Sinônimo de Mulher

 

Texto: PE. Gilvan Rodrigues dos Santos (Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e escritor)

 

Nas bodas de Caná da Galiléia, quando percebeu a angústia do casal que sofreria o vexame de não ter mais vinho, Maria  intercedeu ao Filho, que lhe respondeu: “Que queres de mim, mulher?” – literalmente: “Que há entre mim e ti, mulher?” (Jo 2,4). Aos pés da cruz, esgotado em suas forças, vendo sua mãe, Jesus disse-lhe: “Mulher, eis o teu filho”. Dois momento distintos, em que a expressão “Mulher” parece ter nos lábios de Jesus significados diversos, ou, pelo menos, intenções pedagógicas, subliminarmente, diferentes. A tradição bíblica coloca a presença de Maria no início da vida pública de seu Filho e no momento extremo de seu suplício sobre a cruz.

 

Numa leitura imediatista do primeiro texto, podemos até pensar em uma resposta “grosseira” por parte do Filho à sua Mãe. Mas, não se trata disto. Com efeito, “é uma resposta negativa, mas carregada de mistério” (Angélico Poppi). Segundo os estudiosos, Jesus tem consciência plena de sua missão divina e deve estar, totalmente, livre e submisso à vontade do Pai, sem a interferência de ninguém, nem de sua Mãe, pois, a sua “hora” ainda não chegara (Jo 2,4). Assim, de um passo ao outro, das Bodas de Caná aos pés da Cruz, tudo se esclarece na dinâmica da importância da figura da Mãe de Jesus ligada ao seu divino Filho. É o que, posteriormente, a Igreja vai se encarregar de aprofundar: “Quando chegar a hora de Jesus – e esta hora chega no momento da cruz –, será colocada em relevo uma estreitíssima relação entre Maria e Jesus, uma relação mais forte do que a simples relação físico-gerativa” (Commento della Bibbia Liturgica).

 

Em outras palavras, sob a ótica da relação Mãe e Filho, Maria é o modelo perfeito de discípula e seguidora de Cristo. E isto de tal maneira que ela “vem chamada com o título incomum de ‘mulher’, enquanto personificação da Sião ideal (isto é, de Israel, considerado esposa de Iahweh) e figura da Igreja” (Angélico Poppi). Maria abre o caminho de fé no Filho de Deus para todos nós, seus filhos gerados aos pés da cruz do “Servo sofredor”. Por meio de Maria, sua Mãe, Cristo resgata o valor próprio da dignidade da mulher. Deste modo, olhando para Maria, as mulheres devem reencontrar o caminho de sua própria dignidade.

 

 

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