No meio do confinamento em que nos encontramos, um sentimento começa a ocupar um espaço cada vez maior em nosso coração. Sim, é a famosa saudade, que dá título a este texto. A dor e a melancolia que vêm ao coração pela recordação da pessoa ou coisa ausente e querida é um sentimento que está ao alcance de todo e qualquer ser humano que ame. Dizem, contudo, que só o nosso idioma português logrou dar nome a esse sentimento específico e tão lembrado nos poemas e nas músicas.
Passadas algumas semanas, quantos avós se ressentem da ausência dos seus netos, a quem estão impedidos de abraçar e afagar? Quantos filhos, por caridade, não podem visitar, diariamente, seus pais, para preservá-los do risco de contaminação pelo COVID-19? Quantos pessoas, que tiveram amigos muito próximos e queridos arrancados do seu convívio, aguardam ansiosos o momento do reencontro, do abraço, da celebração?
Alguns anos atrás, passei quatro meses fora do Brasil fazendo um curso pelo meu trabalho. Foi uma oportunidade muito enriquecedora pessoalmente, mas me custou muito a ausência da minha esposa e dos meus filhos – naquela época, eram só dois. Lembro muito bem, especialmente das últimas semanas, quando eu já estava bem próximo de voltar para casa.
Você gosta de sentir a dor da saudade
Eu passava boa parte do dia sonhando acordado, imaginando o momento em que iria reencontrar a minha esposa e meus filhos: como ela estaria vestida? Qual seria a primeira coisa que eu diria? E ela, o que me responderia? Meus filhos correriam para me abraçar? Eu choraria de emoção? Eu me perdia imaginando as respostas para essas e outras perguntas. O que eu fazia era antecipar o momento do reencontro em minha cabeça, algo que é bastante comum a quem sofre de saudade. Essa antecipação, por sinal, só torna a saudade mais intensa, mas parece ser justamente isso que nós queremos. A saudade é uma dor que gostamos de sentir quando sabemos que reencontraremos aqueles de cuja ausência nos ressentimos.
Diante desse sentimento tão forte, nesse contexto de isolamento social, há algo que não me sai da mente: eu, que participava, diariamente, da Santa Missa, que encontrava Jesus Eucarístico fisicamente todos os dias, comungando Seu Corpo e Seu Sangue, agora só posso vê-lo por foto ou vídeo, e justamente no tempo da Quaresma. Era meu amigo mais querido, mas Ele foi tirado de mim e não sei quando poderei O reencontrar.
Como disse Santo Agostinho: “Ele se esconde, porque quer ser procurado”. Face a essa realidade, a pergunta que não canso de me fazer, todos os dias, desde então, é: tenho cultivado a minha saudade de Jesus? O que quero dizer com isso? Como falei, quem sente saudade antecipa o reencontro. Sonha acordado, ensaia diálogos, imagina situações. Faz isso, porque ama e não quer tirar o amado da sua mente. Eu tenho antecipado o meu reencontro com Jesus?
A cada Santa Missa que acompanho pela TV ou pela Internet, tenho procurado trazer à memória os momentos triviais que eu vivia nas Santas Missas das quais eu participava presencialmente e que se tornaram tão preciosos. Quando começa o momento da comunhão, fecho os olhos e vejo-me na paróquia que frequento, no banco onde costumo sentar-me com minha esposa e meus quatro filhos. Revivo cada instante.
Primeiro, há um sinal visual que eu e minha esposa sempre fazemos um para o outro quando é a hora de irmos para a fila da comunhão. Em seguida, eu me levanto com minha filha mais nova no colo e entro na fila. Aguardo que minha esposa passe à minha frente, segurando outros dois filhos pela mão. Atrás dela, vai nosso filho adolescente. Enquanto seguimos na fila, esforçamo-nos para, discretamente, mantermos a filha de nove anos e, em especial, o filho de cinco anos na linha, já que eles, facilmente, distraem-se e esquecem onde estão. Ainda de olhos fechados, revivo o gosto característico da Hóstia Consagrada e faço disso uma doce lembrança que se converte em saudade.
Rezo a oração de comunhão espiritual do Papa Francisco e fico conversando com Deus, imaginando a primeira Santa Missa da qual participarei quando tudo isso acabar. Fico pedindo a Deus a graça de meu coração fazer festa por esse momento. Peço que Jesus me conceda a graça de, como Ele mesmo disse, desejar ardentemente comer esta Páscoa. E me vejo vigilante: não posso pecar! Não posso sair do estado de graça, porque não quero correr o menor risco de não poder comungar o Corpo de Cristo quando surgir a primeira oportunidade de participar da Santa Missa presencialmente.
Sentir saudade da maneira certa
É justo e desejável sentir a falta dos nossos entes queridos. É sinal de que somos seres humanos, sinal de que amamos. Mas como podemos não amar o Amor? Para amarmos as pessoas da maneira certa, até para sentirmos saudade da maneira certa, precisamos, primeiro, amar Jesus acima de todas as coisas. E isso significa que a primeira saudade, a saudade mais pungente que devemos sentir é de reencontrarmos Jesus na Eucaristia, o nosso maior tesouro.
Essa Páscoa foi, para a grande maioria dos católicos como eu, a primeira sem a Eucaristia. Celebrei como possível, participando do Tríduo Pascal pela TV, rezando em família, adorando Jesus Eucarístico à distância, em Espírito e em Verdade.
Passada a Páscoa, não esmoreçamos. Pelo contrário, peçamos que Deus nos conceda a graça de uma saudade sem tamanho de reencontrá-Lo. Uma saudade que doa no peito, que nos faça contar as horas até o feliz dia em que, novamente, poderemos receber Seu Corpo e Seu Sangue como alimento. Neste dia, talvez sintamos, ao comungar, o doce beijo de Jesus na nossa alma, como disse Santa Teresinha do Menino Jesus.
Autor: José Leonardo Ribeiro Nascimento – membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007.
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