A manifestação da misericórdia divina em Fátima começa nas mensagens do Anjo, em 1916. Na segunda aparição, o mensageiro celeste diz aos pastorinhos: “Orai! Orai muito! Os corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente orações e sacrifícios” (Memórias, 153). Anuncia-se aqui a intenção divina que preside às aparições. Os pastorinhos serão interlocutores para que a misericórdia divina chegue uma vez mais aos homens. O que lhes é pedido neste início é simplesmente oração e sacrifícios, uma oração mais frequente e intensa, e sacrifícios, que, só a pouco e pouco, eles vão entendendo em que consistem. Os instrumentos são muito pobres e fracos para a realização do plano divino. Aos nossos olhos seriam os menos adequados. Também aqui se verifica que os pensamentos de Deus não são como os do homem (Is 55, 8). Deus escolhe o que é fraco aos olhos do mundo para confundir os fortes (cf 1 Co 1,27-28).
A necessidade de uma nova manifestação da misericórdia divina faz-se sentir devido sobretudo aos pecados dos homens. A mensagem das aparições vai insistir muito na condição de pecado em que vivem as pessoas e no risco da sua perdição. No dizer da Lúcia, referindo-se à sua própria missão: “Deus quis apenas servir-se de mim para recordar ao mundo a necessidade que há de evitar o pecado e reparar a Deus ofendido, pela oração e pela penitência” (Memórias, 111). Noutra ocasião, considera que ao dar a conhecer, com os seus escritos, o que recebeu e experimentou nas aparições ficou como que despojada de um precioso tesouro, mas contribui para lembrar a misericórdia divina aos homens: “Assim despojada, ficarei no Museu do Mundo, lembrando, aos que passam, não a miséria e o nada, mas a grandeza das Divinas Misericórdias”. Os dons divinos que ela comunica deverão servir “para avivar nas almas o espírito de fé, de confiança e de amor” (Memórias, 188).
Os desígnios divinos de misericórdia têm as crianças como interlocutoras e primeiras beneficiárias, mas estendem-se à humanidade inteira. Abraçam as nações, o continente europeu em guerra e a Igreja toda. Mas os seus destinatários são também pessoas concretas que vivem em tribulação ou no pecado, a quem Deus quer oferecer a salvação. O próprio Papa João Paulo II interpretou como graça recebida através de Maria o ter sido salvo da morte no atentado de 13 de Maio de 1981, como ele mesmo confidenciou em Fátima: “Vi em tudo o que foi sucedendo uma especial proteção materna de Nossa Senhora” (Saudação em 12 de Maio de 1982, Discursos do Papa João Paulo II em Portugal, 48).