A mensagem de Fátima, tal como foi vivida intensamente pelos Pastorinhos, manifesta-se como uma reparação dirigida ao Imaculado e Doloroso Coração de Maria. Há na vida dos Pastorinhos, principalmente na vida de Jacinta como – eu sei lá – uma sensação vivíssima dos males que o pecado causa e que no inferno culmina.
«Como é – escreve a Lúcia – que a Jacinta tão pequenita se deixou possuir e compreender por tal espírito de mortificação penitente?» e responde:
«Parece que foi
1º por uma graça especial de Deus, por meio do Coração Imaculado de Maria que lha quis conceder.
2° olhando para o inferno e para a desgraça das almas que para lá vão.
Logo após a primeira aparição a pequenita, sentada numa pedra, com ar pensativo perguntou:
– Aquela Senhora diz também que iam muitas almas para o inferno. E o que é o inferno?
Fizemos então, – conclui a Irmã Lúcia – a nossa primeira meditação do Inferno e da Eternidade.
Noutra ocasião dizia a pequenita Jacinta:
– E aquela gente lá que está a arder, não morre e não se faz cinza? e se a gente rezar muito pelos pecadores, Nossa Senhora livra-os de ir para lá? Coitadinhos, havemos de fazer muitos sacrifícios por eles.
Esse mal absoluto que é o pecado, foi experimentado por Jacinta numa admirável solidariedade mística.
– Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos em ato de reparação pelos pecados com que é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores? – perguntou-lhes Nossa Senhora.
E eles responderam decididos:
– Sim, queremos.
– Ides pois ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.
Jacinta estava preparada para a reparação em virtude da sua inocência, alma puríssima, em virtude dos seus dotes perceptivos duma sensibilidade extraordinária, em virtude, sem dúvida, duma graça especial de eleição para o estado de vítima a que foi chamada; e em virtude de um exercício penitencial que chega até ao heroísmo cristão. Aí não falta sequer esse supremo tormento do Jardim das Oliveiras: a solidão. «Depois de sofrer muito, morro sozinha.»
( + Pe Luiz Kondor, svd)