Durante e após as aparições, a vida dos pastorinhos não foi fácil. Eram incomodados e atormentados de muitas formas. Nessas difíceis situações, a consolação vem-lhe de Nossa Senhora que as acompanha com grande ternura. Ela mesma tinha dito à Lúcia: “Sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus” (Memórias, 162). Este amor materno, reflexo da misericórdia divina, constituiu o seu amparo ao longo da vida de cada um deles, especialmente nas muitas adversidades que sofreram. A Lúcia fala das “lágrimas, por vezes bem amargas”, que choravam, deixando-as cair para dentro da cisterna junto da casa dos pais, onde as crianças brincavam, se refugiavam e rezavam. Diz ela: ”Misturávamos as nossas lágrimas às suas águas, para bebê-las depois na mesma fonte onde as derramávamos”. Em seguida pergunta-se: “Não seria essa cisterna a imagem de Maria, em cujo coração enxugávamos o nosso pranto e bebíamos a mais pura consolação?” (Memórias, 24).
Na verdade, Nossa Senhora tinha-os prevenido de que teriam muito que sofrer, mas a graça de Deus seria o seu conforto (Memórias, 66). Esta promessa é também ela carregada da ternura divina para com eles. Comentava a Jacinta, dando coragem à Lúcia:”Não devemos ter medo de nada! Aquela Senhora ajuda-nos sempre. É tão nossa amiga!” (Memórias, 34). Na penúltima aparição, perante os atos com que os videntes manifestavam o seu amor a Deus, a Virgem aprova-os e corrige-os, moderando algum excesso na prática do sacrifício voluntário, dizendo-lhes para não dormirem com a corda que tinha atado à cintura (Memórias, 77).
Logo na segunda aparição, Nossa Senhora anunciou aos pastorinhos que, em breve, levaria para o céu o Francisco e a Jacinta e que a Lúcia ficaria cá mais tempo (Memórias, 162). Com uma tal ajuda celeste, não admira que eles não tenham estranhado a doença, quando esta os atinge em Outubro de 1918, e a tenham encarado de uma forma admirável, sem deixar de sentirem a dor, a tristeza e derramarem lágrimas por causa da dureza do sofrimento. Mas aí são consolados pelas palavras que Maria lhes tinha dito e pelas visitas que lhes faz nessas difíceis situações. Assim os prepara para os sofrimentos, ampara na doença e os ajuda a enfrentar serenamente a morte (cf Memórias, 43.45.46).
Nos seus escritos, a Lúcia reconhece que ela e os companheiros tinham sido beneficiados com graças da misericórdia divina (cf Memórias, 50.59).