A vós todos, meus irmãos, amados de Deus e chamados à santidade, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Sejam muito bem-vindos a este nosso novo artigo! Lemos nas Escrituras, no evangelho segundo São Marcos, que “João Batista esteve no deserto proclamando um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados. E iam até ele toda a região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém, e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando seus pecados. João, se vestia de pelos de camelo e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre. E proclamava: ‘Depois de mim, vem aquele que é mais forte do que eu, de quem não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias. Eu vos batizei com água. Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo’” (Mc 1, 4-8). O núcleo da teologia de Marcos é o mesmo da teologia de Jesus – o Reino de Deus. Tudo o que é ensinado sobre cristologia (a identidade de Jesus) e sobre o discipulado (a resposta a Jesus) recebe sua estrutura do Reino de Deus. O prólogo do evangelho, capítulo 1, versículos 1-15, de onde o trecho lido acima foi extraído, tem seu clímax numa amostra da pregação de Jesus: “Cumpriu-se o tempo e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho”1. Neste artigo, no entanto, não abordaremos o aspecto cristológico do evangelho, tampouco o discipulado. Voltaremos o nosso olhar para aquele que é, como disse João Paulo II, na Encíclica Redemptoris Missio, o “protagonista da missão”, o Espírito Santo.
Lemos no evangelho que Jesus nos “batizará com o Espírito Santo”, mas o que significa batizar com o Espírito Santo? Esta expressão não serve somente para distinguir o batismo de Jesus do de João, que batiza só “com água”, mas serve para distinguir a pessoa e a obra de Cristo das do Precursor. Em outras palavras, em toda a sua obra, Jesus é Aquele que batiza no Espírito Santo. Batizar aqui tem sentido metafórico; quer dizer inundar, banhar completamente, submergir, como o faz a água com os corpos. Jesus “batiza no Espírito Santo” no sentido de que “dá o Espírito sem medida” (cf. Jo 3, 34), que “efunde” o seu Espírito (cf. At 2, 33) sobre toda a humanidade redimida. A expressão se refere mais ao acontecimento de Pentecostes do que ao sacramento do Batismo, como lemos em Atos 1, 5: “Porque João, na verdade, batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo, daqui a poucos dias”2. Tendo recebido do Senhor Jesus a promessa, os Apóstolos voltaram para Jerusalém e, tendo entrado na cidade, subiram à sala de cima. O lugar era conhecido deles, pois segundo o livro dos Atos eles costumavam reunir-se ali (cf. At 1, 13). Entre eles estavam “Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago filho de alfeu, Simão Zelota e Judas filho de Tiago. Todos perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1, 13-14).
Quando chegou o dia de Pentecostes, “a Igreja que, já concebida, saiu do lado do segundo Adão em seu sono na Cruz, mostrou-se pela primeira vez aos olhos dos homens. Naquele dia, o Espírito Santo começou a manifestar Seus dons no corpo místico de Cristo, por aquele derramamento milagroso já previsto pelo profeta Joel: “Derramarei do meu espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, vossos jovens terão visões. Também sobre servos e servas, naqueles dias, derramarei meu espírito” (Jl 3, 1-2)3. Aqueles homens e mulheres, de fato, não foram mais os mesmos após o “derramamento milagroso” do Espírito. Eles receberam “uma força” que os fez testemunhas “em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até os confins da terra” (cf. At 1, 8). Irmãos e irmãs, é do Espírito Santo que recebemos a capacitação para testemunharmos Cristo. Testemunharmos na vida cotidiana, no dia a dia, mas também por meio da pregação. Sem a ação do Espírito, a pregação se torna letra morta. No entanto, as palavras que nos diz o Senhor Jesus são “espírito e vida” (Jo 6, 63) e, tendo-as ouvido “sussurrada aos ouvidos”, isto é, na leitura, meditação, oração e contemplação da Palavra, devemos pregar “sobre os telhados” (cf. Mt 10, 27).
O Autor dos atos dos Apóstolos registrou algo maravilhoso a respeito de Pedro e João, disse-nos que, ao ver a intrepidez deles, “e verificando que eram homens iletrados e sem posição social, ficaram admirados. Reconheceram-nos, vejam que maravilha, é verdade, como os que estiveram com Jesus” (cf. At 4, 13). E de nós, caríssimos leitores, é dito que estamos com Jesus? Será que se diz o contrário, sermos homens letrados e de posição social, mas que não estamos com o Senhor Jesus? A força e a eficácia da evangelização não está na quantidade de graduações ou pós-graduações que fazemos, embora tudo isso seja bom e não seja errado, contribui e muito, mas está em estar com Jesus. Disse São Paulo aos Coríntios: “Estive entre vós cheio de fraqueza, receio e tremor; minha palavra e pregação nada tinham da persuasiva linguagem da sabedoria, mas eram uma demonstração de Espírito e poder, a fim de que a vossa fé não se baseie na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (1 Cor 2, 4-5). Que a nossa ação evangelizadora não se baseie na persuasiva linguagem da sabedoria, mas numa demonstração de Espírito e poder!
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Como era, no princípio, agora e sempre. Amém!
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1 Cf. HARRINGTON, S.J., Daniel J. O Evangelho Segundo Marcos: A teologia de Marcos.. In: NOVO comentário bíblico São Jerônimo: NOVO TESTAMENTO E ARTIGOS SISTEMÁTICOS. 1a. ed. São Paulo: Paulus, 2018.
2 Cf. CANTALAMESSA, O.F.M. CAP., Raniero. Jesus, “Aquele que batiza no Espírito Santo”. In: A SÓBRIA embriaguez do Espírito. 1a. ed. São José dos Campos, SP: ComDeus, 2019. cap. 3, p. 67-70.
3 Cf. XIII, Leão. DIVINUM ILLUD MUNUS: SOBRE O ESPÍRITO SANTO. ENCÍCLICA, Dado em São Pedro, em Roma., 9 maio 1897.
Marcus Lemos – Segundo Elo – Canção Nova Aracaju
Marcus Lemos é missionário na comunidade Canção Nova, vivendo seu segundo ano de consagração. Natural de Aracaju/SE, é casado com a missionária Nathalie Fontes, trabalha no setor de Educação a Distância (EaD) de um Grupo Educacional, é formado em Gestão da Tecnologia da Informação.