Se você nunca fez jejum, por que não começar?

O jejum é a oração do corpo

Se você nunca fez jejum, porque não começar? A Quaresma é um tempo por excelência para investirmos nas práticas penitenciais, dentre elas a oração e o jejum. Em Nossos Documentos, Pe. Jonas escreve: “Fiéis à tradição da Igreja e atendendo aos apelos contínuos de Nossa Senhora sobre a penitência e o jejum, faremos da sexta-feira o nosso dia penitencial (CDC 1250-1251).”

“Fiéis à tradição da Igreja e atendendo aos apelos contínuos de Nossa Senhora sobre a penitência e o jejum, faremos da sexta-feira o nosso dia penitencial (CDC 1250-1251).”

Um dos primeiros livros escritos e publicados pelo padre Jonas foi “Práticas de Jejum”, um livro pequeno, mas riquíssimo e fruto da experiência pessoal do monsenhor Jonas Abib com esta prática.  Ele nos ensinou a viver não só durante a Quaresma, mas em todas as semanas. Dentre diversos meios de oração que nos ajudam a cultivar e crescer em nosso relacionamento com Deus, o Jejum é uma das práticas de penitência que fazemos às sextas-feiras.

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Você sabia que todos podem jejuar?

Esta prática, por muitos anos, foi associada à privação ou até a abstinência de algo. Não está errado, mas o jejum proposto pela Igreja é muito mais do que se privar de alimentos ou abster-se de um hábito.  Muitas pessoas não jejuam por desconhecerem como fazê-lo. Imaginam que o jejum seja algo muito difícil e doloroso, e que sejam incapazes de praticá-lo. Ou então tiveram experiências negativas com uma maneira errada de fazer jejum, por isso não querem mais saber. Outros desconhecem a sua importância, por isso não aproveitam as boas maneiras de fazer o jejum e se privam de suas grandes vantagens.

Mas você sabia que todos podem jejuar? Idosos, doentes, gestantes, lactantes (mulheres que amamentam), jovens, adultos. Claro que sem que isso lhes faça algum mal, pelo contrário, só lhes fará bem.

Por que jejuar?

A nossa espiritualidade é um meio excelente de Deus nos formar. Não somos nós formando a nós mesmos, não são pessoas nos formando. É Deus mesmo a nos formar. Nas coisas mais simples da nossa espiritualidade, como o terço diário, o jejum, a confissão mensal etc., Deus vai nos formando.

O jejum não é uma prática que deve ser vivida na obrigação ou cumprimento de uma exigência. A nossa vida é segundo o Espírito Santo. Ele não facilitará para nós, pois nossa vida não se passa na lei. Mesmo viver de acordo com a lei, de certa maneira, é mais fácil, mas não constrói, não forma nem edifica. Por isso nossa vida inteira precisa estar permeada pela oração.  Assim, perceberemos que há momentos em que não teremos muita disponibilidade de viver o jejum.

Dom Bosco dizia aos seus filhos: “O jejum de vocês é o trabalho, façam o jejum da Igreja”. Para aqueles jovens que estavam aprendendo um trabalho, foram tirados das ruas, viviam em situação de miséria material, passavam fome, roubavam… O jejum que Dom Bosco ensinava aos seus filhos era o jejum do trabalho. Ou seja, a forma de renúncia que iria formá-los no caminho de Deus, como bons cristãos e honestos cidadãos, era o trabalho, a dedicação a um ofício, o desgaste num trabalho.

A oração ao ritmo da vida

Se você nunca fez jejum, por que não começar? A decisão interior de orar é sua, de fazer tudo aquilo que faz parte do seu dia em oração. Assim, a renúncia vivida no trabalho se torna o jejum do corpo, que renuncia à indisposição e ao sono em determinados horários. Ou até mesmo às dores que sofremos com determinados esforços físicos. Quantas vezes saímos para o trabalho bem cedo e enfrentamos o trânsito dentro de ônibus circulares, metrôs. Sofremos com as chuvas intensas ou calor intenso. Tudo isso pode ser oferecido como uma forma de penitência do corpo, e assim se torna jejum.

Padre Jonas tinha um lema de vida, e este lema se transformou em nosso hábito. Ele dizia que um consagrado da Canção Nova não teria um sinal visível como uma Cruz, Tau ou uma medalha. Nem usaríamos uma veste como os religiosos. O nosso chamado não comporta este tipo de sinal visível. Padre Jonas dizia que “Os problemas são meus, mas a cara é dos outros”.

“Os problemas são meus, mas a cara é dos outros”.

Não é fácil ter o sorriso como nosso sinal de consagração.  Ele dizia: “Isso não é falsidade ou mentira, e sim viver no Espírito. Ao viver na lei, nos sentimos falsos, mas no Espírito não, é natural”. Por isso Jesus nos diz no Evangelho: “Quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os outros não vejam que estás jejuando, mas somente o pai, que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa.” (Mt. 6,18)

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A Igreja nos chama ao jejum

A Igreja, especialmente durante a Quaresma, nos chama ao jejum, à prática da esmola e da oração. Cada uma destas práticas são como o antídoto contra o veneno do pecado. A oração nos fortalece em Deus, a esmola (obras de caridade) “cobre uma multidão de pecados” e o jejum revigora o nosso espírito contra as tentações da carne e do espírito, libertando-nos e abrindo-nos para os valores superiores da alma.

“Convocai para um jejum…” (Jl 1,14). Estas palavras são as que ouvimos na primeira leitura da Quarta-Feira de Cinzas, quando começa a Quaresma. O jejum, no tempo da Quaresma, é também a expressão da nossa união com Cristo preso, torturado, flagelado, coroado de espinhos, condenado à morte, crucificado e morto. Unimos o nosso corpo e a nossa alma a Cristo, aos seus sofrimentos e privações. Somos pequenos e muito limitados, mas é a nossa pequena porção que alegra o Coração de Jesus.

Quando jejuamos devemos pensar não só em nos abster de um alimento ou das bebidas, mas em seu significado profundo. O alimento e as bebidas são indispensáveis para a sobrevivência do homem, mas não é correto abusar deles. A finalidade do jejum é nos levar a um equilíbrio necessário e ao desapego, das nossas “atitudes consumistas”, equilíbrio, a temperança por exemplo para não cairmos na gula, temperança em comer e por que não temperança no falar? Falar menos e escutar mais, falar menos e agir mais com caridade.

Como fazer jejum?

No livro Práticas de Jejum, padre Jonas nos ensina quatro formas de fazer jejum. Como explicamos acima, o jejum não se limita a essas formas, mas para quem não tem o hábito e deseja iniciar, vale a pena seguir essas indicações. Existe o chamado “jejum da Igreja”. É uma forma de jejum que vem da tradição da Igreja que qualquer pessoa, sem exceção, pode fazer. É extremamente simples, e por isso pode ser prescrito a todos. O básico desse tipo de jejum é tomar o café da manhã e depois só fazer uma refeição completa. Você escolhe o almoço ou o jantar, dependendo de seus hábitos, sua saúde, seu trabalho. Depois, você faz apenas um lanche simples de acordo com suas necessidades. Se você nunca fez jejum, por que não começar por este?

O importante é a disciplina

Há o chamado “jejum a pão e água”. Não quer dizer que se coma pão e tome água juntos. Pelo contrário, o nosso tipo de pão, comido com água, fermenta o estômago e dá dor de cabeça. Jejum a pão e água é comer pão quando se tem fome e beber água quando se tem sede. Não se deve deixar de beber água muitas vezes no dia. O organismo precisa de líquido. O básico desse jejum é não comer nem beber nada, a não ser pão e água. Repito, não é para passar fome nem sede. Esse jejum é o que mais refreia a nossa gula e o que mais nos disciplina no vício de lambiscar o dia todo.

Os benefícios para a saúde também são garantidos

Temos também o “jejum à base de líquidos”, que, além de ser remédio para a alma, faz muito bem para o nosso organismo. Nesse dia, você não come nada. Você só toma líquidos. É muito recomendado passar o dia à base de chás. O fato de ser quente e ter um pouco de açúcar ou mel alimenta e conserva o estômago aquecido, o que é muito bom. Vai muito bem neste dia: laranjada, limonada, sucos de frutas. Veja bem: é suco e não “vitamina”. Sucos de vegetais como cenoura, beterraba e até mesmo de verduras. Combinando legumes, verduras e frutas, as possibilidades são imensas. Esses vários sucos são sempre nutritivos e deixam o corpo leve para a oração e para as demais atividades intelectuais ou físicas. A água de coco é completa. Não há melhor hidratante.

Temos também a possibilidade dos caldos. Eles são quentes e salgados, e tem suas vantagens como alimentício. É muito confortável. Qualquer pessoa, especialmente os idosos e doentes, pode fazer um jejum muito saudável à base de caldos. Veja bem, estou falando de caldos e não de sopas ou canjas, embora se possa fazer caldo de frango e até mesmo de carne. Especialmente em dias frios, é uma forma excelente de fazer jejum, pois nos garante as calorias necessárias às atividades, especialmente as espirituais.

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E o “jejum completo”, no qual não se come nem se bebe nada, a não ser água. Um erro comum é querer fazer um dia de jejum e não tomar o café da manhã. Na verdade, elas estão começando seu jejum desde a última refeição do dia anterior, e não começando pela manhã. Com esta desinformação, acabam ficando com dor de cabeça, indispondo a pessoa, deixa-a irritada e impaciente. O que é totalmente oposto ao objetivo do jejum.

Se você nunca fez jejum, por que não começar?

Eu não estou dizendo que você deva fazer isso. Se você nunca fez jejum, por que não começar? É possível e não é difícil demais. É sobre disciplina que estamos falando. Esta é a essência do jejum. Além disso, todos eles deixam o corpo muito leve, hidratado, o aparelho digestivo está em repouso. A cabeça fica muito aberta e a nossa mente se predispõe a todas as atividades espirituais. Não só à oração e à contemplação, mas também ao estudo, à reflexão, à leitura, à escrita, aos cálculos, aos projetos, à música… Não há coisa pior do que um mau hábito de estudar ou fazer um trabalho intelectual e de concentração, que exige esforço, comendo, bebendo, tomando cafezinho… Pensamos que tudo isso reativa a mente e facilita a concentração e a criatividade. É ilusão. Isso nos intoxica e acumula tensões.

Fique por dentro sobre as orientações da Igreja

Abstinência é deixar de comer carnes de animais de sangue quente: bovina (gado), ovina (carneiro), aviária (frango, galeto, galinha etc., bem como seus caldos de carne. Porém, quando você faz abstinência de carne, é permitido o uso de ovos, laticínios e gordura.

Abstinência parcial: a carne é permitida só na refeição principal/completa.

Dias obrigatórios segundo Mandamentos da Igreja
Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor: jejum e abstinência obrigatórios.
Demais dias da Quaresma, exceto os Domingos: jejum e abstinência parcial recomendados.
Sextas-feiras da Quaresma (que estão entre os dias assinalados pelo calendário antigo como Sextas-feiras das Têmporas): jejum e abstinência recomendados.
Demais sextas-feiras do ano, exceto se forem Solenidades: abstinência obrigatória, mas não é obrigatório o jejum.

Essa abstinência pode ser trocada, a juízo do próprio fiel, por outra penitência, conforme estabelecer a conferência episcopal. No Brasil, a CNBB estabeleceu qualquer outro tipo de penitência, como orações piedosas, prática de caridade, exercícios de devoção etc.).

Enfim todos podemos exercer essa prática penitencial, o jejum, sem dúvida, colabora com nossa conversão, educa nossos instintos, deixar de comer isso ou aquilo, também revela do que realmente precisamos que é Deus. Façamos o jejum, sendo possível, mas não com hipocrisia, ou seja, sem frutos, mas que o jejum nos melhore como gente, nos faça mais caridosos, que o jejum provoque em nós uma profunda conversão e união com Deus.

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