O milagre do sol mostrou que Deus decidiu intervir nas leis natureza e lutar contra o mal
Caros irmãos e irmãs, sou o Cardeal Andrew Yeom, de Seul, na Coreia do Sul. É para mim um grande prazer saudar-vos aqui em Fátima. A minha saudação em coreano, “찬미예수님”– que significa “louvemos Jesus” –, é a saudação que se usava nos primeiros tempos do Cristianismo na Coreia.
Gostaria de exprimir a minha gratidão a Sua Eminência o Cardeal António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, ao Reverendo Reitor do Santuário de Fátima e à sua equipa pelo convite que me foi dirigido e pelo caloroso acolhimento.
No Evangelho ouvimos a narrativa de São Lucas acerca da cura dos dez leprosos (Lc 17, 11-19). Todos eles ficaram à distância na presença de Jesus. Este era o requisito da lei judaica. A lepra era altamente contagiosa e profundamente desprezada na época em que Jesus encarnado viveu entre nós. Alguns acreditavam que era uma punição pelos pecados. No entanto, estes leprosos encontraram a Misericórdia e o Amor incarnados neste dia glorioso da sua cura. Estes leprosos gritaram a oração que deveria ecoar no nosso coração: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Esta oração é o fundamento da tradição da oração no Cristianismo Oriental, chamada a Oração de Jesus. Na sua simplicidade, revela quem é o Senhor e quem somos nós na relação com Ele.
Como reagimos a esta dádiva de uma nova vida? Nós fomos perdoados. A nossa lepra foi purificada. Precisamos de seguir o exemplo de Naamã e do leproso samaritano. Precisamos de dar meia-volta e dar graças a Deus.
Quando alguém nos faz bem, a maioria de nós agradece. Isto são apenas boas maneiras. Quando alguém nos cura de uma doença incurável e nos abre o caminho para a vida eterna, a resposta apropriada será dizer obrigado?! Deus precisa do nosso agradecimento? Não, Deus não precisa de nada de nós. Deus quer o nosso agradecimento?
Sim; e digo isto com convicção, porque afinal que relacionamento nas nossas vidas não beneficia de um agradecimento sincero? Se nunca agradecermos ao nosso cônjuge ou aos nossos amigos, quando fazem algo bom por nós, não estamos a ser um bom cônjuge ou um bom amigo.
Existem várias maneiras de expressarmos o nosso agradecimento a Deus. Uma maneira de agradecer é orando. A nossa oração pode ser tão simples como dizer: “Eu vos dou graças, meu Deus, por todas as bênçãos que me concedestes”. Outra maneira de agradecer a Deus é transmitir a dádiva, partilhando a nossa fé com os outros.
Outro excelente modo de expressar a nossa gratidão é reunirmo-nos em comunhão com outros crentes para celebrar a Eucaristia. Quando celebramos a Eucaristia, estamos a fazer exatamente o que o leproso samaritano fez, estamos a louvar a Deus e a agradecer a Jesus pela nossa salvação.
Como todos sabeis, a 13 de outubro de 1917, aconteceu o “Milagre do Sol” aqui em Fátima. O milagre foi outro sinal e confirmação de Deus de que Nossa Senhora tinha aparecido às três crianças. Naquele dia, após um período de chuva, as nuvens escuras abriram-se e o sol apareceu no céu como um disco giratório multicolor.
Um milagre assim mostra que o Senhor é o Deus do Universo e que está para lá das leis da natureza. Deus decidiu intervir nas leis da natureza e lutar contra o Mal.
Há um ditado que diz que “as nuvens seguem sempre a luz do sol”; significa que existem muitas dificuldades para enfrentar na vida, mesmo nos momentos em que tudo parece estar bem. Contudo, os ensinamentos da Bíblia e as aparições de Nossa Senhora em Fátima dizem-nos que apesar das dificuldades nunca estamos sós. Aprendemos que se as dificuldades existem, Nosso Senhor e Nossa Senhora estarão presentes para nos ajudarem nas nossas necessidades.
Aprendamos a meditar neste mistério. A Virgem Maria protege-nos e tenta fazer nascer Cristo em nós, nas nossas vidas.
Não nos esqueçamos de que na nossa Santa Mãe encontramos a ajuda e o apoio necessários para enfrentarmos os muitos desafios que inevitavelmente enfrentamos enquanto seres humanos.
Em janeiro deste ano, realizaram-se as Jornadas Mundiais da Juventude no Panamá, nas quais tive a honra de participar. O tema das Jornadas era: «Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a vossa palavra». Nestas palavras ouvimos a resposta de Maria a Gabriel. A gloriosa Senhora que apareceu às crianças em Fátima foi a mesma Maria que respondeu «Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segunda a vossa palavra». Como Maria, também nós devemos responder ao Senhor, que chama cada um de nós, com humildade, com confiança, com coragem.
No Evangelho de hoje, apenas um estrangeiro voltou para Jesus depois de ter sido curado. Precisamos de ser como aquele que voltou. Sejamos sempre gratos a Deus pelas suas muitas graças e bênçãos, e lembremo-nos de que a graça e a misericórdia do Senhor estarão sempre presentes, mesmo quando experimentamos dificuldades nas nossas vidas.
Por fim, ao terminar as Jornadas Mundiais da Juventude no Panamá, o Santo Padre anunciou que em 2022 as próximas jornadas terão lugar em Portugal. Envio-vos as minhas calorosas felicitações e incentivo-vos a participardes nestas Jornadas da Juventude. São ocasião para proporcionar aos jovens uma visão de um mundo melhor e encorajá-los a encarnar Cristo no nosso tempo, em que temos de enfrentar tantos desafios para alcançar a paz e a harmonia, pelas quais temos de rezar e trabalhar, tal como Nossa Senhora de Fátima pediu.
Dou-vos a minha bênção e peço que recordeis o povo da Coreia, que tem de enfrentar os seus próprios desafios para conseguir alcançar a paz e a reconciliação. Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós. Ámen.
Cardeal Andrew Yeom Soo-jung, Arcebispo de Seul