A vida dos Pastorinhos

«Crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens» (Lc 2,52)

Nascidos em Aljustrel, pequeno lugar da Paróquia de Fátima, no início do século XX, os irmãos Francisco e Jacinta e a sua prima Lúcia crescem num ambiente familiar modesto, numa terra agreste, pacata e isolada. Não sabiam ler nem escrever, e pouco saberiam da geografia, da história e do pensamento do mundo que se encontrava para lá da sua serra. Receberam uma educação cristã muito simples, como seria de esperar no ambiente serrano em que viviam. A mãe da Lúcia introduziu a filha e os sobrinhos na catequese, e é a própria Lúcia quem, um pouco mais velha que os primos, lhes contava as histórias bíblicas e lhes ensinava as orações que aprendera da mãe. Contudo, apesar da simplicidade da sua iniciação cristã, os pais não deixaram de lhes oferecer um exemplo de vida de fé comprometida: a participação dominical na eucaristia, a oração em família, a verdade e o respeito por todos, a caridade para com os pobres e os necessitados.

Aos sete anos a Lúcia começou a pastorear o rebanho da família. Algum tempo depois, são os primos que pedem para a acompanhar, guardando também o rebanho dos seus pais. Os três passavam grande parte do seu tempo na serra com as ovelhas, distraídos na alegria da sua infância.

A Lúcia era uma criança desperta para o amor de Deus. Ainda com seis anos, ao receber pela primeira vez o Corpo de Cristo, não hesita em fazer a sua prece: «Senhor, fazei-me santa, guardai o meu coração sempre puro, para ti só» (M 72). O desejo íntimo de ser totalmente envolvida pelo abraço de Deus será o traço contínuo do caminho que percorrerá.

O Francisco, pelo olhar contemplativo com que alimentava o silêncio interior, tocava a natureza como quem toca a criação e se deixa banhar pela beleza do Criador. A paz que daí bebia, transmitia-a aos seus companheiros, para os quais era sinal de concórdia, mesmo na ofensa e na desavença. Deixava-se encantar com o nascer e o pôr-do-sol, que era a sua “candeia” preferida, a candeia «de Nosso Senhor» (M 137).

A Jacinta preferia a “candeia de Nossa Senhora”, a lua, que não fazia doer a vista. A pequena acompanhava de perto a prima Lúcia, por quem tinha um grande carinho. Apreciava as flores que a serra lhe oferecia, colhendo nelas toda a alegria da primavera. Gostava de escutar o eco da sua voz no fundo dos vales, que lhe devolviam cada ave-maria que ela os convidava a rezar. Abraçava os cordeiros, chamava-os pelo nome e caminhava no meio deles com um ao colo, «para fazer como Nosso Senhor» (M 44).

Viviam com intensidade, como só as crianças sabem fazer.

Rezavam também. Os pais tinham-lhes recomendado que rezassem o terço depois da merenda, o que eles não deixavam de fazer, com um jeito muito próprio, percorrendo as contas do mistério com a simples evocação das ave-marias, para finalizar com um profundo e grave «Padre Nosso» (M 43-44). A oração simples de quem invoca um nome. Desta persistência de invocar o nome de Deus, mesmo com a pressa infantil de quem quer brincar, germinará o dom de uma vida acolhida e oferecida em sacrifício.

E, assim, a Lúcia, o Francisco e a Jacinta cresciam em sabedoria, em estatura e em graça.

( Fonte: https://www.fatima.pt  )