«Felizes os puros de coração porque verão a Deus» (Mt 5,8)
Quando numa tarde primaveril de 1916, depois da sua simples oração, os pequenos pastores avistaram, por sobre as árvores, «uma luz mais branca que a neve, com a forma dum jovem, transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do Sol» (M 169), nada lhes faria supor que aquela luz em forma humana fosse o Arauto da Paz de Deus que os iria introduzir na sua escola de espiritualidade e de oração. Era de tal forma inesperado, que os pequenos pastores se sentiram arrebatados na contemplação daquela luz imensa, imersos numa atmosfera intensa em que a força da presença de Deus os «absorvia e aniquilava quase por completo» (M 171).
Por três vezes os visitará, na primavera, verão e outono de 1916, o Anjo da Paz. As suas palavras, que se gravavam no espírito das crianças «como uma luz que [os] fazia compreender quem era Deus, como [os] amava e queria ser amado» (M 170), falam do coração de Deus, um coração atento à voz dos humildes, sobre os quais tem «desígnios de misericórdia». Quando ensina as crianças a rezar, o Anjo convida, antes de mais, à adoração desse coração de Deus, de onde brotará a fé, a esperança e a caridade: «Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos». O convite do Anjo à prostração revela, aos olhos simples das crianças, que a adoração a Deus nasce dessa atitude humilde de se saber acolhido pelo amor primeiro do Criador. Da adoração há de brotar a entrega confiante da fé, a esperança de quem se sabe acompanhado e o amor como resposta ao amor inaugural de Deus, que frutifica na compaixão e no cuidado dos outros.
A última manifestação do Anjo renova o convite à adoração e desdobra-o com um apelo a dar graças – a fazer eucaristia – e a tornar-se dom oferecido pelos outros. O Anjo convida as crianças a adorar profundamente a Santíssima Trindade, unindo-se ao sacrifício de Cristo na reconciliação de todos em Deus (M 170-171). Depois, oferece-lhes o Corpo e o Sangue de Cristo, esse Dom primeiro, à luz do qual elas serão convidadas a oferecer-se em sacrifício por todos os “homens ingratos”, por todos aqueles que não sabem viver como quem dá graças.
A partir de então, os pastorinhos hão de viver imersos nesta adoração de Deus, com um desejo discreto mas convicto de transformar as suas vidas em dom oferecido ao Criador pelos outros. Esta é a sua vocação.
(Fonte: https://www.fatima.pt )