Família da Pastorinha Lúcia de Jesus dos Santos

Família da Lúcia de Jesus

Esse trecho do livro das Memórias da Ir. Lúcia, ela esta a relata sobre a sua mãe, Maria Rosa.

Este retiro conseguia-o poucas vezes, porque, além de ser encarregada da guarda das crianças que as vizinhas nos confiavam, como já disse a V. Ex. cia Rev.ma, minha mãe costumava também fazer por ali como que de enfermeira.

Vinham consultar o seu parecer, quando tinham alguma coisa de menor importância e pediam-lhe para ir às suas casas, quando o doente não podia sair. Ela passava então os dias e às vezes as noites em casa dos doentes. E se as doenças se prolongavam e o estado dos enfermos assim o exigia, mandava as minhas irmãs passar também algumas noites junto deles, para que os membros das famílias pudessem descansar. E se o enfermo era alguma mãe de família que tivesse crianças, cujo barulho que fizessem estorvasse a doente, trazia essas crianças para nossa casa e eu era a encarregada de as entreter. Distraía-as, então, ensinando-as a dobar, com o desandar da dobadoura, com o rolar do caneleiro, com os movimentos do sarilho a formar as meadas e a guiar os novelos na urdideira. Disto tínhamos sempre muito que fazer, porque, por ordinário, havia sempre em nossa casa várias raparigas de fora que vinham aprender a tecedeiras ou costureiras. Estas raparigas pelo regular (regularmente) ficavam testemunhando sempre um grande afeto pela nossa família e costumavam dizer que os melhores dias da sua vida tinham sido os que tinham passado em nossa casa.

Como minhas irmãs, em algumas épocas do ano, tinham que durante o dia trabalhar no campo, teciam e costuravam ao serão. Depois da ceia e da reza que se Ihe seguia, entoada por meu pai, começava-se a trabalhar. Todos tinham que fazer: minha irmã Maria ia para o tear; meu pai enchia-lhe as canelas; a Teresa e a Glória iam para a costura; minha mãe fiava; a Carolina e eu, depois de arrumar a cozinha, éramos empregadas a tirar alinhavos, pregar botões, etc.; meu irmão, para espalhar-nos o sono, tocava harmónio, ao som do qual cantávamos várias coisas. Os vizinhos vinham, não poucas vezes, fazer-nos companhia e costumavam dizer que, apesar de os não deixarmos dormir, se sentiam alegres e Ihes passavam todas as arrelias com ouvirem a festa que nós fazíamos. A várias mulheres ouvi dizerem a minha mãe:

– Que feliz que tu és! Que encanto de filhos que Nosso Senhor te deu!

Tínhamos ainda, no seu tempo, descascar o milho ao luar. Sentavam-me, então, no cimo do monte do milho e era a encarregada de dar a todos os assistentes um abraço carinhoso quando aparecia alguma espiga carocha.

Fonte: Segunda Memória – Ir. Lúcia