Aqui no Nordeste há um costume antigo, que a cada dia tem se tornado menos comum. Sempre que um bebê nasce “laçado” pelo cordão umbilical, recebe o nome de José, se menino, e Josefa ou Maria José, se menina (eu tenho José no nome justamente por conta dessa tradição). Os antigos diziam que fazendo assim, consagrando o recém-nascido a São José, ele estaria protegido de uma terrível morte por afogamento, enforcamento ou sufocamento. Mais do que uma superstição, essa prática é reflexo da sincera devoção da gente simples e profundamente religiosa do Nordeste, que enxerga nos santos os intercessores junto ao Pai do Céu, o auxílio oportuno para as muitas adversidades da vida. Não é surpresa que a piedade popular nordestina, profundamente mariana, tenha escolhido como seu santo favorito o pai adotivo de Jesus, São José. Isso, aliás, já foi cantado por Luiz Gonzaga num dos clássicos do cancioneiro popular brasileiro, “A triste partida”, que narra a migração do povo nordestino para o sul do Brasil, fugindo da seca inclemente:
“Apela pra março / Que é o mês preferido / Do santo querido / Senhor São José / (Meu Deus, meu Deus) /
Mas nada de chuva / ‘Tá tudo sem jeito / Lhe foge do peito / O resto da fé / (Ai, ai, ai, ai)”
O dia do “santo querido, Senhor São José”, por sinal, até hoje é bastante simbólico para o nordestino que batalha no campo. Normalmente considera-se alvissareiro, promissor o ano que tem chuva no dia 19 de março. “Esse ano o inverno vai ser bom”, pensa consigo o agricultor. Não faltam relatos de graças alcançadas por meio da intercessão poderosa do glorioso São José, a quem se dirige a súplica: Valei-me, São José!
Mas se o Patrono e Protetor da Igreja Católica é pródigo em graças e milagres, também o é em ensinamentos para a nossa vida de santidade. São José é chamado por muitos autores de a Sombra do Pai Celeste, afinal, coube a ele a missão de ser chefe da Sagrada Família, de ser a figura paterna para o nosso Salvador. Cristo, o Filho de Deus, precisava de um pai aqui na terra, por isso ele cresceu amando e obedecendo José, e com ele aprendeu o valor do trabalho, os costumes próprios dos judeus. Foi imitando José que Cristo tornou-se homem, e certamente o Pai Celeste não daria uma missão tão elevada a alguém que não fosse digno dela. De fato, São José foi um homem segundo o coração de Deus, ou seja, nunca mediu esforços para agradar a Deus, renunciando à própria vontade em todas as circunstâncias. Pensemos na situação mais dramática vivida por José: noivo de Maria, ele descobre sua gravidez. Não sabemos como e quando exatamente ocorreu essa descoberta. Talvez Maria tenha lhe contado sobre a visita do anjo, talvez ela tenha ido visitar sua prima Isabel e só quando retornou, depois de alguns meses, ele tenha notado a sua barriga já desenvolvida. Nunca saberemos ao certo. O que sabemos é que José tinha decidido rejeitá-la secretamente, pois não queria difamar Maria. Um anjo lhe apareceu em sonhos e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados”. José agiu conforme o que o anjo havia lhe dito. Ele era um homem de oração e confiou na palavra que lhe foi dirigida.
A reação de José ao sonho nos diz muito sobre seu caráter e sobre sua intimidade com Deus, mas também nos diz muito sobre nós, homens e mulheres do tempo atual. Nós somos as pessoas “dos direitos”. O tempo inteiro estamos ouvindo como temos direito a isso e àquilo, como não podemos aceitar que injustiças sejam cometidas contra nós. Contemplemos a situação de São José. Ele estava noivo de Maria, ou seja, ele tinha “direito” a uma esposa com quem pudesse coabitar e gerar um filho. Sem muita explicação, um anjo do Senhor lhe informa que ela já está grávida, que a sua esposa na verdade é agora a esposa do Espírito Santo. “Que injustiça!”, poderia exclamar São José. “Eu fui um homem de Deus a vida toda, só queria ter uma vida normal, uma esposa, os filhos que ela gerasse, mas nem isso posso ter”. E ele poderia ainda concluir com uma expressão torta que tem se tornado corrente até no nosso meio católico: “Por que Deus não me honrou?”
Sigamos adiante e reflitamos sobre outro episódio marcante na vida da Sagrada Família. Herodes começa uma matança de crianças, tentando com isso assassinar o próprio Cristo ainda bebê e José é avisado em sonho para fugir com os seus para o Egito. Imaginemos que mudança radical isso representou na vida do carpinteiro José. Um homem humilde, estabelecido na sua terra agora teria que enfrentar uma viagem dura, cansativa, que certamente duraria meses. Ao chegar ao Egito teria que procurar um lugar para se estabelecer, talvez tendo que aprender um novo ofício, começando tudo do zero, dormindo ao relento, comendo pouco, trabalhando sem parar para prover a sua nova família… Se José fosse da nossa geração, ele poderia pensar logo nos seus “direitos” e talvez essa seria a sua oração ao Pai:
“Senhor, meu Deus, eu já tive que renunciar aos meus direitos de esposo e pai, assumindo essa missão de cuidar do Messias. Se ele é o Messias, então os anjos o protegerão da fúria de Herodes, eu não tenho que passar por tudo isso, fugindo no meio da noite como um criminoso para um lugar que nem sei onde fica… Envia os seus anjos para protegerem seu Filho, livra-nos da perseguição, deixa-nos ficar aqui na nossa terra, meu Deus. Manifesta a sua glória livrando-me desse perigo, honra-me com a sua proteção, Senhor!”
Mas graças a Deus São José não pertence à nossa geração. Ele tinha vida de oração, intimidade verdadeira com Deus. Ao ser avisado em sonhos, “José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito”. Um homem segundo o coração de Deus tem discernimento, sabe que quando Deus manifesta a Sua vontade, o que devemos fazer é segui-la de imediato, porque Deus sabe o que é melhor para nós. José partiu ainda durante a noite, sem titubear. Ele não ficou buscando o que era mais fácil nem mais cômodo, apenas obedeceu à ordem dada por Deus. Assim foi quando não temeu receber Maria por esposa e Aquele que nela estava sendo gerado como filho adotivo e assim foi quando partiu às pressas para o Egito para proteger sua família do perigo.
José jamais deixou que um pingo de revolta crescesse em seu coração porque os seus planos haviam sido frustrados pelos planos de Deus. Ele soube ter um coração dócil ao Espírito Santo e por isso Deus o considerou digno de ser o chefe da Sagrada Família, cumprindo com perfeição a nobilíssima missão de cuidar da Mãe de Deus e ser pai do Filho de Deus. Podemos recorrer a São José nas nossas tribulações, pedindo graças e milagres. Não nos esqueçamos, porém, de recorrer a ele quando sentirmos a tentação de nos revoltarmos porque Deus está mudando os nossos planos. “Não me lembro até hoje de ter-lhe suplicado algo que ele não tenha feito”, diz Santa Teresa D’Ávila a respeito de São José. Isso acontece, ela mesma explica, porque uma vez que São José foi submisso ao Pai Celeste na terra na qualidade de pai adotivo, no céu ele tem todos os seus pedidos atendidos. Peçamos, portanto, a intercessão de São José, para que ele nos ajude a amar a vontade de Deus como ele mesmo amou.
São José, Patrono da Igreja Católica e Protetor da Sagrada Família, rogai por nós!
José Leonardo Ribeiro Nascimento
Comunidade Canção Nova