A reparação na Mensagem de Fátima

 

O convite à reparação atravessa os três ciclos de aparições marianas na mensagem de Fátima. Nas duas primeiras aparições angélicas da primavera e verão de 1916 o Anjo de Portugal pedia já a repara­ção no registo linguístico do sacrifício e da petição de perdão:

«não temais, sou o Anjo de Portugal, orai comigo… fez-nos repetir três vezes estas palavras: –“meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e Vos não amam”». Na segunda aparição no verão no poço chamado Arneiro acrescenta a este registo linguístico o vocabulário do sacrifício, da suportação e da súplica, próprios da piedade popular daquela época: «De tudo o que puderdes oferecei a Deus sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai, com submissão, o sofrimento que o Senhor vos enviar».

Na terceira aparição angélica no outono de 1916, o Anjo continua o convite à reparação, desviando sempre os Pastorinhos de «uma busca direta do sofrimento e do sacrifício, insistindo na aceitação dos aspetos aflitivos da vida», e lê a eucaristia como um sacrifício reparador, como que uma recompensa pelos ultrajes infligidos a Jesus: «… e faz–nos repetir três vezes: – Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espí­rito Santo, ofereço-Vos o preciocíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido… tomai e bebei o Corpo e Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus».

Na primeira aparição mariana de 13 de maio de 1917, Nossa Senhora pergunta aos Pastorinhos se que­rem oferecer-se a Deus «para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-[lhes], em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?». Na terceira aparição do dia 13 de julho desse mesmo ano, Nossa Senhora anunciou em Fátima que «para impedir a guerra [viria] pedir a consagração da Rússia ao [seu] Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos Primeiros Sábados». Na aparição de 19 de agosto pedia o sacrifício reparador da ora­ção: «rezai, rezai muito e fazei sacrifícios por os pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas».

A frase inspiradora para este ano de preparação do centenário é precisamente tirada da segunda me­mória da Irmã Lúcia onde relata o que a Senhora lhe pediu na terceira aparição de julho: «Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria». Esta última devoção veio pedi-la depois no ciclo cordimariano, apare­cendo à Irmã Lúcia a 10-12-1925 em Tuy, Espanha. Nessa altura concretizou-a em práticas muito sim­ples e pedagógicas como a consagração dos cinco primeiros sábados e a recitação do terço: «Olha, minha filha, o meu coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos me cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, procura consolar-me e diz que prometo assistir na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação, a todos os que, no Primeiro Sá­bado de cinco meses seguidos, se confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem um terço e me fizerem companhia durante quinze minutos, meditando nos quinze mistérios do Rosário com o fim de me desagravar». Estas práticas devocionais são reafirmadas nas visões de Jesus nos dois anos seguintes a 15 de fevereiro de 1926 e de 17 de dezembro de 1927. A 13 de junho de 1929 Maria pede a Lúcia: «são tantas as almas que a justiça de Deus condena por pecados contra mim cometidos, que venho pedir reparação: sacrifica-te por esta intenção e ora».