São Luís Maria, missionário até a morte

Conheça um pouco mais sobre a vida de São Luís Maria, grande apóstolo da Santíssima Virgem, que dedicou-se inteiramente à missão, até o dia de sua morte.

São Luís Maria Grignion de Montfort foi um grande missionário num tempo de pobreza, de convulsões sociais e de divisões na Igreja, mas permaneceu fiel até a morte, enquanto muitos abandonaram a verdadeira fé. Luís Maria nasceu no dia 31 de Janeiro de 1673, em Montfort, na França. Seu pai chamava-se João Batista Grignion de Bachelleraie e sua mãe, Joanna Visuelle de Chesnais. Estes deram ao pequeno Luís uma educação aos moldes tradicionais da Igreja Católica, na qual a prática da fé era ensinada em casa. Desde a sua infância, aprendeu o amor à oração, ao crucifixo, às imagens, a Jesus Cristo e a Nossa Senhora, aos anjos e aos santos.

Conheça um pouco mais sobre a vida de São Luís Maria, grande apóstolo da Santíssima Virgem, que dedicou-se inteiramente à missão, até o dia de sua morte.

São Luís Maria Grignion de Montfort

Em sua casa, Luís Maria aprendeu a conquista e o domínio de si. Conquista essa que não foi fácil, pois descobriu bem cedo a força de seu temperamento, próprio de um autêntico bretão. Desde a adolescência, os Jesuítas, ou missionários da Companhia de Jesus, tiveram forte e determinante influência para sua vida espiritual e missionária. Em sua vida acadêmica, mas também em sua espiritualidade, o jovem Grignion foi submetido a várias provações, pois naquele tempo a Igreja da França se separou de Roma, dando origem ao galicanismo; o jansenismo, com seu rigorismo extremo, afastava a muitos fiéis da Igreja; a filosofia iluminista também fazia grandes estragos na Igreja e na sociedade como um todo. Estes e outros motivos afastavam muitos fiéis da Igreja e Montfort, desde a sua juventude, queria, a todo custo, restaurar a fé do povo de Deus.

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As dificuldades de Grignion no seu ministério de pregação

São Luís Maria nem sempre foi compreendido em seu zelo e ardor apostólicos. Seu temperamento forte e duro, nem um pouco politicamente correto, contrastava com sua extrema humildade e simplicidade. Esta parecia ser uma mistura explosiva, que fazia crescer cada vez mais o número de seus opositores. Por onde passava, cresciam resistências, antipatias, principalmente entre as autoridades, inclusive no clero. No entanto, o êxito missionário de Montfort fez com que ele ganhasse popularidade, inclusive entre autoridades civis, mas também entre padres e bispos.

Em 1705, a São Luís já era conhecido e respeitado por muitos e sua obra missionária crescia cada vez mais. Entretanto, seus opositores tornavam-se cada vez mais numerosos e a antipatia e o ódio destes para com o Padre Grignion crescia cada vez mais. A hostilidade explodiu furiosamente quando o Santo – movido por uma onda de reformismo e de otimismo, talvez motivado pelo seu triunfo apostólico – pediu para os fiéis retirarem de suas casas os livros desonestos e os quadros obscenos de suas casas. Movidos por suas palavras, ainda que sem uma ordem expressa, os fiéis organizaram uma grande “limpeza” em seus pertences, retirando aqueles objetos que julgavam prejudiciais, e pensavam em fazer uma grande fogueira para os queimar.

Sem saber de nada do que estava acontecendo, Montfort pregava normalmente. Uma grande fogueira, com um enorme demônio no alto, e manifestações na praça estavam programadas para quando o Pregador saísse da Igreja. De repente, chega De Villeroi, o Vigário geral, que estava em viagem, e presencia a euforia dos fiéis e aquele monte de coisas com a imagem do demônio em cima. Muito tenso, o Prelado sobre ao púlpito lateral, na frente de onde o Missionário pregava, e faz um discurso violento, atacando duramente Montfort. Com ânimo resignado, este “pôs-se de joelhos com a cabeça descoberta e ouviu humildemente, sem abrir a boca para defender-se, tudo aquilo que um falso zelo poderia sugerir”1. Apesar das injúrias recebidas, a pregação do Santo foi eficaz, pois os fiéis davam provas de conversões profundas.

A popularidade de Montfort incomodava os clérigos, principalmente aqueles influenciados pelo jansenismo e pelo galicanismo2. Vendo que a atitude de De Villeroi foi inútil, que São Luís ganhava ainda mais simpatias e sua pregação tornou-se ainda mais eficaz, a oposição mudou de estratégia. Preparou uma carta ao Bispo, Monsenhor De la Poype, com calúnias e acusações contra o Santo. De la Poype constatou o enorme barulho causado pelos perdedores e o perigo de ter sua autoridade enfraquecida, por isso ordenou que Montfort deixasse a Diocese. No entanto, isto não abalou a sua fé, mas ao contrário, fortaleceu-a ainda mais. Tanto que, “ele bendisse a Deus por essa humilhação, e formulou muitos atos de amor a Deus e de submissão à sua vontade, e soltou muitos suspiros misturados de alegria e de tristeza, e disse imediatamente adeus…”3.

A peregrinação a Roma e a audiência com o Papa Clemente XI

Em 1706, diante das dificuldades de ser missionário em sua própria pátria, São Luís Maria decide ir à Roma para conversar com o Papa Clemente XI. Julgava obter um mandato papal para que seu ministério fosse mais eficaz para a glória de Deus e à salvação das almas, onde quer que a obediência ou a necessidade o chamassem, inclusive no Oriente e nos países longínquos das Américas, se o Santo Padre assim quisesse.

Não pensemos que a ida de Montfort à Roma foi uma viagem turística ou uma simples peregrinação, com a intenção de visitar os lugares sagrados, tirar fotografias e comprar lembranças. A viagem de São Luís Maria foi uma genuína experiência espiritual, penitencial, reparadora, impetratória. Como estava acostumado a fazer em suas viagens, o Missionário foi até o Vaticano “a pé, jejuando, sem dinheiro, resolvido a pedir esmola durante todo o percurso, abandonado à Providência divina, levando consigo somente a santa Bíblia, o próprio Breviário, um crucifixo, o terço, uma imagem da Santa Virgem, e um bastão na mão”4.

A situação política e militar nos países da Europa naquele tempo fez com que Montfort tivesse dificuldade de encontrar onde descansar e o obrigou a mudar muitas vezes sua rota. Ao todo, o Peregrino gastou cerca de 90 dias para percorrer os mais de 1.450 quilômetros de Poitiers, na França, até Roma, na Itália, onde chegou cansadíssimo, completamente exausto.

Depois de alguns dias em Roma, São Luís conseguiu uma audiência com o Papa:

Clemente XI recebeu-o com muita bondade, e depois do discurso em latim5, lhe disse que podia falar-lhe em francês porque o entendia bastante para responder; e quando Grignion lhe propunha ir pregar missões no Oriente para converter os infiéis, o Papa lhe respondeu: “Senhor, tendes campo bastante vasto na França para exercer o vosso zelo; não vades de modo algum para outra parte, e trabalhai sempre com uma perfeita submissão aos bispos a cujas dioceses fordes chamado: Deus com esse meio abençoará vossas fadigas”6.

Nessa mesma ocasião, Montfort apresentou um crucifixo ao Papa Clemente e pediu que ele concedesse indulgência plenária às pessoas que o beijassem na hora da morte e pronunciassem os nomes de Jesus e de Maria contritos de seus pecados. O Papa não somente concedeu esta indulgência, mas também a licença de abençoar as pequenas cruzes de papel, ou de pano, sobre as quais estavam escritos os nomes de Jesus e de Maria. O Santo costumava distribuir estas cruzes aos que ouvissem seus 33 sermões, ao fim de cada missão. “Clemente XI concedeu-lhe também o título de Missionário Apostólico, e recomendou-lhe sobretudo que ensinasse a doutrina cristã aos povoados e às crianças, e que fizesse renovar em toda parte o espírito do cristianismo com a renovação das promessas batismais”7.

Assista vídeo dos Irmãos Monfortinos de São Gabriel sobre a “Vida de São Luís Maria Grignion de Montfort”:

A vida missionária de Montfort depois do mandato do Santo Padre

São Luís Maria, agora Missionário Apostólico, com um mandato pontifício recebido diretamente do Papa, tem o estímulo necessário para continuar sua vida missionária, até seus últimos dias. Desta vez, ainda que encontrasse dificuldades e resistências por onde passava, o mandato papal lhe dava a certeza de que estava no caminho que o Senhor lhe confiou. Não é por acaso que Montfort tinha o lema Dieu seul, Deus só em francês. Estas palavras frequentemente estavam nos seus lábios e na sua pena. Pois, sua confiança estava só em Deus, e somente a Ele queria amar e servir.

A intimidade e a confiança de Montfort em Deus, fazia que ele aceitasse até enfermos para lhe ajudar em suas missões, quando tinha a certeza de que seriam curados. Isto aconteceu quando acolheu seu futuro sucessor, Padre René Mulot, que estava doente e fora desenganado pelos médicos:

Sem dúvida, Montfort tinha conhecimento dos desígnios de Deus sobre este bom padre. Com efeito, com tom firme e olhar penetrante, lhe disse: “Se quiseres seguir-me e trabalhar comigo pelo resto de seus dias […] todos os teus males desaparecerão logo que começares a trabalhar para a salvação das almas”. […] Efetivamente, logo que começou a exercer o novo ministério, sentiu voltar-lhe as forças, e a saúde foi completamente restabelecida já nos primeiros dias que seguia Montfort no seu apostolado, sem ressentir mais nenhum incômodo. Aquele grande Mestre teve assim tanta confiança no novo discípulo que o escolheu como confessor8.

São Luís Maria: missionário até a morte

Assim, São Luís Maria Grignion de Montfort viveu a maior parte de seu ministério constantemente em missão, até o dia de sua morte. Nas missões, não procura o conforto e o bem-estar, mas preocupava-se com o bem do povo. Nada queria para si, não recebia nem mesmo as ofertas que lhe faziam pelas Missas que celebrava, salvo em caso de extrema necessidade. Tudo fazia para levar o Evangelho de Jesus Cristo e a devoção a Virgem Maria, em extrema pobreza e humildade.

Além da missão, os sofrimentos acompanharam o senhor Grignion até a morte. Ele padeceu não somente os sofrimentos físicos, mas também morais, a exemplo do que aconteceu quando já agonizava. As Escolas de Caridade e as Filhas da Sabedoria, instituições fundadas por ele, sofriam graves e fortes contestações e muitas dificuldades se desenvolviam em torno delas. Já em sua agonia mortal, fez questão de escrever à superiora das irmãs, a última e a mais bela de suas cartas:

Caríssima filha em Jesus Cristo.

Viva Jesus, viva a sua cruz!

Adoro a disposição justa e amorosa da divina Sabedoria sobre o meu pequeno rebanho, que está alojado bem estreito entre os homens para ser alojado e escondido bem ao largo no seu divino Coração, que foi traspassado para este fim… Se sois discípula da Sabedoria e a eleita entre mil, como vossos abandonos, vossos desprezos, vossa pobreza e vosso pretenso cativeiro vos parecerão doces, já que, com todas estas coisas preciosas, comprais a Sabedoria, as riquezas, a liberdade, a divindade do Coração de Jesus crucificado…

Sabei que espero outros transtornos mais consideráveis, para pôr à prova nossa fidelidade e nossa confiança, para fundar a comunidade da Sabedoria não sobre a areia movediça do outro e da prata, dos quais o demônio se serve todo dia para fundar e enriquecer seus aposentos, nem sobre o braço de carne de um mortal que não é senão, por mais sagrado e poderoso que seja, um punhado de feno, mas para fundá-la sobre a própria Sabedoria da Cruz do Calvário…

Caras filhas, eu vos levo por toda a parte, até ao santo altar. Não vos esquecerei jamais!9

Conheça um pouco mais sobre a vida de São Luís Maria, grande apóstolo da Santíssima Virgem, que dedicou-se inteiramente à missão, até o dia de sua morte.

São Luís Maria Grignion de Montfort morrendo

Em sua última missão, depois de dar as instruções ao seu sucessor na Companhia de Maria, hoje a Congregação dos Missionários Monfortinos, Padre Mulot, e de ditar seu testamento, São Luís Maria faz seu último pedido: “Eu, abaixo assinado, o maior dos pecadores, quero que o meu corpo seja deposto no cemitério e o meu coração nos degraus do altar da Ssma. Virgem…”10. Nisto desobedeceram seu fundador, depositando seu corpo na Igreja, aos pés de Nossa Senhora. Em sua agonia, Montfort ainda encontrava forças para erguer a cruz, que trouxera de Roma, para abençoar o povo que chorava por ele. Aos 43 anos, no dia 28 de Abril de 1716, falecia Luís Maria Grignion, o grande apóstolo da Virgem Maria. Ao celebrar os 300 anos da sua morte, peçamos a intercessão deste valoroso missionário, que gravou nos corações dos fiéis os santíssimos nomes de Jesus Cristo e da Virgem Maria. São Luís Maria Grignion de Montfort, rogai por nós!

Natalino Ueda, escravo inútil de Jesus por Maria.

Links relacionados:

PADRE PAULO RICARDO. A vida de São Luís Maria Grignion de Montfort.

PADRE PAULO RICARDO. São Luís de Montfort e o primado de Deus.

TODO DE MARIA. A vida de São Luís Maria.

TODO DE MARIA. O início da missão de São Luís Maria.

Referências e notas:

2 Jansenismo e Galicanisno são duas tendências dentro da Igreja Católica na França da época de Montfort. O primeiro é um conjunto de princípios, marcados por um rigorismo extremo, estabelecidos por Cornélio Jansênio (1585-1638), bispo de Ipres. O jansenismo enfatizava a predestinação, negava o livre-arbítrio, e sustentando que a natureza humana por si só é incapaz do bem. O galicanismo é um movimento, originado na França e que tinha forte influência política, inclusive do Rei Luís XIV, que defendia a independência administrativa da Igreja de cada país em relação a Santa Sé, ao controle do Papa, em relação às questões da Igreja na França.

3 EUGENIO FALSINA. Op. cit., p. 222.

4 Idem, p. 231.

5 O latim era a língua obrigatória para que quisesse falar com o Sumo Pontífice.

6 EUGENIO FALSINA. Op. cit., p. 244.

7 Idem, p. 245.

8 Idem, p. 290.

9 Idem, p. 294. Carta 34 – OC, 81-83.

10 Idem, p. 295.

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