NÃO TENHAIS MEDO

A exortação a não temer, a não ter medo, está presente desde o início dos acontecimentos de Fátima.

Na primavera de 1916, na primeira aparição do Anjo aos pastorinhos, este diz-lhes: “Não temais! Sou o Anjo da Paz”. Na primeira aparição, em maio de 1917, Nossa Senhora começa por tranquilizá-los, dizendo: “Não tenhais medo”. Na aparição de junho, à pergunta de Lúcia se ficará sozinha, após a morte da Jacinta e do Francisco, este “não temer” vem traduzido numa exortação à esperança: “Não

desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”.

Deus vem ao nosso encontro e está conosco

“Não tenhais medo” são palavras que soam hoje com enorme atualidade, desafiados como estamos por um mundo marcado, a vários níveis, por dificuldades e incertezas quanto ao futuro, por pequenos e grandes “medos” que atravessam o nosso quotidiano e os nossos projetos de vida, pessoais e

comunitários. Uma atualidade que se desperta também pela memória ainda viva de uma figura do nosso tempo, o Santo João Paulo II, que pronunciou palavras idênticas no início do seu ministério como Bispo de Roma, ao serviço da comunhão das Igrejas: “Não tenhais medo. Abri, melhor, escancarai as portas do vosso coração a Cristo!”.

Na realidade, esta exortação, este apelo a “não temer” só se entende a partir das raízes mais profundas da experiência cristã. Estamos, de fato, diante de um tópico com inúmeras ressonâncias bíblicas no percurso da história da salvação. Logo nos inícios do Antigo Testamento em relação a Abraão (Gn 15, 1), e com notória regularidade depois, a expressão “não temas” aparece como palavra de um Deus que se aproxima dos seres humanos, que os acompanha com a sua proteção e a sua ajuda na missão que lhes confia, que não os abandona nas múltiplas perturbações que envolvem o seu caminhar na história (cf. Is 41,13-20). Exprime-se assim a confiança fundamental que o crente é chamado a ter no Deus que toma a iniciativa de vir ao seu encontro, sinaliza-se o dom da salvação que Deus, na sua dedicação amorosa, quer oferecer aos seres humanos.

 

José Eduardo Borges de Pinho