina. Todavia, ele fazia questão de cumprir rigorosamente os horários e obrigações do noviciado, por mais esforço que isso lhe custasse.

Amor à Paixão de Cristo e a Maria Santíssima

Durante sua vida religiosa, Francisco nutriu um profundo amor à Paixão do Senhor. Sua veneração pelos sofrimentos de Cristo era tal que nunca se separava do crucifixo:

Quando conversava, mantinha-o [crucifixo] dissimuladamente na mão e o apertava com carinho; quando dormia, colocava-o sobre o peito; quando estudava, punha-o junto ao livro e, de vez em quando, o fitava e osculava com tanto afeto e fervor, que a imagem de metal foi-se gastando até ficarem apagados todos os traços da fisionomia[9].

A essa devoção, característica da congregação passionista, uniu-se um amor intensamente dedicado a Santíssima Virgem. Seu famoso Credo di Maria revela-nos o encanto dessa alma apaixonada pela Mãe de Deus:

Creio, oh Maria, que, como Vós mesma revelastes a Santa Brígida, sois Rainha do céu, Mãe de misericórdia, alegria dos justos e guia dos pecadores arrependidos; e que não há homem tão perverso que, enquanto viva, não tenhais misericórdia dele; e que ninguém abandonou tanto a Deus, que, se vos invoca, não possa voltar a Deus e encontrar perdão, enquanto que sempre será um desgraçado aquele que, podendo, não recorra a Vós…[10]

Os atos heroicos e o último sorriso de São Gabriel

Os pensamentos do noviço Gabriel estavam o tempo todo voltados para Jesus e Maria. Seu desejo de levar às últimas consequências sua entrega a Deus e a Nossa Senhora era tão grande que, certa vez, ao ouvir os passos de seu diretor espiritual, abriu a porta da cela e, lançando-se a seus pés, suplicou-lhe: “Padre, se achar em mim qualquer coisa, por pequena que seja, que não agrade a Deus, eu, com sua ajuda, quero arrancá-la a todo custo!”[11]. O sacerdote respondeu que nada via nele que desagradasse Deus, contudo não deixaria de alertá-lo se percebesse algo assim. Com essa promessa do padre, o Jovem religioso acalmou-se completamente.

A curta existência de São Gabriel foi marcada de atos admiráveis, pois ele tudo fazia com espírito de inteira elevação e sublimidade. “Nossa perfeição não consiste em fazer coisas extraordinárias, mas em executar bem as ordinárias”[12], costumava dizer o Santo.

Depois de um ano e meio de noviciado, em fevereiro de 1858, Gabriel começou os estudos para o sacerdócio e passou a morar no convento de Isola del Gran Sasso, onde faleceria anos mais tarde. Em 25 de maio de 1861, recebeu as ordens menores na Catedral de Penne. Mas, pelos arcanos desígnios da Providência, não chegaria a tornar-se presbítero. No final desse mesmo ano, Gabriel foi acometido de uma terrível tuberculose. Entretanto, em vez de impedir o seu avanço nas vias da virtude, a enfermidade serviu-lhe para subir com mais rapidez aos graus mais altos da santidade. Deus dispôs que ele fosse consumido aos poucos pela doença, para aumentar-lhe os méritos e dar aos outros a ocasião de se santificarem com seu exemplo.

No leito de morte, Gabriel enfrentou os derradeiros assaltos do demônio e a terrível provação de uma noite escura da alma. Dessas últimas provas, o Santo também saiu vencedor. O sacerdote que lhe assistia na hora suprema ouviu-o repetir três vezes, esta frase de São Bernardo, pela qual ele reconhecia sua própria fraqueza e a confiança em Jesus Cristo: “Vulnera tua, merita mea. – Meus méritos são vossas chagas, Senhor!”[13].

Na manhã de 27 de fevereiro de 1862, com o coração transbordante de alegria, as mãos cruzadas sobre o peito, apertando o crucifixo e a imagem da Virgem Dolorosa, Gabriel sorriu pela última vez, extasiado, ao contemplar com os olhos da alma Aquela a quem servira na Terra com tanta doçura. O “santo do sorriso” tinha, então, apenas 24 anos de idade[14].

São Gabriel de Nossa Senhora das Dores continua a ser um extraordinário testemunho de renúncia intransigente ao pecado, de amor entusiasmado à cruz de nosso Senhor Jesus Cristo e de entranhada devoção a Nossa Senhora, não somente para a juventude atual mas para todos os fiéis da Igreja Católica.

São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!

Links relacionados:

CANÇÃO NOVA. São Paulo da Cruz, profundo devoto da Sagrada Paixão.

PADRE PAULO RICARDO. A Gemma do paraíso: “Só tenho medo… de magoar Jesus!”.

TODO DE MARIA. A Coroa das Sete Dores de Nossa Senhora.

Referências:


[1]  ARTICOLI COLLEGATI. Il santo. In ARAUTOS. O jovem santo do sorriso.

[2]  BERNARD, CP, R. P. Vie du Bienheureux Gabriel de l’Addolorata, p. 32. In ARAUTOS. Op. cit.

[3]  BERNARD, CP, R. P. Op. cit., p. 32. In ARAUTOS. Op. cit.

[4]  VALENTINO SALVOLDI. San Gabriele dell’Addolorata, p. 22. In ARAUTOS. Op. cit.

[5]  SÃO GARIEL DE NOSSA SENHORA DAS DORES. Carta a seu pai, em 15/11/1857. In ARAUTOS. Op. cit.

[6]  BERNARD, CP, R. P. Op. cit., p.283. In ARAUTOS. Op. cit.

[7]  ARTICOLI COLLEGATI. La vita. In ARAUTOS. Op. cit.

[8]  JOSÉ ARDERIU. Modelos de santidad. San Gabriel de la Dolorosa, p. 115. In ARAUTOS. Op. cit.

[9]  ARDERIU. Op. cit., p.116. In ARAUTOS. Op. cit.

[11]  VALENTÍN FUENTE, CP. San Gabriel de la Dolorosa, p. 223. In ARAUTOS. Op. cit.

[12]  ARTICOLI COLLEGATI. La vita. In ARAUTOS. Op. cit.

[13]  BERNARD, CP, R. P. Op. cit., p.283. In ARAUTOS. Op. cit.

[14]  ARAUTOS. Op. cit.

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