Os ecos do Céu
Quando o sol daquele dia 13 de maio de 1917 declinou no horizonte, anunciando a hora de reunir o rebanho e voltar para casa, regressando assim à realidade do dia a dia, cada um dos pastorinhos reagiu a seu modo. Francisco, mais pensativo, nada dizia. Lúcia, um pouco mais velha que os seus primos, já imaginava a reação dos seus pais, familiares e vizinhos se lhes contassem o que tinham visto e achou mais prudente guardar segredo de tudo. Porém, Jacinta, mais expansiva, não conseguia conter dentro de si a alegria que a inundava e não parava de exclamar: “Ai, que Senhora tão linda! Ai, que Senhora tão linda!”
Destas três reações podemos perceber de imediato como eram diferentes as três crianças que Nossa Senhora escolheu para entregar uma mensagem de alento e esperança em tempos difíceis e assim unir ainda mais o céu à terra.
Francisco era o contemplativo do grupo. Amava o silêncio e a tranquilidade. Gostava de estar sozinho a apreciar a natureza e a rezar. Era uma criança diferente. Dava valor ao que realmente interessa. Quando a sua irmã Jacinta o enganava nos jogos e a sua prima Lúcia queria que ele reagisse, a resposta era sempre a mesma: “E a mim que me importa?”. Realmente não importava pois Francisco sabia bem, apesar da sua jovem idade, que tudo tinha pouco valor diante da experiência de céu que tinham tido.
Lúcia era a mais responsável dos três. Era ponderada e por isso a que orientava os primos. Sabia que era preciso agir com precaução diante de tudo o que tinham vivido. Quando Lúcia pediu a Nossa Senhora, na segunda aparição, que os levasse para o céu, a resposta foi: “… tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para me fazer conhecer e amar”. E assim foi. Este “mais algum tempo” foram 98 anos. Nas aparições de 1917, Lúcia ocupa um lugar especial, pois é a única que fala com a Senhora e d’Ela recebe uma mensagem especial para dar a conhecer no futuro. E assim aconteceu, ao longo de toda a sua vida, Lúcia foi a guardiã da memória do evento de Fátima.
A Jacinta era a alegria do grupo. Gostava de saltar, brincar, cantar e dançar. Mas também orgulhosa e com um feitio difícil. Se a contrariassem no que quer que fosse, logo se punha de parte, a “prender o burrinho” como diz a Irmã Lúcia nas suas memórias. No entanto a sua alegria era contagiante e o seu sorriso alegrava os que estavam à sua volta. Vivia a sua relação com Deus imersa nesta alegria. Queria que todos conhecessem Jesus e o seu amor e esforçava-se por testemunhá-lo com a vida. Mesmo na doença, nunca perdeu o sorriso.
Assim eram os pastorinhos. Tão diferentes. Tão santos. Cada um à sua maneira
Assim eram os pastorinhos. Tão diferentes. Tão santos. Cada um à sua maneira foi necessário para que a mensagem de Nossa Senhora chegasse a todos. Francisco com a oração, Lúcia com a perseverança, Jacinta com o sorriso. Os três tinham a virtude que os predispunha a fazer experiência de Deus: a humildade! Foi por essa humildade que Maria Santíssima se lhes revelou de forma tão singular.
Nos pastorinhos de Fátima não se travou a luta entre o lógico e o divino. Para eles, o lógico era o divino. Desde logo perceberam que não estavam enganados e que realmente tinham visto a Senhora e por isso nunca foram capazes de enganar ninguém. Foi por isso que nunca cederam. A sua humildade, como a de todos os santos, era fiel à verdade.
Uma das brincadeiras preferidas de Lúcia, Francisco e Jacinta era sentar-se numa rocha no alto da serra e gritar bem alto para que o eco lhes respondesse. O nome que mais se ouvia era o de Nossa Senhora. Segundo o que conta Lúcia, era comum a Jacinta recitar toda a Ave Maria, pronunciando a palavra seguinte somente depois do eco ter reproduzido totalmente a palavra anterior. Ave Maria… Ave Maria… Ave Maria…
Esta brincadeira de crianças tornou-se numa metáfora perfeita para podermos falar dos pastorinhos de Fátima. Lúcia, Francisco e Jacinta são o eco do Céu. Nossa Senhora sussurrou-lhes ao ouvido palavras de ternura e o convite à oração, e os três pastorinhos fizeram com que todos as ouvissem, repetindo-as bem alto, como eco divino.
Pe. Luís Almeida, sdb