A personalidade da Ir Lúcia

Francisco e Jacinta morreram ainda crianças, na primavera da sua vida. Deus quis assim que as futuras gerações vissem neles um modelo de meninos santos. Assim ficarão para sempre. Crianças eternizadas na flor de uma primavera contínua que não conhece verão, outono e inverno. Com o perfume das suas virtudes, atrairão outras crianças e adultos para o caminho da santidade.

Porém Lúcia, a terceira pastorinha, teve a grande missão de anunciar, transmitir e divulgar a Mensagem de Fátima. Vivendo uma vida, caracterizada pela oração e meditação, foi ela que revelou, por escrito, o que os três pastorinhos de Fátima receberam do Céu.

E foi Deus que a preparou para esta missão.

Para formar e exprimir uma ideia, é necessário haver matéria. Que seria da obra do escultor, se lhe faltasse o mármore branco, brilhante e cristalino? Também o mesmo se aplica à pessoa humana: não existindo a sua natureza recebida de Deus e dos progenitores, como formá-la e enchê-la de espírito, como formar a própria personalidade? Existe em cada pessoa humana suficiente natureza, espírito e sensibilidade, só é necessário despertá-los. Na alma sã sempre há sede, mas é necessário conduzi-la para que queira e procure o bem. É necessário mostrar-lhe valores e a missão que ela deve realizar. A realização deve vir do «eu». Da realização nasce a personalidade bela e feliz. «Vita, vita abundantius…» Que tenham vida, e vida em abundância! Por isso Deus colocou a alma de cada pessoa no centro da vida dela.

Uma grande personalidade nasce duma grande missão, dum ideal confiante que se torna dominante para o futuro e lhe fornece beleza e força.

Este ideal na pequena Lúcia de 10 anos surgiu no espírito do Evangelho e chama-se Mensagem de Fátima. Esta, sim, tinha a seiva necessária para fazer da pequena Lúcia uma heroína, e no firmamento deste ideal, nos raios desta beleza, mergulhava a sua alma, contemplando as verdades eternas. A Mensagem que recebeu do Céu e vivia em profundidade, era autêntico brilho do Evangelho, que ela transmitia também para as pessoas com quem convivia, com quem falava e para todos os que hoje lêem os seus escritos. Foi, portanto, o espírito evangélico que transformou a sua sensibilidade na vivência espiritual de que fala o salmo: «O encanto se derramou em teus lábios… Deus te abençoou para sempre… Amas a justiça e odeias a injustiça, por isso Deus te ungiu com o óleo da alegria, preferindo-te aos teus companheiros… à tua direita está a rainha ornada com ouro de Ofir…» (Sl 44, 3.4.8.9.10)

Nesta vivência consistiu a sua felicidade, a sua riqueza e agora também a sua glória!

O espírito da Mensagem tomou conta dela e transformou a sua alma em verdadeira beleza. Tornou-se nela um contínuo fluído. Sentiu que Deus estava com ela, tomava conta dela e a passos certos a conduzia até ao fim, para a vida eterna.

Sempre que me encontrava com a Irmã Lúcia, sentia estar com alguém que convivia conscientemente com Deus, com a Santíssima Virgem, com os seus primos beatificados e que no seu interior continuava sempre a ouvir a voz do Anjo e de Nossa Senhora, vozes que não se podiam apagar. À Mensagem se consagrou inteiramente, dela ficou persuadida, acreditando no que lhe fora dito, e viveu em conformidade com as verdades, em oração e sacrifício. As palavras, os ensinamentos do Anjo e de Nossa Senhora tornaram-se farol para os seus passos e luz para o seu caminho. Habituou–se a tudo cumprir, até ao fim, e tudo guardou nos seus escritos, para que a pudéssemos seguir nós também.

(+ Pe Luis Kondor, SVD)