CATEQUESE DO PAPA: A MISSÃO DE SANTIFICAR DOS SACERDOTES

 

Hoje, eu gostaria de refletir brevemente convosco sobre a tarefa do sacerdote, a de santificar os homens, principalmente mediante os sacramentos e o culto da Igreja. Aqui devemos, primeiramente, perguntar-nos: o que quer dizer a palavra “santo”? A resposta é: “santo” é a qualidade específica do ser de Deus, isto é, absoluta verdade, bondade, amor, beleza – pura luz. Santificar uma pessoa significa, portanto, colocá-la em contato com Deus, com este seu ser luz, verdade e amor puro. É óbvio que tal contato transforma a pessoa. Na antiguidade, havia esta firme convicção: ninguém poderia ver Deus sem morrer imediatamente.

 

 

A força de verdade e de luz é grande demais! Se o homem toca esta torrente absoluta, não sobrevive. Por outro lado, havia também a convicção: sem um mínimo contato com Deus, o homem não pode viver. Verdade, bondade, amor são condições fundamentais de seu ser. A questão é: como pode o homem encontrar aquele contato com Deus, que é fundamental, sem morrer esmagado pela grandeza do ser divino? A fé da Igreja nos diz que o próprio Deus estabelece este contato, que nos transforma paulatinamente em verdadeiras imagens de Deus.

 

Assim, voltamos à tarefa do sacerdote de “santificar”. Nenhum homem, por si mesmo, a partir de suas próprias forças, pode colocar alguém em contato com Deus. Parte essencial da graça do sacerdócio é o dom, a tarefa de criar este contato. Este se realiza no anúncio da Palavra de Deus, na qual sua luz vem ao nosso encontro. Realiza-se de um modo particularmente denso nos sacramentos. A imersão no mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo se dá no Batismo, é reforçada na Confirmação e na Reconciliação, é alimentada pela Eucaristia, sacramento que edifica a Igreja como Povo de Deus, Corpo de Cristo, templo do Espírito Santo (cf. João Paulo II, Pastores gregis, n. 32). É, portanto, o próprio Cristo quem nos torna santos, isto é, nos lança na esfera de Deus.

 

Quem, salva o mundo e o homem? A única resposta que podemos oferecer é: Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, crucificado e ressuscitado. E onde se atualiza o mistério da morte e ressurreição de Cristo, que conduz à salvação? Na ação de Cristo mediante a Igreja, em particular no sacramento da Eucaristia, que torna presente a oferenda sacrifical redentora do Filho de Deus, no sacramento da Reconciliação, no qual da morte do pecado volta-se para a vida nova, e qualquer outro ato sacramental de santificação. Por isso, é importante promover uma catequese adequada, a fim de auxiliar os fiéis a compreenderem o valor dos sacramentos, mas é também necessário, a exemplo de Santo Cura d’Ars, sermos disponíveis, generosos e atentos no doar aos irmãos os tesouros da graça que Deus colocou em nossas mãos, e das quais não somos “proprietários”, mas tutores e administradores. Principalmente em nosso tempo, no qual, por um lado, parece que a fé está se enfraquecendo e, por outro, emerge uma necessidade profunda e uma busca difundida por espiritualidade, é necessário que cada sacerdote lembre que, em sua missão, o anúncio missionário, o culto e os sacramentos nunca estão separados, e que promova uma sã pastoral sacramental, a fim de formar o povo de Deus e ajudá-lo a viver em plenitude a liturgia, o culto da Igreja, os sacramentos como dons gratuitos de Deus, atos livres e eficazes de sua ação de salvação.

(Como lembrei na santa Missa Crismal deste ano:) “No centro do culto da Igreja está o Sacramento. Sacramento significa que, em primeiro lugar, não somos nós, homens, que realizamos algo, mas Deus que, em antecipação, vem ao nosso encontro com seu agir, e nos conduz em direção a Si. (…) Deus nos toca por meio de realidades materiais (…) que Ele coloca a seu serviço, tornando-as instrumentos do encontro entre nós e Ele” (Missa Crismal, 1º de abril de 2010). A verdade segundo a qual no sacramento “não somos nós homens que realizamos algo” remete, e deve remeter, também à consciência sacerdotal: cada presbítero sabe muito bem ser instrumento necessário ao agir salvífico de Deus, mas também sabe ser sempre um instrumento. Tal consciência deve torná-los humildes e generosos na administração dos sacramentos, no respeito às normas canônicas, mas também na profunda convicção que sua própria missão é fazer com que todos os homens, unidos em Cristo, possam oferecer-se a Deus como hóstia viva e santa a Ele agradável (cf. Rm 12, 1).

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