O acontecimento de Fátima está desde o início centrado em Deus Trindade. A luz e a beleza que irradiavam da presença do Anjo e da Senhora e inundavam as três crianças eram as mãos estendidas de Deus, que na bondade do seu Amor a todos abraça. A presença de Deus, recorda Lúcia, «era tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos até do uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo. […] A paz e felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima, completamente concentrada a alma em Deus».
Esta experiência tão íntima de Deus não deve ser entendida como simples perceção extraordinária do sagrado ou do mistério. Deus não é simplesmente o arquiteto do mundo ou a chave para explicar a realidade. Deus é Pessoa viva que está próxima das suas criaturas. Os pastorinhos foram protagonistas de um encontro pessoal com Alguém que vinha ao seu encontro, desvelando os seus desígnios de misericórdia: foi assim que compreenderam «quem era Deus, como [os] amava e queria ser amado». Esse Deus que ama e quer ser amado é a Trindade, «que [os] penetrava no mais íntimo da alma». E por isso à Trindade Santa é dirigida uma das orações mais originárias e genuínas de Fátima: «Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente…».
O encontro com Deus é vivido pelas três crianças como fonte de profunda felicidade e alegria. A oração brota, por isso, de modo espontâneo na sua intimidade, como uma disposição constante que há de manter vivo um diálogo que transformara definitivamente as suas vidas. E, desde o princípio, sentem que a adoração é o modo de estar diante d’Aquele que está acima de todos os ídolos que pretendem seduzir os seres humanos.
Fonte: Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa no Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima