“O Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome. Então, o tentador aproximou-se…” (Mt 4, 1-3)
Olá, seja bem-vindo ao nosso mais novo artigo! Irmãos, sabemos que no decorrer do ano, a Igreja comemora em dias determinados a obra salvífica de Cristo. Cada semana, no dia chamado domingo (dia do Senhor), ela recorda a ressurreição do Senhor, que celebra também, uma vez por ano, com a bem-aventurada Paixão na solenidade máxima da Páscoa. Durante o ciclo anual desenvolve-se todo o ministério de Cristo e comemoram-se os aniversários dos Santos1. No Tempo da Quaresma, nos quarenta dias que antecedem o Tríduo pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor, a Igreja, assim como nos demais tempos do ano litúrgico, aperfeiçoa a formação dos fiéis por meio de piedosos exercícios espirituais e corporais, pela instrução e oração, e pelas obras de penitência e de misericórdia. O Tempo da Quaresma é, portanto, um tempo de aperfeiçoamento, isto é, de buscarmos a perfeição cristã; e, por isso mesmo, está implícita a dimensão do combate espiritual. Para o padre Lorenzo Scupoli, “a santidade não consiste em outra coisa além do conhecimento da bondade e grandeza de Deus e da nossa nulidade e inclinação a toda espécie de mal; do amor por Ele e da indiferença por nós mesmos; da submissão não só a Ele, mas a toda criatura por causa dele; da renúncia total à nossa vontade, da total resignação à Providência e de fazer tudo isso simplesmente pela glória de Deus e pelo puro desejo de agradá-o, porque Ele tem todo o direito de ser amado e servido por suas criaturas”2. Para conquistar a perfeição cristã, é ele ainda quem nos ensina, trava-se “guerra dura e terrível contra o amor-próprio”3. O padre nos indica quatro armas para obtermos a vitória: “a desconfiança de si, a confiança em Deus, os exercícios e as orações”4.
Líamos no início do artigo os versículos de 1-3 do capítulo 4 do Evangelho segundo Mateus. Ouvimos que “o Espírito conduziu Jesus ao deserto” com um objetivo, “ser tentado”. Interessante perceber que isto acontece, tanto para Mateus como para Marcos e Lucas, após o Batismo de Jesus (cf. Mt 3, 16-17; Mc 1, 9-11; Lc 3, 21-22). Para o Senhor Jesus, o Batismo “é a aceitação e inauguração de sua missão de Servo sofredor”5. Ele, embora não tenha pecado (2Cor 5, 21), se deixa contar entre os pecadores (Is 53, 12) e recebe o batismo administrado por João no Jordão, embora este tenha tentado dissuadi-lo, dizendo “eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?” (Mt 3, 14). Mas o Senhor Jesus queria revelar algo ao fazer isso. Ele disse: “Deixa estar por enquanto, pois assim nos convém cumprir toda justiça” (Mt 3, 14). Santo Ambrósio compreendeu que Jesus queria mostrar “que toda a justiça está assentada no batismo”6. O Sacramento do Batismo “significa e realiza a morte ao pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade, por meio da configuração ao mistério pascal de Cristo”7. Ele confere a vida da graça de Cristo, apaga o pecado original e faz o homem voltar para Deus. No entanto, as consequências deste pecado sobre a natureza, enfraquecida e inclinada ao mal permanecem no homem e o incitam ao combate espiritual8. No dia do nosso batismo foi traçado sobre nós o óleo do crisma, significando o dom do Espírito Santo ao novo batizado. Tornamo-nos, naquele dia, cristãos, isto é, ungidos do Espírito Santo, incorporados a Cristo, que é ungido sacerdote, profeta e rei. No simbolismo bíblico e antigo, a unção é rica de significados: ela torna ágeis os atletas e lutadores! Imagine-se numa luta para a qual você recebeu por todo o corpo um óleo; você foi como que untado, foi ungido. O seu oponente não conseguiria segurar você, pois suas mãos escorregam no óleo. Percebe para que você foi ungido? Para a luta, para o combate espiritual, “pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestiais” (Ef 6, 12).
Deus seja louvado!
Referências:
1 – Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. 7. ed. Brasília: CNBB, 2018. p. 159.
2 – SCUPOLI, Pe. Lorenzo. O Combate Espiritual: As Armas para Conquistar a Perfeição da Santidade. 2. ed. São Paulo: Cultor de Livros, 2021. p. 12-13.
3 – Ibidem 2.
4 – Ibidem 2.
5 – Catecismo da Igreja Católica, no 536.
6 – MILÃO, Ambrósio De. Patrística: Sobre os Sacramentos. 1. ed. São Paulo: Paulus, 1996. p. 35.
7 – Catecismo da Igreja Católica, no 1239.
8 – Cf. Catecismo da Igreja Católica, no 405.
Marcus Lemos – Segundo Elo – Canção Nova Aracaju
Marcus Lemos é missionário na comunidade Canção Nova. Natural de Aracaju/SE, é casado com a missionária Nathalie Fontes, trabalha no setor de Educação a Distância (EaD) de um Grupo Educacional, é formado em Gestão da Tecnologia da Informação.