Há sempre três aspectos comuns a todos os relatos de aparição.
a) A iniciativa é daquele que “aparece”: nas aparições, aquele que aparece é que toma a iniciativa. A fé é consequência deste encontro com o vidente (aquele que vê). Os evangelistas, mostrando que é Jesus que intervém junto ou no meio das pessoas, quando elas não contam com isso, manifestam assim que não se trata (na aparição) de uma invenção subjetiva (por parte do sujeito que vê) dos interessados, devido a uma fé doentia ou exacerbada ou a uma imaginação desbocada… é fruto da ação e iniciativa daquele que se faz e deixa ver.b) Reconhecimento progressivo: os discípulos descobrem quem é Aquele que se faz ver: Jesus de Nazaré, cuja vida e morte haviam conhecido. Ele que tinha morrido, está Vivo. Mas o modo deste reconhecimento é gradual. Primeiro veem nele um viandante, outras vezes um jardineiro… Só depois é que reconhecem que é o Senhor! Não é fácil ver que é o Messias Crucificado. É que o Ressuscitado está já liberto das dimensões humanas e das condições normais da vida terrestre. Não é carnal. Mas também não é um fantasma. Jesus insiste a Tomé: “Mete os teus dedos”… Isto para provar que o Ressuscitado é o mesmo Crucificado… e não fruto de uma ilusão ou visão doentia.c) Um terceiro aspecto comum a todos os relatos de aparições é o fato de que, reconhecendo o Senhor, os discípulos como que antecipam já em vida a visão do futuro eterno e definitivo. Mas é-lhes lembrado: “porque ficais a olhar para o alto?” A vida continua!
Estes dois aspectos devem sempre ser tidos em conta. Senão pensamos e queremos logo um Jesus Ressuscitado com carne e osso, quando o seu Corpo é um Corpo espiritual, um corpo transformado pelo Espírito. Mas é Corpo, porque o Ressuscitado possui capacidade de presença, de comunicação e de relação.
Destas breves reflexões será bom concluirmos que a narração das aparições pretende transmitir uma experiência real e autêntica, mas tão maravilhosa e profunda, que as palavras e as frases, por muito que digam, dizem sempre pouco. Por isso as aparições não podem ser narradas como se fosse um mero fato ocorrido na esquina da rua. Elas são atuação, de uma presença sobrenatural, cuja expressão escapa à nossa linguagem, demasiado concreta e pouco simbólica. Tudo o que os evangelhos dizem das aparições são apenas aproximações ou tentativas de exprimir uma experiência real, mas quase “indizível” e “historicamente” incomprovável.