Fui cancelado. E agora?

Olá, meus irmãos. Sejam muito bem-vindos! Partiremos hoje do Evangelho segundo São Mateus 9, 13: “Ide, pois, disse Jesus, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não o sacrifício. Com efeito, eu não vim chamar justos, mas pecadores”.

Nos últimos tempos surgiu uma onda na internet denominada cancelamento. Talvez você já tenha visto esse tipo de comportamento na rede. Quem sabe você esteja entre aqueles que foram cancelados. Este tipo de comportamento, me parece, entrou em alguns grupos cristãos. Obviamente, o nome que dão ao que fazem não é este. Diante do pecado, da queda dos nossos irmãos, comportamo-nos, não poucas vezes, tal qual os Fariseus que conviveram com Jesus. Não suportamos o fato de que o Senhor, logo o Senhor, esteja à mesa com publicanos e pecadores (cf. Mt 9, 10). Acredito que isto acontece todas as vezes que nos esquecemos, pasmem, que somos pecadores! Tanto nós, os que acreditamos estar de pé, quanto aqueles que caíram, precisamos do perdão de Deus. O perdão, observa o padre Amedeo Cencini, só podia ser inventado por Deus, que quer o bem do ser humano, e não certamente por um eu que procura a si mesmo 1. Enquanto isso, eu e você, cancelamos. Obviamente, insisto, o nome dado não é este.

O capítulo 18, versículos 16 e 17, do Evangelho de São Mateus, nos fornece um itinerário para o tratamento do pecado, da falta grave do irmão: “Se o teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão. Se não te ouvir, porém, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda questão seja decidida pela palavra de duas ou três testemunhas. Caso não lhes dê ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja der ouvidos, trata-o como o gentio ou o publicano”. A internet tem sido, tantas vezes, o local do nosso “cancelamento fraterno”. Para São Doroteu, Abade, “a causa de toda perturbação, se bem a procurarmos, está em que ninguém se acusa a si mesmo” 2. É tão bonito quando em cada Celebração Eucarística nós nos confessamos, nos acusamos publicamente de ter pecado dizendo, “confesso a Deus, Todo Poderoso, e a vós irmãos e irmãs, que pequei muitas (não poucas, mas muitas) vezes, por pensamentos e palavras, atos e omissões, por minha culpa (aqui deveríamos bater no peito), minha tão grande culpa”.

Irmãos e irmãs, “a verdadeira queda – atenção para isso -, a verdadeira queda, a que é capaz de arruinar-nos a vida é a de permanecer no chão e não deixar-se ajudar” 3. Precisamos socorrer os que estão no erro, no pecado, porque “grande e admirável coisa é firmar não aquilo que está de pé, mas o que cai” 4.  Precisamos acolher, ajudar. Não simplesmente excluir e cancelar. 

Supliquemos, pela intercessão da Sempre Virgem Maria, a compreensão de que o Senhor não nos trata como exigem nossas faltas, nem nos pune em proporção às nossas culpas, que Ele é indulgente, favorável, paciente e compassivo. Que o Senhor não cessa de atrair o homem a si, pois só em Deus ele há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar 5. Que eu e você não cancelemos, mas ajudemos os homens a encontrar a Verdade. Amém!

 

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1 Viver reconciliados: aspectos psicológicos, Pe. Amedeo Cencini. Ed. Paulinas.

2 São Doroteu, Abade. O motivo de toda perturbação vem de que ninguém se acusa a si mesmo (Das Instruções). No coração da igreja, ed. Cleofas.

3 Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Christus Vivit, Papa Francisco.

4 Homília de um autor do século II, No coração da Igreja, ed. Cleofas.

5 cf. Catecismo da Igreja Católica, 27.

 

Marcus Lemos – Segundo Elo – Canção Nova Aracaju

 

Marcus Lemos é missionário na comunidade Canção Nova, vivendo seu segundo ano de consagração. Natural de Aracaju/SE, é casado com a missionária Nathalie Fontes, trabalha no setor de Educação a Distância (EaD) de um Grupo Educacional, é formado em Gestão da Tecnologia da Informação.

 

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