A Igreja, porque é mistério do Corpo de Jesus, acaba por ter na Palavra o anúncio da sua identidade, a graça da sua conversão, o mandato da sua missão, a fonte da sua profecia e a razão da sua esperança.
É intimamente constituída pelo diálogo com o Esposo e torna-se a destinatária e testemunha privilegiada da Palavra amorosa e salvífica de Deus. Pertencer cada vez mais a esse “mistério” que faz a Igreja é o resultado justo da escuta da Palavra de Deus. Por isso, o encontro contínuo com a Palavra de Deus é causa da sua renovação e fonte de «uma nova primavera espiritual».
Por outro lado, a consciência viva de pertencer à Igreja, Corpo de Cristo, será efetiva na medida em que se puderem articular coerentemente as diferentes relações com a Palavra de Deus: uma Palavra anunciada, uma Palavra meditada e estudada, uma Palavra pregada e celebrada, uma Palavra vivida e propagada.
É por isso que, na Igreja, a Palavra de Deus não é um depósito inerte, mas torna-se regra suprema da fé e poder de vida; progride com a assistência do Espírito Santo e cresce com a reflexão e o estudo dos crentes, com a experiência pessoal de vida espiritual e a pregação dos Bispos (cf. DV 8; 21).
Testemunham-no de modo especial os homens de Deus que habitaram a Palavra [9]. É evidente que a primeira missão da Igreja é transmitir a Palavra divina a todos os homens. A história atesta que isso aconteceu e continua a acontecer hoje, depois de tantos séculos, no meio de tantos obstáculos, mas também com vitalidade fecunda.
São objeto de permanente reflexão e fiel atuação as primeiras palavras da Dei Verbum: «em religiosa escuta da Palavra de Deus e proclamando-a com firme confiança» (DV 1). Resumem a essência da Igreja na sua dupla dimensão de escuta e proclamação da Palavra de Deus. Não há dúvida nenhuma de que o primeiro lugar pertence à Palavra de Deus. Só através dela se pode compreender a Igreja. Esta define-se como Igreja que escuta. É na medida em que escuta que também pode ser Igreja que proclama. Diz o Santo Padre Bento XVI: «Não é a si que a Igreja vai buscar a sua vida, mas ao Evangelho, e pelo Evangelho que ela constantemente se orienta no seu peregrinar»
cf INSTRUMENTUM LABORIS*, Vaticano 2008