O Espírito Santo quer amar em nós

     O significado da Solenidade de Pentecostes. 

      Nesta Solenidade de Pentecostes, celebramos o ato do Pai, por Cristo, derramar o Espírito Santo sobre a Igreja, sobre todos nós. Tudo que Deus realizou em favor do homem, no Mistério Pascal de Jesus, não ficou só lá no período histórico em que Cristo viveu na terra. Graças à ação do Espírito Santo, tornam-se presentes para nós os Mistérios da Salvação: Encarnação, Paixão, Morte, Ressurreição, Ascensão e, o que ora celebramos, a Vinda do Espírito Santo, enquanto aguardamos a Segunda Vinda de Cristo.

Foto ilustrativa – Fonte: cancaonova.com

      Em linhas gerais, o que celebramos na Solenidade que ocorre 50 dias após a ressurreição de Jesus, denominada Pentecostes? Vivenciamos o cumprimento da promessa feita pelo Pai, seja no Antigo Testamento, quando pelo profeta Joel, o Senhor disse: “Derramarei o meu Espírito sobre toda carne” (Jl 3,1), seja pelo próprio Cristo, segundo Ele mesmo diz nos Atos dos Apóstolos: “Não vos afastei de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual me ouvistes falar, quando eu disse: ‘João batizou com água; vós porém, dentro de poucos dias sereis batizados com o Espírito Santo’” (At 1,4-5).
      No capítulo segundo dos Atos dos Apóstolos vemos o evento de Pentecostes e o seu impacto na vida dos primeiros seguidores de Cristo. Os discípulos ficaram repletos do amor de Deus, de alegria e de força para levar a salvação no Nome de Jesus a todos os povos.
      Essa experiência marcante e de profundo envolvimento no Espírito sempre esteve presente na Igreja durante os séculos, embora, em algumas épocas, tenha se verificado que ela ficou mais sentida no plano da santidade pessoal de alguns membros da Igreja.
      Mas, na segunda metade do século passado, irrompeu um fenômeno do Espírito Santo, do derramamento do Espírito de Deus, em proporção mundial, nunca visto na História da Igreja, que foi percebido como um novo Pentecostes.
      Bem, até aqui, fizemos um brevíssimo resumo sobre o significado e o desdobramento na história do Pentecostes. Contudo, o que é Pentecostes para nós e o que o Espírito realiza em nós hoje?
      Para nós, Pentecostes é a atualização do que a Igreja viveu no seu nascimento. O Espírito que ungiu a Cristo, unge a cada um de nós. Quero, porém, deter-me um pouco mais na obra que o Paráclito realiza em nós e que é tão característico nestes últimos tempos na vida daqueles que fizeram a experiência chamada de batismo no Espírito Santo.
      Segundo o renomado pregador, o padre Raniero Cantalamessa, no seu livro Vem Espírito Criador, o Espírito Santo nos faz conhecer o Pai e o Filho. Precisamente, faz-nos conhecer o amor do Pai e o senhorio de Cristo. O conhecer o Pai e o Filho não tanto no sentido conceitual, mas experiencial.
      Para aqueles que fazem a experiência do derramamento do Espírito, o Pai deixa de ser Deus impessoal ou indiferente para ser o Pai-nosso, ou o Pai meu. Isso porque recebemos o Espírito do Filho, que em nós clama “Abbá, Pai” (1Cor 8,15). Diz padre Cantalamessa, que como uma mãe ensina o seu bebê a dizer “papai”, o Espírito suscita em nosso espírito a sentimento filial, a certeza de que ele é o “meu Pai”, de modo que ninguém pode mais remover esta verdade assinalado no coração do homem nascido do alto.
      Além de nos fazer reconhecer Deus como Pai, o Espírito Santo, do mesmo modo, faz aquele sobre o qual Ele repousa, reconhecer que Jesus Cristo é o Senhor. A este propósito, São Paulo diz que “…ninguém será capaz de dizer: ‘Jesus é Senhor’, a não ser sob influência do Espírito Santo” (1Cor 12,3). Mas, atenção, que ninguém se engane pois nunca alguém se torna tão livre da escravidão como quando se torna servo de Cristo!
      Este Senhorio de Jesus diz respeito à totalidade do ser. Ele não é senhor apenas da “parte religiosa” do homem, mas é Senhor do homem todo a partir de sua dimensão religiosa. A unção do Espírito imprime caráter, um selo, como se dissesse: “este ser ungido pertence a exclusivamente a Cristo Senhor”.
      A consciência das verdades de que Deus é nosso Pai amoroso e de que Jesus é nosso Senhor, mesmo não percebidas, já eram presentes em nós desde o batismo sacramental, mas vêm à tona na experiência do batismo no Espírito e nasce um novo homem. A partir disso, começa então um movimento que tem o mesmo Espírito como origem, o movimento de retorno para Deus. Agora, é o homem que, no Espírito (e, ao mesmo tempo o Espírito no homem), ama Deus de volta e o deseja com todas as suas forças.
      Neste sentido, cabe aqui um testemunho da vida de Santo Inácio de Antioquia. Este, que na sua viagem na direção do seu martírio, escreveu uma carta aos cristãos de Roma pedindo que não tentassem dissuadi-lo de receber o martírio. Neste contexto, ele escreve o seguinte: “Meu amor está crucificado, a matéria não me inflama, porque uma água viva e murmurante dentro de mim me diz em segredo: “Vem para o Pai”. Esta água a que ele se refere é o Espírito Santo, o mesmo que no fim do livro do Apocalipse clama a Segunda vinda de Cristo: “Vêm” (Ap 22,17), e faz a Igreja dizer “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20).
      Com isso, vemos que é o Espírito que, derramando o amor de Deus em nós, faz com que queiramos amar de volta a Deus. O amor que Pedro não sentiu capacidade de dar ao Senhor quando lhe perguntou se O amava, pode-o dar a Deus no dia de Pentecostes, porque agora não estava só. Agora, era o Amor quem amava em Pedro.

 

Padre Alexsandro Freitas (Pe. Alex)
Membro do núcleo da Comunidade Canção Nova desde 2006. Foi ordenado sacerdote em 2016 e desde este mesmo ano atua como Responsável da Frente de Missão da Canção Nova em Fortaleza.

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