O preço de um resgate

O homem não pode comprar seu resgate, nem pagar a Deus seu preço: o resgate de sua vida é tão caro que seria sempre insuficiente para o homem sobreviver, sem nunca ver a cova (Sl 49, 8-10)1. Pelo sinal da santa Cruz, livrai-nos Deus nosso Senhor dos nossos inimigos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! 

Irmãos e irmãs, para o homem, isto é, para a humanidade, era impossível pagar o preço do resgate de sua vida. Uma Pessoa, porém, quis liquidar, por assim dizer, a dívida. Alguém, uma Pessoa pagou a conta. São Paulo escreve a Timóteo que o Senhor Jesus “se deu em resgate por todos” (1Tm 2, 6). A morte violenta dEle não foi o resultado do acaso em um conjunto infeliz de circunstâncias. Não. Ela faz parte do mistério do projeto de Deus, como explica São Pedro aos judeus de Jerusalém, já em seu primeiro discurso de Pentecostes: “Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue pelas mãos dos ímpios” (At 2, 23). Esta linguagem bíblica não significa que os que “entregaram Jesus” tenham sido apenas executores passivos de um roteiro escrito de antemão por Deus. Para Deus, todos os momentos do tempo estão presentes em sua autoridade. “Nada escapa de sua mão” (Tb 13, 2). Ele estabelece, portanto, seu projeto eterno de “predestinação”, incluindo nele a resposta livre do homem à sua graça: “foi o que aconteceu nesta cidade, Herodes e Pôncio Pilatos uniram-se, com as nações pagãs e a população de Israel, contra Jesus, teu santo servo, a quem ungiste, a fim de executarem tudo o que a tua mão e a tua vontade haviam predeterminado que sucedesse” (At 4, 27-28). Deus permitiu os atos nascidos de sua cegueira, a fim de realizar seu projeto de salvação 2

Meu querido irmão, a sua vida é preciosa, preciosíssima! Não importa o quão distante você esteja, é tempo de voltar para o Senhor. No evangelho de São Lucas lemos a parábola do “filho pródigo”, na qual vemos a loucura do filho mais novo, que pede ao Pai: “dá-me a parte da herança que me cabe” (Lc 15, 12). Esse filho mais novo partiu, diz-nos o texto, “para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa” (v. 13). “O homem, — cada um dos homens — é este filho pródigo: fascinado pela tentação de se separar do Pai para viver de modo independente a própria existência; caído na tentação; desiludido do nada que, como miragem, o tinha deslumbrado; sozinho, desonrado e explorado no momento em que tenta construir um mundo só para si; atormentado, mesmo no mais profundo da própria miséria, pelo desejo de voltar à comunhão com o Pai. Como o pai da parábola, Deus fica à espreita do regresso do filho, abraça-o à sua chegada e põe a mesa para o banquete do novo encontro, com que se festeja a reconciliação”3. Meu querido, minha querida, fomos resgatados, comprados, por um alto preço. Não importa o tamanho do seu pecado: Deus está sempre disposto a perdoar. “Não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas por sangue precioso, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, Cristo, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos tempos, por causa de vós” (1Pd 1, 18-20).

____

1 O Autor utilizou para as citações bíblicas a Tradução da Bíblia de Jerusalém. Exceto nos casos em que citou textos tirados do Catecismo da Igreja Católica.

2 Cf. CIC 599.

3 II, João Paulo. Exortação apostólica pós-sinodal: reconciliatio et paenitentia. Reconciliatio et Paenitentia. 1984. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_02121984_reconciliatio-et-paenitentia.html. Acesso em: 21 jul. 2022.

 

Marcus Lemos é missionário na comunidade Canção Nova, vivendo seu segundo ano de consagração. Natural de Aracaju/SE, é casado com a missionária Nathalie Fontes, trabalha no setor de Educação a Distância (EaD) de um Grupo Educacional, é formado em Gestão da Tecnologia da Informação.

Comments

comments