Primeira Aparição do Anjo

                                                                                                              

«Subimos esta en­costa em procura dum abrigo e como foi, depois de aí merendar e rezar, que começamos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que se estendiam em direção ao Nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma dum jovem, transparen­te, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do Sol. À medida que se aproximava, íamos lhe distinguindo as fei­ções. Estávamos surpreendidos e meios absortos. Não dizía­mos palavra.

Ao chegar junto de nós, disse:

Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.

E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Leva­dos por um movimento sobrenatural, imitamo lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo Vos. Peço Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Depois de repetir isto três vezes, ergueu se e disse:

Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.

E desapareceu.

A atmosfera do sobrenatural que nos envolveu era tão in­tensa, que quase não nos dávamos conta da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença de Deus sentia se tão intensa e íntima que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a falar.»

 Cada uma das palavras do Anjo e até as da narrativa de Lúcia, mereceriam longo e apropriado comentário e dariam lugar a proveitosa meditação.

Notemos apenas que o Francisco, tal como aconteceu nas futuras aparições de Nossa Senhora, não percebeu as palavras do Anjo.

Diz Lúcia:

 «Na aparição do Anjo prostrou-se, como sua irmã e eu, levado por uma força sobrenatural que a isso nos movia, mas a oração aprendeu-a ouvindo-nos repeti-la, pois ao Anjo dizia não ter ouvido nada.»

E ainda este pormenor significativo:

 «Quando depois nos prostrávamos para rezar essa oração, ele era o primeiro que se cansava da posição, mas permanecia de joelhos ou sentado, rezando também, até que nós acabássemos. Depois dizia: «Eu não sou capaz de estar assim tanto tempo como vocês; doem-se as costas tanto, que não posso.»

 Veremos como mais tarde o Francisco resgatou heroicamente estas pequeninas fraquezas…