Tendo experimentado a misericórdia divina, os pastorinhos procurarão pô-la em prática em relação aos seus próximos, segundo os ensinamentos que receberam tanto nas aparições como pelos conselhos de alguns sacerdotes ou em resposta às solicitações de pessoas em aflição. Na sua aparição, o Anjo ensina-os a adorar e a pedirem “perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam” e não amam a Deus. O mesmo mensageiro celeste disse-lhes que “os corações de Jesus e Maria estavam atentos à voz da súplica deles pelos pecadores (Memórias, 62). Em consequência, sugere-lhes, como forma para praticar o sacrifício, que aceitem e suportem, com submissão, o sofrimento que o Senhor lhes enviasse (Memórias, 62). Também na oração trinitária de adoração, o Anjo ensina-lhes a pedir a “conversão do pobres pecadores”, pela graça da misericórdia divina (Memórias, 63).Eles assim fazem, nada regateando para obterem o arrependimento e a emenda de vida dos pecadores. Tornam-se incansáveis nessa oração misericordiosa.
Curiosamente, também aprendem a viver a misericórdia para com Deus, consolando-o e reparando os ultrajes e pecados com que ele é ofendido por parte dos homens ingratos. A oração, os repetidos atos de oferecimento pessoal e os sacrifícios vividos eram as formas que usavam para com Ele. Eles tinha aceitado esse compromisso sob proposta da Virgem Maria (Memórias, 65).
As crianças exercem também a misericórdia entre si, especialmente nos momentos em que alguma delas passa por sofrimentos: consolam-se, lembram as palavras dos mensageiros divinos e ajudam-se a aceitar e a oferecer o que estão a viver. (cf Memórias, 67-70).
Em relação ao próximo em aflição, a sua misericórdia é notável, sobretudo na figura dos pecadores, dos doentes, dos aflitos e dos pobres. A estes, sempre que os encontram no caminho, dão-lhes a sua merenda. Visitam alguns doentes, conforme lhes pedem, e rezam. Pelos pecadores, oferecem um sem número de sacrifícios que a vida lhes traz e, não contentes com isso, procuram ainda outras formas de se sacrificar. Algumas vezes sentem-se incomodadas e sem saber o que fazer perante os doentes e pessoas em aflição. O que lhes podem oferecer é a sua oração, partilhando da sua dor e intercedendo por eles junto de Deus e de Nossa Senhora. Manifestam verdadeira compaixão pelos necessitados e sofredores.
O que os pastorinhos vivem é um amor à medida das suas capacidades infantis, mas vivido com uma generosidade que vai para além delas. Por vezes, torna-se um amor criativo, que inventa a maneira de agradar àqueles a quem amam, como quando escolhem os sacrifícios de sua iniciativa ou se ajoelham com as pessoas, oferecendo-se para rezar com e por elas. Uma das formas para exprimir o seu grande amor é o acolhimento e a aceitação do sofrimento, em todas as formas com que lhes aparece na sua vida (cf J Guarda, O carisma, 134-135).
Lúcia aceita contar as Aparições, quebrando o segredo que se tinha imposto, vendo que dessa forma, não seria apenas ela, sozinha, a ter o gosto de saborear os segredos do amor de Deus, mas, no futuro, outros cantariam com ela “as grandezas da misericórdia” divina (Memórias, 50).