A fascinante tarefa que o Senhor nos confia e que a Santíssima Virgem Maria nos recorda em Fátima: sermos profecia para o mundo, mostrando agora e sempre Cristo, o Seu Corpo, aos irmãos, para que, conhecendo a Verdade, possam alcançar a salvação.
Se Deus quer que todos os homens se salvem e alcancem o conhecimento da Verdade, o inimigo de Deus, o demônio – que existe, com presença pessoal e, dramaticamente, sempre operante – quer exatamente o oposto! Isto é, quer que todos os homens se condenem eternamente e permaneçam nas trevas da mentira. Por isso, a Bem-aventurada Virgem Maria, para nosso bem, veio mostrar claramente, em Fátima, a possibilidade real da perdição definitiva, da recusa definitiva de Deus e da Sua salvação. Recordá-lo não é fazer terrorismo, mas sim cumprir um ato de misericórdia, um ato de amor. Acaso poderia a Santíssima Virgem pronunciar sequer uma palavra que não fosse vibrante de amor?
Se Cristo já derrotou definitivamente o mal e a morte, a Igreja, unida a Ele, dá continuidade à Sua obra de anúncio e de salvação.
A oração, e em especial a recitação do Terço – no qual o Santo Nome de Maria, de que também fazemos hoje memória, é repetido em litania e amorosamente –, é, ela própria, um grande exorcismo sobre o mundo; com ela envolve-se numa rede de amor os homens, os lugares e a história, o espaço e o tempo, para que nada fique subtraído à universal vontade salvífica de Deus, e para que os corações, plasmados pelo Bendito Nome de Maria, se abram ao encontro com o Salvador.
Também neste sentido, Fátima ainda não se completou! Porque não se completou ainda a missão da Igreja, que permanecerá viva até ao fim dos séculos, em todas as circunstâncias históricas e apesar de todas as adversidades vindas da cultura e do poder.
Todos os inimigos da Igreja, todos quantos a perseguiram e combateram ao longo dos séculos, já passaram. A Igreja de Jesus ainda aqui está, como a Bem-aventurada Virgem Maria! Ainda aqui está, jovem, forte, rica da fé de tantos filhos seus, adornada com todas as suas orações e obras de caridade, enriquecida por tantos sofrimentos escondidos e oferecidos, que realmente edificam o Reino de Deus, o único novo mundo a que podemos aspirar. É este o melhor dos mundos possíveis! O Reino de Deus não é questão de «comida nem bebida» (Rm 14, 17), não é questão de organizações ou estratégias, de tentativas de solução deste ou daquele problema, ainda que importantes e necessárias.
Há cem anos, quando tudo começou, ninguém poderia ter imaginado que três simples Pastorinhos haveriam de ter uma ação determinante para a história deste país, de toda a Península Ibérica, da Europa, do mundo e da Igreja. No entanto, eis-nos hoje aqui, a testemunhar a verdade da fé e a evidência de que, apesar de tudo, mau grado os inimigos fora e dentro dela, a Igreja vive nas consciências dos homens, nelas progride, nelas dá fruto, e nelas acontece uma e outra vez para a salvação de cada um e da humanidade.
O triunfo do Coração Imaculado de Maria é isto mesmo: o acontecer de Cristo nas consciências dos homens e na história do mundo; o acontecer de Cristo e, com Ele, d’Aquela Mãe que O gerou, oferecendo-O por nós e pela nossa salvação; o acontecer, antes de mais em nós, da salvação que nasce do encontro redentor com Cristo, e que, por isso, através de nós, leva à apresentação ao mundo do Senhor.
Tal como os discípulos depois da Ascensão, também nós fitamos o Céu, e, junto com os videntes de Fátima, vislumbramos o Vulto luminoso de Maria, ícone perfeito da Igreja Una, à qual queremos pertencer, e de facto pertencemos; também nós, obedientes à Vontade de Deus, desejamos que todos os outros homens, que ainda não conhecem o Seu Amor, sejam salvos e alcancem o conhecimento da Verdade, e, por este motivo, sofremos e oferecemos, rezamos e damos testemunho; e é também por esse motivo que estamos aqui hoje, para regressarmos nos próximos dias às nossas casas alegres e seguros.
Card. Mauro Piacenza