Considerações do cardeal Odilo Scherer
O arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, afirma que a Igreja Católica vê com preocupação a crescente ambiguidade quanto à identidade sexual, que vai tomando conta da cultura.
Em artigo na edição desta semana do jornal O São Paulo, Dom Odilo discute o tema “Homem e mulher Ele os criou”.
O ser humano “não é ‘esta metamorfose ambulante’, que segue vagando pela vida sem saber quem é, o que quer, para quê vive, por que é aquilo que é; nem está preso a um determinismo cego, que o acorrenta aos acontecimentos, sem que ele possa fazer-se senhor das próprias decisões.”
“Cabe-lhe tomar conta de si mesmo e viver de forma responsável, conforme sua dignidade e sua natureza”, afirma o arcebispo.
Segundo Dom Odilo, um aspecto importante desse viver ‘conforme à sua natureza’ “consiste em assumir a própria identidade sexual”.
“Há muita confusão sobre isso na cultura atual e a sexualidade já não é levada a sério, como um fato de natureza, mas é tida como um fenômeno cultural.”
“Nem mesmo a diferenciação sexual entre masculino e feminino é levada a sério; corre muito a idéia de que a identidade sexual é moldada pela cultura e pela subjetividade e que cada um ‘constrói’ a sua identidade sexual.”
“A diferenciação sexual no corpo humano seria apenas um ‘fato secundário’ e contaria mais aquilo que o sujeito decide ser. Identidade sexual seria uma questão de opção”, comenta o arcebispo.
A consequência disso “é que aumentam os comportamentos sexuais pouco definidos, nem masculinos, nem femininos. Sempre mais se fala de homossexuais, bissexuais, transexuais…”
Em tal contexto – prossegue Dom Odilo –, “ser heterossexual, com identidade definida de homem (masculino) e de mulher (feminina) aparece apenas como uma entre as tantas possibilidades e opções quanto à identidade sexual”.
“Não há um grave equívoco nisso? Vai ficar assim daqui por diante? Aonde vai levar isso?”, pergunta o arcebispo.
O cardeal explica que, para a antropologia cristã, “a confusão quanto à identidade sexual, que se espalha sempre mais na cultura, não deixa de levantar uma séria preocupação”.
“Para o pensamento cristão, a diferenciação sexual (homem e mulher) deve ser levada plenamente a sério; a sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na sua unidade de alma e corpo.”
“Ela diz respeito à afetividade, à capacidade de amar e de procriar; de maneira mais geral, diz respeito à aptidão de criar vínculos serenos de comunhão com os outros.”
O arcebispo afirma que cabe a cada homem e mulher “reconhecer e aceitar a própria identidade sexual”.
“As diferenças e complementariedades físicas, morais e espirituais estão orientadas para os bens do casamento e da família. A harmonia do casal e da sociedade depende, em parte, da maneira como se vivem entre os sexos a complementariedade e o apoio recíprocos.”
“A pretensão de mexer nessa harmonia que Deus estabeleceu entre os sexos e de submeter a identidade sexual ao arbítrio da vontade, tão influenciável por fatores culturais e dinâmicas sócio-educativas (ou ‘deseducativas’…), é uma temeridade, que não promete bons frutos para o futuro da humanidade”, afirma.
“Não é possível que a natureza tenha errado ao moldar o ser humano como homem e mulher. Isso tem um significado e é preciso descobri-lo e levá-lo a sério”, enfatiza.
Para quem “deseja a verdade e busca conformar sua vida ao desígnio de Deus”, o arcebispo destaca que permanece “o convite a se deixar conduzir pela luz da Palavra de Deus e pelo ensinamento da Igreja também no tocante à moral sexual”.
“O 6º mandamento da Lei de Deus (‘não pecar contra a castidade’) não foi abolido e significa, positivamente, viver a sexualidade de acordo com o desígnio de Deus”, afirma.
Fonte: Zenit